Índios da etnia Mundurukú protestam na Rodovia Transamazônica
Lideranças estão dispostas a manter interdição até terem suas reivindicações atendidas.
O pátio de triagem das carretas que transportam soja está praticamente vazio. O motivo está a vinte quilômetros do município de Itaituba. O movimento de protesto organizado pelos indígenas da etnia Mundurukú mantém a Rodovia Transamazônica interditada desde as duas horas da tarde de quarta-feira. O protesto apanhou os motoristas de surpresa, e eles tiveram a viagem interrompida.
Não é a primeira vez que os índios Mundurukús realizam manifestação pela mesma razão. No dia 25 de março, eles impediram a realização de uma audiência pública na Câmara de Vereadores, onde seriam apresentados os critérios do Edital de Concessão de Florestas, lançado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Outra audiência que seria realizada no município de Trairão no dia seguinte, também foi suspensa.
Segundo o cacique Manoel Dacê, da aldeia Sawré Aboy, “o governo não respeita os direitos dos índios e também não atende às nossas necessidades; as aldeias estão praticamente sem assistência à saúde e passando por sérios problemas, sem água potável, e também a presença de madeireiros e a exploração mineral estão influenciando no nosso modo de vida. O índio é acostumado a viver tranquilo. Se for feita a concessão de florestas, vêm as motosserras, os madeireiros e o nosso sossego acaba. Queremos demarcação das nossas terras”.
O protesto está acontecendo em um ponto estratégico, segundo as lideranças indígenas. É por onde passam as carretas de soja que vêm do Mato Grosso para os portos de Miritituba. As filas de carretas já passam de quatro quilômetros e continuam crescendo. Segundo os manifestantes, a passagem só é liberada em caso de emergência. Um ônibus que transporta 18 pacientes para tratamento em Santarém foi impedido de passar. Osvaldo Alves Araújo havia programado uma sessão de quimioterapia pra sexta-feira às 07h da manhã, e agora vai ter que remarcar porque não conseguiu seguir viagem.
Os índios estão irredutíveis e o protesto já chega perto de 24 horas de duração. Eles dizem que não vão abrir mão da interdição até que o governo atenda às suas reivindicações. Dentre as exigências mais importantes, estão: a revitalização da Funai, que, segundo os índios, conta com apenas dois funcionários para atender à toda a Regional do Tapajós, e a reestruturação da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), além da demarcação de terras que eles consideram parte de sua reserva. Grande percentual desta terra pretendida estaria dentro das florestas nacionais Itaituba I e Itaituba II, que estão incluídas no Plano de Concessão de Florestas do Governo Federal. “Nós vamos ficar aqui pelo tempo que for necessário. Estão vindo mais indígenas e vamos ficar revezando. Não queremos prejudicar ninguém, mas sim que o governo atenda às nossas reivindicações”, disse o cacique Manoel Dacê.
Fonte: RG 15/O Impacto e Mauro Torres