Pais de alunos cobram do Governador mais segurança nas escolas
Jatene acusado de abandonar escolas. Naldo Almeida, da 5ª URE, reuniu com órgãos de segurança
“A gente paga tanto imposto, eu me pergunto para quê? Não temos nem o direito à educação e à saúde. Esse Governador nos desprezou, abandonou nossa cidade. Minha filha já foi assaltada três vezes, vou repetir, três vezes. Duas vezes foram dentro da escola. Isso é um absurdo”, desabafou à nossa reportagem o trabalhador autônomo João Assis, cuja filha estuda na Escola Plácido de Castro.
A triste realidade de vários educandários em Santarém tem deixado os estudantes e seus pais com os nervos à flor da pele. O sentimento é de completo desprezo com a população, já que há anos, inúmeros problemas estão sem solução.
O caos que se instalou nos educandários da Rede Estadual de Ensino, só não é maior, devido ao esforço dos profissionais da educação e da comunidade. Ao longo dos anos, o que se viu foi muitas promessas por parte do Governo do Estado, e pouca ação efetiva. Reformas iniciadas há mais de quatro anos e que até o momento não foram concluídas; problemas na carga horária de trabalho dos vigias, que deixou as escolas da rede sem segurança nos finais de semana.
Como exemplo da insegurança que atinge as escolas, os pais de alunos que frequentam a Escola Estadual Plácido de Castro já não sabem a quem apelar. O educandário que fica localizado na Avenida Sérgio Henn, bairro do Diamantino, tornou-se alvo de pelo menos três assaltos no ano de 2016, e neste primeiro ano, outros dois assaltos foram registrados. A ousadia dos bandidos é tanta, que eles realizam verdadeiros arrastões em salas de aulas. De posse de arma de fogo e arma branca, eles ameaçam professores e alunos, tocam terror e roubam dinheiro, celular e objetos da escola. É incontável o número de escolas do Estado que tornaram-se alvo dos criminosos.
Para os pais, uma situação tem causado ainda mais preocupação, e pode explicar o aumento da criminalidade nas escolas. O advento do tráfico de droga nas escolas, e é cada vez maior o número de estudantes que são aliciados pelos traficantes. Muitos acabam tornando-se viciados, e para manter o vício, acabam roubando os próprios colegas de escola.
Diante do cenário dantesco, nesta semana, o Diretor da Unidade Regional de Ensino (5ªURE), Naldo de Almeida, mobilizou reunião para tratar sobre o tema. Participaram do evento diretores das escolas e órgãos de segurança, em especial a Polícia Militar, responsável pela Ronda Escolar.
A reunião aconteceu na segunda-feira (15), nas dependências da 5ª URE. Iniciou às 9h, e se estendeu até o fim da manhã.
De acordo com o diretor da 5ª URE, a ideia é somar iniciativas no sentido melhorar a segurança nas escolas. “Queremos estabelecer uma comunicação mais próxima com as entidades que podem contribuir com a questão. Melhorar essa relação é de suma importância, por exemplo, para o trabalho da Polícia”, explica Naldo Almeida.
Para o Comandante do 3º BPM, Ten. Cel. Maués, o trabalho da Ronda Escolar tem evitado muitos crimes. Ele também cita o trabalho desenvolvido por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD). “A Ronda Escolar tem alcançado bons resultados. O que nós precisamos é que a prevenção seja prioridade. A aproximação dos agentes de segurança, dos profissionais da educação, estudantes e comunidade, representa melhor atendimento na sensação de segurança”, disse Cel. Maués.
INSEGURANÇA NAS ESCOLAS: No mês de novembro do ano passado, o Ministério Público de Santarém promoveu audiência pública para discutir o Regimento Escolar das escolas estaduais e municipais. A audiência aconteceu no auditório do Campus Tapajós, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O objetivo foi discutir os principais problemas enfrentados pelas escolas estaduais e municipais, além de mecanismos e soluções para aumentar a segurança.
A audiência foi presidida pela promotora de justiça Lílian Regina Furtado Braga, titular da 8ª Promotoria de Justiça- Educação e Saúde. Todos os gestores das escolas estaduais e municipais de Santarém foram convidados. Por conta dos problemas de segurança identificados no interior dos estabelecimentos de ensino, o MP lançou a discussão no inicio de 2015. Discutir e buscar soluções para a segurança nas escolas faz parte dos procedimentos da Promotoria a partir de demandas trazidas ao MP pelos alunos, que identificaram fragilidades nessa questão, além da infraestrutura, alimentação e outros. A segurança foi definida como uma das prioridades, e acontecimentos recentes, como assaltos dentro e no entorno das escolas, fizeram com que o tema se tornasse urgente.
O Regimento Interno é o instrumento que prevê o funcionamento administrativo da escola e o regime disciplinar. Na consulta prévia realizada com gestores de 22 escolas de Santarém, 20 apontaram a necessidade de atualizar e reformular os regimentos em vigor. Dentre os problemas referentes à segurança, os mais recorrentes são furtos e roubos ocorridos em todas as escolas consultadas; seguido de indisciplina dos alunos, relatado por 13 gestores. Para basear seus procedimentos, 19 dos 22 consultados afirmaram usar as normas do regimento.
Dentre as sugestões que serão apresentadas, incluem-se a necessidade de prever procedimentos a serem adotados em casos de tráfico de drogas, mecanismos de participação das famílias, atendimento psicológico, inserção de mecanismos para evitar evasão escolar, atividades alternativas para alunos suspensos e inclusão de respaldo legal em algumas situações.
O regimento interno prevê o regime disciplinar e tem a finalidade de aprimorar o ensino, a formação do educando, o bom funcionamento dos trabalhos escolares e o respeito mútuo entre os membros da comunidade escolar. Traz artigos sobre as faltas graves e penalidades, regras internas relacionadas às questões disciplinares como uso de eletrônicos, atrasos, fardamento, cuidados com o patrimônio escolar, limpeza, saídas, conselhos de classe e outros. “É o fio condutor das ações internas, com horários, questões de disciplina e outras, e que por vezes não é conhecido ou utilizado de forma adequada”, concluiu a promotora de justiça Lilian Braga.
PRECARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: A insatisfação dos estudantes e profissionais da educação ganhou as ruas de Santarém no mês de outubro do ano passado. A indignação vem desde a questão de falta de infraestrutura das escolas, a falta e/ou distribuição de merenda escolar de péssima qualidade e desvalorização dos profissionais da educação. Também, provocou revolta nos estudantes do ensino médio, a informação de que o Governo Federal, através de Medida Provisória, que retirar da grade curricular, disciplinas tais como: educação física e artes, que hoje são obrigatórias.
O protesto teve inicio às proximidades do viaduto. Com faixas, cartazes e discursos em carro de som, os manifestantes mostraram toda a sua indignação referente à precarização da educação imposta pelos governos.
“Estamos protestando para demonstrar e chamar a atenção da sociedade sobre o que está acontecendo no Brasil, no Pará e também em nosso município. Estão propondo um processo, culpando a educação, culpando os trabalhadores por essa crise. Os nossos políticos, principalmente os corruptos, criaram esta situação e agora estão querendo penalizar a educação”, desabafou na época o professor Carlos Assis, vice-presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação de Santarém (Sinprosan).
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto