Padre Ademar: “Rádio Rural é um marco na comunicação e educação em Santarém”
Padre Ademar Ribeiro desmente notícia de que Rádio Rural iria fechar as portas
A Rádio Rural de Santarém completou no último dia 05 de julho, 53 anos de fundação. Uma história de sucesso e grande influência no seio das famílias da Amazônia, com uma programação totalmente voltada à família, educação e evangelização. Para contar um pouco mais dessa história e os novos desafios que estão vindo por aí, conversamos com o pároco da Igreja de São Francisco de Assis, no bairro do Caranazal e atual diretor da Rádio Rural, Padre Ademar Ribeiro.
Na ocasião, Padre Ademar faz um relato sobre a origem da Rádio Rural e sua trajetória. “Estamos celebrando os 53 anos da Rádio Rural, que foi inaugurada no dia 05 de julho de 1964. Nessa época nós tínhamos exatamente um contexto de igreja que estava ressurgindo, que foi algo de fundamental importância para o mundo, que foi o Concílio Vaticano II. Naquela ocasião, nosso bispo Dom Tiago Ryan participou de todas as sessões em Roma. Sabemos que o Concílio Vaticano II trabalhou nessa dimensão da evangelização voltada para o mundo e entende-se que naquele contexto, ele mesmo sabiamente compreendia que o meio de comunicação, o rádio, principalmente aqui no meio da Amazônia, seria muito importante. Então, todo o esforço que ele dedicou foi justamente para constituir esta rádio, não somente como um meio de entretenimento, mas que fosse um instrumento para promover a evangelização aqui na Amazônia. Por isso o nome “Rádio de Educação Rural” e naquela ocasião, sabíamos que o analfabetismo era bastante grande. Então, Dom Tiago se preocupou, constituindo professores através do MEB (Movimento de Educação de Base) com o objetivo de que a rádio pudesse se tornar um instrumento para se chegar até o interior. Na época, foram comprados os rádios, e os monitores que foram justamente organizados para que se pudesse por meio do rádio servir também como meio de educação. Essa experiência se perdurou entre o MEB e Rádio Rural até 1998 e muitas pessoas são testemunhas da importância do MEB como instrumento de educação. Por isso, a Rádio Rural surgiu com esse intuito de favorecer a educação, claro que também a perspectiva da evangelização estava inserida nesse contexto, que o Concílio Vaticano II estava propondo, pois a igreja tem que dialogar com o mundo e não deve ficar restrita às sacristias. Hoje nós estamos completando 53 anos apostando e nos aperfeiçoando cada vez mais, e nós reconhecemos a grande importância da nossa Rádio Rural. É evidente que os desafios de hoje são muitos, mas eu acredito que teremos os meios necessários para que possamos dar continuidade nesse projeto tão importante que foi constituído justamente naquele momento por Dom Tiago, depois veio Frei Juvenal e tantos outros que somaram para o sucesso desse sistema tão importante”, disse Padre Ademar.
Hoje a maioria dos santarenos e parte da região Oeste do Para tem um grande carinho pela Rádio Rural. Quem nunca ligou o rádio cedinho, cinco horas da manhã, para saber as notícias quentinhas? Porém, nos dias de hoje a tecnologia está avançada e os ouvintes exigem uma melhor qualidade na recepção no áudio. “Diante da lei estabelecida em 2015 pelo Governo Federal, as rádios AM do Brasil deviam, nos próximos cinco anos, fazer a sua migração para FM. Tratava-se de uma alternativa, não significava que toda a era AM iria se transformar em FM, dependia daqueles que eram seus responsáveis, no caso de nós aqui a Diocese de Santarém. Diante da realidade do Brasil que estamos vivendo e que isso de certo modo depende de decisões do Governo Federal, nós assinamos o propósito de migrarmos para FM. Se não me engano, foram liberadas no mês de março deste ano, 267 rádios, sendo que no Brasil atualmente existem mais de mil rádios, e nós estamos na dependência e esperamos que seja assinada esse aceite que propomos, que a Rádio Rural se torne FM. Na época da gestão do Padre Auricélio, todo o processo foi encaminhado para Brasília, foi dada a entrada no Ministério das Comunicações, nós esperamos que agora no mês de julho o Ministério libere um novo lote de rádios e que possamos estar inclusos nesse lote. Nós articulamos essa situação com os padres em fevereiro, durante uma reunião que o Bispo fez. Aqui nós estamos sensibilizado as comunidades, onde no Cristoval deste ano suscitamos essa informação às pessoas (fiéis), para que eles tivessem consciência da importância da rádio se tornar FM, sabendo que os custos são bastante altos e que para isso precisamos assumir em conjunto, e nós sabemos que não é tão fácil. Nós vamos fazer realmente as buscas por meio das paróquias, por meio da disposição das pessoas que acreditam da importância desse meio de comunicação, mas tenho certeza que logo que seja liberado o processo da migração teremos um custo bastante alto, se não me engano, em torno de 150 mil reais e nós teremos que ter esse valor imediatamente sem parcelamento. Para falar a verdade, não temos esse dinheiro, mas eu acredito em Deus e que esse dinheiro está nas mãos dos nossos irmãos”, declarou o diretor da Rádio Rural.
Ao ser questionado com relação à potência que hoje a Rádio Rural opera, com 15 quilowatts, abrangendo muitos municípios, inclusive chega a outros estados, se quando migrar para FM, ela vai continuar com esse mesmo público e se hoje já existe algum equipamento instalado no prédio da Rádio Rural? Padre Ademar foi enfático: “Para FM ainda não temos nenhum equipamento. Com relação à abrangência, nós temos além das redes sociais, os aplicativos, que favorecem, principalmente para quem viaja pelo Brasil afora, que é uma alternativa, inclusive a qualidade é excelente. O intuito nosso é exatamente fazer estudo quanto a isso, de que forma nós poderemos ter essa abrangência e que possamos estar cientes que não será só mais uma rádio. Nós teremos um diferencial como se tem aqui como as outras rádios. Mas a Rádio Rural não pode perder exatamente o seu foco na evangelização, a partir daquilo que realmente são os princípios da igreja. Quanto a isso nós teremos que trabalhar, trazendo um corpo técnico para fazer esse acompanhamento. Havendo a necessidade nós temos a certeza que iremos fazer o atendimento e ao mesmo tempo a sua abrangência com a potência que nós temos hoje, mas eu digo que já temos esses recursos tecnológicos e mais modernos”, declarou.
Algumas pessoas especulam, principalmente nas redes sociais, sobre a crise financeira que o País enfrenta hoje, por isso perguntamos ao Padre Ademar se existe alguma possibilidade da Rádio Rural ter suas atividades encerradas e até mesmo de ser vendida. “Quero dizer que mesmo diante da crise que o País tem vivenciado, sendo que Santarém sempre teve essa dificuldade, a Rádio Rural tem enfrentado dificuldades financeiras, isso é fato. Também temos outras dificuldades, por exemplo, quando um raio atinge nossos transmissores, temos sempre que nos virar. Não conseguimos apenas com os comerciais nesses últimos anos manter nossas despesas, mas isso não impede de darmos continuidade. De maneira alguma isso vai acontecer. Eu tenho certeza que iremos fazer a superação disso e, com os ajustes da migração, algumas despesas serão diminuídas. Hoje nós temos um quadro de 25 funcionários, mas também temos outros que assumem os programas religiosos, onde todos são voluntários, nenhum programa desse é pago. Então, eu acredito que tudo se trata de gestão e administração. Hoje sabemos que mesmo uma empresa sendo tão grande, ela vai adequando seu quadro de funcionários para que se possa fazer uma atendimento à altura. É isso que nós temos que fazer com a Rádio Rural de Santarém. Mas extinguir os serviços da rádio, eu tenho certeza que não e nem Deus deseja que isso aconteça. A Rádio como costumamos dizer, é a maior paróquia da Diocese de Santarém, e nenhuma paróquia irá fechar, muito pelo contrário, o Bispo tem feito a abertura de novas áreas pastorais, novas paróquias, em torno de 8 paróquias, ou seja, pensamos em crescimento, e é de fundamental importância para nós um veículo de comunicação como a Rádio Rural”, finalizou Padre Ademar.
Por: Allan Patrick
Fonte: RG 15/O Impacto