Marreta – Uma vida dedicada à música em Santarém

Antônio Lisboa Paixão marca história no setor musical da Pérola do Tapajós

Nesta semana para a TV IMPACTO e Jornal O Impacto, o jornalista Osvaldo de Andrade entrevistou mais um destaque da cultura santarena. “Um convidado muito especial, trata-se de uma grande figura do meio musical santareno, o nosso querido amigo Antônio Lisboa Paixão, conhecidíssimo como “Marreta”, uma das pessoas que está atuando no mais longo período no ramo musical santareno. Ele começou como baterista, e hoje comanda a sua Banda Tapajoara. Para se ter uma ideia, só de Banda Tapajoara já tem 50 anos de existência. Acompanhe abaixo a entrevista:

Jornal O Impacto: Vamos comentar um pouco da sua história, aproveitando que a TV Impacto, hoje alcançando públicos mundialmente através da internet, muitas pessoas inclusive que são da região e que lhe conheceram, que no momento estão fora do País, e que devem estar satisfeitas de ver você nesse momento e ouvir um pouco da sua história.

Marreta: Na verdade, nós dois temos um história. Já trabalhamos juntos por muito tempo, inclusive você foi um dos integrantes da Banda, como empresário. Foi um tempo bom e até hoje estamos lidando com a música, são 50 anos só de Banda Tapajoara, tocando em todas as cidades do Pará e Amazonas, levando a música santarena nesses locais.

Jornal O Impacto: Você faz parte de uma família tradicional de músicos. Seu pai, seu tio foram músicos, tinham um conjunto, então, foi ali que começou?

Marreta: Justamente, meu pai foi músico, meu avô também era músico, era trompetista, João Paixão e depois veio meu pai, meu tio Mimi Paixão, meus irmãos, todos músicos, sobrinhos e assim veio a outra geração. Em 1967, surgiu a ideia de fazer uma banda, antes eu tocava em festivais musicais de colégios e depois surgiu “Os Brasas”, que na época, quem formou esse conjunto foi o Laurimar Leal, tinham componentes como Ray Brito, o Rato, um cidadão que chamávamos de “Capivarinha”, Carlos Riker, Diogo. Depois surgiu a ideia de se fazer uma banda bem jovem, na época a gente saiu do festival do Cine Olímpia, trocamos aquela ideia, de montar uma banda, lembramos do Aluízio, o “Rato”, bom de guitarra e contrabaixo, Jorge Marcião; “Marreta”, bom de bateria, na verdade não seria eu no comando da bateria que inclusive estava começando, mas não tinha outro, e a ideia seria de ser só jovens. Então, eu abracei o negócio, foi para frente e, desde 1967, exatamente no dia 19 de abril, começou essa carreira artística, já como profissional, trabalhando muito. No começo não foi nada fácil, era muito difícil conseguir instrumentos, e naquela época, nós fizemos um empréstimo no Banco da Amazônia, sendo que para conseguirmos esse empréstimo foi aquela famosa burocracia, mas conseguimos, e compramos os instrumentos, e isso foi o pontapé inicial. Na época, a banda era boa, eram músicos da melhor qualidade, inclusive o repertório da época era a “Jovem Guarda”. Desde então vieram outras formações, foi mudando, outros conjuntos foram surgindo, mas tinha outro conjunto que se destacava, “Os Hippies”. Foi engraçado, nós inauguramos no dia 19 de abril e o Odilson inaugurou “Os Hippies” dia 20 de abril, nós somos apenas um dia mais velhos que “Os Hippies”. Éramos concorrentes, as bandas de grande aceitação na cidade eram “Os Hippies” e “Tapajoara”, inclusive, houve uma época em que meus componentes fizeram vestibular e passaram, e foram todos estudar em Belém, pois naquele tempo não tinha faculdade aqui em Santarém. Nesse período saíram quatro componentes, Ercílio, Valentim, Chico Pinheiro e Ronaldo Magno. Eles eram seminaristas, já havia uma república dentro da cidade, e nós conseguimos uma autorização do Seminário, onde na época fizemos várias reuniões por lá, mas passaram no vestibular e tiveram que ir para Belém. Praticamente, acabou a banda, tive de correr atrás de outros talentos, mas era difícil. Eu até cheguei com o Odilson Matos, o interessante é que nós éramos grandes concorrentes, mas nos respeitávamos, houve tanto respeito que eu queria vender meu equipamento para ele, mas ele me disse: “não, Marreta, arruma uns caras e toca só no nome”. Então, foi aí que surgiu uma série de garotos aprendendo mesmo e nós fomos batalhando. Eu recordo que nessa nova composição, o Pedrinho, tecladista, hoje falecido, foi para a Suíça, inclusive tocava por lá o Plínio, irmão dele; Antímio Figueira que hoje é professor, e vários outros que surgiram e a banda continua.

Jornal O Impacto: Vamos falar um pouquinho daqueles momentos de muita luta e expectativa de não apenas atender ao mercado local, mas de expandir. Eu recordo que vocês lutavam, tanto “Os Hippies”, quanto a “Tapajoara”, para tocar em grandes eventos em bares tradicionais em Belém, Manaus. Como é que foi?

Marreta: Essa foi uma época em que bandas de Santarém, como “Tapajoara” e “Os Hippies” estavam no auge, e nós fomos várias vezes solicitados para tocar em Belém. Toquei no baile de formatura da Polícia Militar, na época eu tinha um irmão que era Coronel da Polícia; tinham também as festas de debutantes das filhas dos militares em Belém, nós fazíamos no Pará Clube. Geralmente todo ano, nós íamos fazer o Baile dos Paraenses em Manaus, que por sinal dava muito paraense, que dava até a impressão de que nós estávamos tocando em casa. É muito interessante, tem pessoas que não vêm aqui em Santarém há 20 anos, quando tocamos as músicas do Isoca, então, os santarenos caem no choro. É muito bom.

Jornal O Impacto: Nesse período em que os conjuntos musicais viajam de barco e de avião, se deslocam para o interior e vão para outra cidade, existe aquele convívio entre os músicos, integrantes das bandas e momentos de descontração. Você se lembra de um momento engraçado que marcou essas viagens?

Marreta: Têm vários, mas eu me recordo da história do “Jerimum”. Na época tinha um amigo meu que tinha uma banda, Zeca Batista, grande saxofonista, que inclusive tocou comigo. Ele me contou que ia tocar em um baile no Piraquara, que é uma comunidade que fica na divisa com o município de Juruti, ele foi perguntar ao dono do barco que horas iríamos chegar. O dono do barco respondeu que iria chegar às 06 horas. Então, Zeca Batista pensou: “tenho que comprar almoço para a turma comer”. Ele chegou no barco, não tinha achado peixe e nem carne, então, comprou uns cinco quilos de fígado, chegou com o cozinheiro e disse: “você pode preparar esse fígado?”, e o cozinheiro disse: “pode deixar que eu faço”. Só que o cara não entendia nada de cozinha e, Ele não tirou aquela pelezinha do fígado, cortou tudo em pedacinhos e colocou para cozinhar. Quando Zeca Batista se acordou, onze e meia, perguntou: “está pronto?”, o cozinheiro respondeu: “tá quase pronto”. Zeca abriu a porta da cozinha e a panela estava espumando, então, ele perguntou para o cara: “tu é doido, o que foi que tu fizeste aí, por que tu não fizestes os bifes cara?”, e ele respondeu: “mas não tinha nem jurumum… risos”.

Jornal O Impacto: E hoje a banda está no auge. Quero registrar que eu estive lá na minha terra, inclusive até convidei meu diretor Rafael Duarte para participar da festa da Padroeira, no final de semana, agora dia 30 de julho. Ele não foi, mas encontrei você por lá, sua banda estava fazendo a animação.

Marreta: Foi um sucesso. Fazia tampo que não íamos tocar na festa de Santana. Eu fiquei muito feliz de rever os amigos. Você estava lá e muitos amigos que tenho no Arapixuna. Por sinal foi uma baile muito bonito, o Distrito de Arapixuna está de parabéns por ter feito baile daquela magnitude.

Jornal O Impacto: Marreta, eu não posso deixar de falar. Já estive conversando aqui com Edinaldo Mota, que por sinal é seu amigo também, que na época em que eu era empresário da sua banda ele era empresário da banda “Os Hippies”, mas era uma concorrência leal. Era um abrindo, muitas vezes, espaço para o outro, porque naquele tempo tinham poucas bandas e aí o calendário estava fechado. Para conseguir, tinha que programar com bastante antecedência. Para se ter uma ideia, a gente vendia o carnaval para o Fluminense e São Raimundo, com um a dois anos de antecedência, porque na época tinha muita dificuldade de se formar um banda com instrumentistas, muitas vezes tinha que buscar instrumentistas de sopro em Belém. Tivemos por aqui Sinval Ferreira e Jorge Carlos, profissionais do rádio, e eu digo que quando vem aqui, se torna uma boa oportunidade dos amigos se reverem e para aqueles que não conheciam, passem a conhecer seus trabalhos, e na vida particular.

Marreta: Eu quero agradecer por esse trabalho que vocês têm feito. Trata-se de um trabalho que vai para o mundo todo, e eu acredito que a partir de agora vou ficar conhecido internacionalmente…risos.

Jornal O Impacto: Aliás, me contaram que durante o período que você estava em Belém os diretores lá do hospital ficaram agoniados para saber: “quem é esse cara?”, porque quando as pessoas souberam que você estava internado para fazer a cirurgia, aí começaram a visitá-lo, pedir informações. Foi isso mesmo?

Marreta: Com certeza, porque eu acho que foi muita gente pedindo para cuidar do “Marretinha”, e todos ao verem aquilo, se perguntavam, “quem é esse cara muito importante?”

Jornal O Impacto: Mas você é muito importante para a música, para os seus amigos, para sua família e por isso que nós lhe trouxemos aqui. Muito obrigado pela entrevista e que Deus continue lhe abençoando.

BLOCO SÓ FULERAGEM

Antônio Lisboa Paixão “Marreta”, além de ser o fundador da Banda Tapajoara, decidiu fundar um bloco de carnaval, para levar entretenimento àquelas pessoas que trabalham durante os dias de Momo para levar diversão às pessoas. Marreta decidiu fundar o Bloco “Só Fuleragem”, que desfila pelas ruas de Santarém na quarta-feira de cinzas.

O tradicional Bloco “Só Fuleragem”, tem sua base formada por músicos que trabalham durante os dias do carnaval, e na quarta-feira de cinzas saem na folia.

Durante o percurso a multidão que aos poucos vai chegando e engrossando o Fuleragem, segue pelas ruas do centro da cidade e vai dobrando esquinas, subindo ladeiras, baixando avenidas com seus foliões e brincantes.

Antônio Lisboa (Marreta), baterista e fundador do bloco, vem mantendo a tradição que já dura mais de 11 anos, às vezes com recursos próprios, doação de amigos e a parceria de empresários que até participam do Bloco. O “Só Fuleragem”, vem ganhando brincantes e simpatizantes a cada ano que passa.

O Bloco este ano novamente mostrou que não precisa de dinheiro público para fazer um excelente Carnaval, bastando apenas planejamento, organização e força de vontade para colocar os brincantes na rua.

O Bloco “Só Fuleragem” é sucesso absoluto, pois é o único bloco que sai na quarta-feira de cinzas, sendo puxado por sua “base de metais” de primeira qualidade, empolgando a multidão.

Por: Alan Patrick

Fonte: RG 15/O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *