Dr. Renê: “Hospital Regional caminha para realizar cirurgias de ponte de safena”
Médico-cardiologista Renê Augusto fala da primeira cirurgia cardíaca realizada com sucesso em Santarém.
O médico cardiologista Renê Augusto, que atua no Hospital Regional do Baixo Amazonas, esteve na redação da TV Impacto e Jornal O Impacto, onde concedeu entrevista ao jornalista Osvaldo de Andrade. Na ocasião, Dr. Renê Augusto falou da importância do Hospital Regional para Santarém e demais municípios da região; bem como se reportou sobre a primeira cirurgia cardíaca realizada no HRBA. Veja a entrevista na íntegra:
Jornal O Impacto: Dr. Renê, fale um pouco da alegria que tiveram ao chegar nesse estágio, e como foi essa primeira cirurgia cardíaca?
Dr. Renê Augusto: Tudo foi fruto de uma luta muito grande que se estende há quase sete anos, que estamos buscando conseguir operar os corações dos nossos pacientes aqui de Santarém. Essa não foi apenas a primeira cirurgia cardíaca no Hospital Regional, na verdade, foi a primeira cirurgia cardiovascular fora de Belém. Até então todos os casos cardiológicos que necessitavam de cirurgia cardíaca, os pacientes teriam de ser obrigatoriamente transferidos para Belém, isso acabava gerando dificuldades, apesar da capital do Estado ser grande, os hospitais serem competentes e haver algumas equipes muito boas lá. Porém, a população é muito grande, obtendo uma grande dificuldade de atender todo Estado, gerando demora, angústia, ansiedade e sofrimentos aos pacientes que precisam desse tipo de tratamento. Não só de nossa região, como também para todas as regiões do Estado. Então, conseguindo tratar esses casos aqui do Oeste do Pará, podemos não só ajudar nossa população como também desafogar um pouco e ajudar nos serviços da capital. Foi uma felicidade muito grande em todos os sentidos. Conseguimos aliviar a angústia da família do menino que já havia estado em Belém, e não conseguiu fazer a cirurgia pela questão da fila, pelo número de pacientes, principalmente as crianças que enfrentam as maiores dificuldades, porque não são todos os serviços que conseguem operar crianças e são preparados para isso, tornando a espera bem maior. Conseguimos tirar o menino da fila e provamos que o Hospital Regional do Baixo Amazonas está preparado para oferecer mais esse serviço para população.
Jornal O Impacto: Doutor, fale especificamente dessa cirurgia. Nós que somos leigos no assunto, temos curiosidade de saber os detalhes dessa cirurgia.
Dr. Renê Augusto: O menino tem uma patologia chamada Comunicação Interatrial, ou seja, quando a gente nasce com um coração normal, com duas partes de cima, direita e esquerda, e as duas partes de baixo, esquerda e direita. Antes de nascer na barriga da mãe, nosso coração tem uma comunicação natural entre as duas partes de cima do coração e, quando damos o primeiro movimento respiratório, o normal é essa comunicação se fechar, porque passamos de uma circulação chamada fetal para uma circulação normal pulmonar. Em algumas pessoas isso não acontece, essa comunicação fica aberta e com o passar dos anos, essa situação vai causando uma série de problemas para o paciente. Dependendo do tamanho e da repercussão que esse defeito dá. Então, tivemos que fechar, fazendo um buraco bem no meio do coração, mas não é tão fácil, pois temos que parar o coração para fazer esse procedimento. Instalamos uma circulação chamada circulação extracorpórea, nós colocamos em uma máquina específica a circulação e a parte respiratória do paciente, porque o coração e o pulmão trabalham juntos, ou seja, a máquina faz o papel do coração e do pulmão. Enquanto isso, o coração fica parado e a gente consegue corrigir o defeito.
Jornal O Impacto: Então, no caso desse paciente (o garoto), a cirurgia feita durou mais ou menos quanto tempo? Ele já recebeu alta?
Dr. Renê Augusto: A cirurgia durou em torno de quatro a cinco horas. De coração parado mesmo, nós tivemos 45 minutos. Nós fizemos um campeamento com a circulação interrompida no coração por uns 25 minutos. Ele teve alta no sexto pós-operatório, operou numa sexta-feira, permaneceu até segunda-feira na UTI, se comportou muito bem. Ele teve a presença da mãe dele o tempo todo na UTI e no sexto pós-operatório foi pra sua casa. Inclusive, hoje (segunda-feira) ele fez seu primeiro retorno ao ambulatório do hospital. Ele está ótimo, já fala até em jogar bola, mas ele tem que se recuperar mais um pouquinho. Graças a Deus a operação dele foi a melhor possível, dentro de tudo aquilo que esperávamos.
Jornal O Impacto: Queremos dar os parabéns a toda equipe em nome do Jornal O Impacto e torcer para que todas as pessoas que precisam desse procedimento possam conseguir, pois sabemos que a fila é grande.
Dr. Renê Augusto: O projeto é para que a gente consiga tratar todos os pacientes. Nosso objetivo é não transferir mais ninguém para Belém e conseguir tratar todos os pacientes aqui.
Jornal O Impacto: Dr. Renê, hoje o número de pacientes é grande?
Dr. Renê Augusto: Não consigo lhe informar o número exato, mas temos muitos, não só da nossa Regional de Santarém, mas no Oeste do Pará temos várias regionais, cada uma tem sua fila de pacientes, que são muitos. Mas a direção do Hospital Regional do Baixo Amazonas está muito empenhada e junto conosco nesse projeto. Temos muita fé que em até um ano estaremos operando muitos pacientes aqui em Santarém.
Jornal O Impacto: O Hospital Regional já vem realizando ao longo do tempo outros serviços cardíacos, como cateterismo e angioplastia?
Dr. Renê Augusto: Esses serviços de hemodinâmica funcionam há muito tempo. Eu acredito que em torno de nove anos. As angioplastias, realmente, já são feitas há muito tempo, a grande questão é que existem casos em que a hemodinâmica não consegue e nem tem condições de desenvolver, porque não tinha a cirurgia cardíaca de sobreaviso de resguardo, e a gente oferecendo a cirurgia cardíaca para dar o respaldo necessário, a hemodinâmica consegue evoluir muito no tratamento dos pacientes também. Hoje nós já temos o serviço de hemodinâmica, as angioplastias, há pouco tempo fizemos a primeira cirurgia endovascular aqui em Santarém, onde eu e o Dr. Edivaldo, tivemos a felicidade de fazermos com muito sucesso e agora com a cirurgia cardiovascular nós conseguimos fechar todo esse leque de serviços para o tratamento de toda patologia cardiovascular.
Jornal O Impacto: Também já vimos um caso de transplante de rins?
Dr. Renê Augusto: Exatamente. É um serviço de alta complexidade que demonstra que o Hospital está em condições de atender a população. Estamos expandindo com excelentes resultados. Eu participo da terapia intensiva do Regional e nós conseguimos ver uma resultado muito bom e o projeto da cirurgia cardíaca também consegue ampliar o leque dos transplantes, como, por exemplo, o transplante de fígado.
Jornal O Impacto: O Dr. Renê Augusto é paranaense, nascido na cidade de Londrina e já é santareno por decreto, reside em Santarém há sete anos. Gostaria que o senhor falasse para nossos leitores da qualidade do Hospital Regional do Baixo Amazonas.
Dr. Renê Augusto: A gente costuma receber colegas de fora, que vêm geralmente para conhecer ou desenvolver algum serviço, e por essa vez especificamente, para essa cirurgia. Contamos com a ajuda de um colega de Brasília, Dr. Isaac, grande amigo e excelente cirurgião. Ele é acostumado com os serviços nos grandes hospitais de Brasília, muito modernos. Dr. Isaac ficou muito impressionado com nossa estrutura, nossos equipamentos disponíveis, com o tamanho da nossa unidade de terapia intensiva, com a organização do nosso centro cirúrgico, e a competência da nossa equipe de enfermagem. Ele comentou: “Eu realmente não esperava um hospital desse calibre, dessa qualidade aqui em Santarém”.
Jornal O Impacto: É muito gratificante para nós, recebermos todas essas informações, e mostrar para a sociedade santarena, que o Hospital Regional está funcionando e mostrando serviço não só para Santarém, mas para toda região.
Dr. Renê Augusto: Na verdade, atendemos todo o estado do Pará. Um hospital do Governo do Estado que está aberto a toda população paraense, mas quem é contemplada de fato é a região Oeste do Pará, que é a área de abrangência do nosso Hospital.
Jornal O Impacto: Dr. Renê Augusto, podemos esperar dentro de pouco tempo cirurgias de ponte de safena?
Dr. Renê Augusto: O projeto é esse. A gente conseguindo evoluir com eficácia, dentro de seis meses já se consegue atingir uma complexidade de procedimentos e se Deus quiser em menos de um ano estaremos conseguindo executar esse tipo de procedimento aqui em Santarém.
SAIBA MAIS: O Hospital Regional do Baixo Amazonas realiza as primeiras cirurgias bariátricas no interior: A jovem Andréia Freitas, de 25 anos, foi uma das quatro pessoas que passaram por cirurgia bariátrica (redução de estômago) no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém. Em caráter piloto, esses foram os primeiros procedimentos realizados no Oeste do Pará. A partir da experiência, será feita uma análise sobre os resultados alcançados para verificar a implantação de um programa definitivo. Foram realizadas três cirurgias no dia 31/3 e uma em 2/4.
A realidade brasileira é preocupante. Mais da metade da população está acima do peso, sendo que quase 20% desse público apresenta algum nível de obesidade. Essa situação favorece o surgimento de doenças cardíacas, diabetes, hipertensão, problemas nas articulações, infertilidade e câncer, entre outros. “Além dessas várias doenças, ainda tem o aumento de transtornos psicológicos e psiquiátricos. Quando pensamos que essas pessoas sofrem de uma diminuição da autoestima, da percepção de como elas eram e de como estão atualmente, vemos que tem pessoas que não querem mais sair de casa, não querem ir à praia, a vida social acaba sendo muito comprometida”, diz o endocrinologista Manoel Alvarenga.
Segundo o secretário estadual de Saúde Pública, Vitor Mateus, a obesidade nas suas formas mais graves já é considerada um agravo de saúde pública reconhecido no mundo ocidental e com o desenvolvimento no Pará em decorrência de alguns hábitos alimentares. ‘Hoje, temos na rede pública estadual o Hospital Jean Bitar, uma referência para a cirurgia bariátrica com êxito pleno. Agora, surgiu no Hospital Regional do Baixo Amazonas um pólo na extensão dessa rede de atenção especializada voltada para resolver naquela região vários casos que apontava para a implantação de um serviço multidisciplinar. As primeiras cirurgias realizadas darão conta do acesso a um conjunto de ações à população mais carente, além de diminuir o risco inerente desta patologia. Ou seja, mais qualidade de vida e proteção do paciente que reside em localidades distantes da capital’, revelou Vitor Mateus.
Por: Osvaldo de Andrade
Fonte: RG 15/O Impacto