Laudenor: “Temos que acabar com mordomias do Legislativo, Executivo e Judiciário”
Laudenor Albarado diz que as pessoas vão se viciando e se habituando na corrupção
É lamentável a história que vem se estendendo há semanas, onde os familiares das vítimas do acidente com empurrador da Bertolini no Rio Amazonas estão passando por um drama que tem provocado um sentimento de indignação. Os familiares cobram desesperadamente das autoridades e das empresas responsáveis, respostas e soluções para esses problemas, chegando ao ponto de interditarem ruas clamando por justiça. Das nove famílias que estão sofrendo nesse período de agonia, oito delas estão sendo representadas pelo professor Laudenor Albarado, que tem lutado por seus direitos. Laudenor Albarado concedeu entrevista à nossa reportagem, na manhã da última quarta-feira (16) no Quartel do Corpo de Bombeiros, onde houve mais uma reunião sobre o acidente. Muitas autoridades estiveram presentes, juntamente aos familiares e representantes da empresa Bertolini. Além do acidente envolvendo a empresa Bertolini, Laudenor falou sobre a prisão do vereador Reginaldo Campos e sobre o corte no fornecimento de combustíveis à Câmara Municipal. Veja a entrevista:
Jornal O Impacto: Sobre esse acidente e o drama em que as famílias das vítimas do acidente estão passando, o que o senhor tem a falar?
Laudenor Albarado: Estou aqui, ao lado do meu amigo Valtenes, que é irmão do capitão que conduzia o rebocador. Minha opinião pessoal sobre esse fato, é a seguinte: Toda empresa que navega, que corre do risco de acidentes, ela obrigatoriamente deve ter um plano de emergência para salvamento, para quando ocorrer um acidente e, logo no primeiro ou segundo dia, para que se possa salvar as vidas, e lamentavelmente nós não conseguimos ainda ver a aplicação desse plano.
Jornal O Impacto: E sobre o desenrolar desse processo de salvamento das vítimas. Qual sua opinião?
Laudenor Albarado: A primeira coisa que nós precisamos compreender é que houve um acidente entre duas embarcações. E a embarcação maior, que tinha maior visibilidade, que possuía maiores recursos de manobras, subiu na última balsa e esta embarcação foi embora. Eu não vi essa embarcação prestar socorro, parece-me que ela omitiu socorro e trata-se de um fato grave. Nós não conhecemos de onde é essa embarcação, não conhecemos que representa essa embarcação e tudo indica que houve omissão de socorro, por que eles estavam no local e agora contrataram uma empresa da Holanda para tirar o navio de cima da balsa, mas a mesma empresa também poderia ter dado assistência ao resgate das vítimas, porém, ao invés disso foi embora para Manaus, ou seja, o ferro foi mais importante do que as vidas que estão lá no fundo do rio. Na minha opinião, houve um desrespeito muito grande no que diz respeito a essa questão de omissão de socorro. A embarcação poderia até ficar lá como uma plataforma de apoio para as pessoas trabalharem lá, mas ela foi embora. Para isso nós vamos reivindicar uma multa diária junto ao Ministério Público Federal, pedir para a Justiça, para o Juiz, cerca de meio milhão ou um milhão de reais ao dia para as famílias, porque se não for assim não vai. É a única maneira que nós temos para exercer a pressão, para que cuidem melhor do ser humano.
Jornal O Impacto: Professor, o senhor é uma pessoa muito influente em Santarém, inclusive foi Vereador e teve uma passagem muito atuante na Câmara Municipal. Aproveitando o espaço, pedimos sua opinião sobre o escândalo envolvendo a prisão do vereador Reginaldo Campos.
Laudenor Albarado: Lamentavelmente, o Brasil criou esse hábito, esse vício da corrupção. Em todas as mais de cinco mil e quinhentas cidades do País isso existe. E infelizmente, as pessoas vão se viciando, se habituando também na corrupção. Se o Ministério Público comprovou que na Câmara de Santarém ocorreram essas irregularidades, é natural que tenhamos que quebrar esse vício. Mudar essa cultura, porque a coisa pública, pertence ao público, não pertence a ninguém. Quando estive na Câmara, a gente verificava perfeitamente, tanto os prefeitos, como os vereadores, tomarem conta da coisa pública, como se fossem deles. Eles nunca imaginaram que isso era da população, para servir à população. Eles pensavam em si, compraram casas de luxo, compraram terrenos diversos, e não estou me referindo apenas ao Reginaldo, compraram propriedades, com o dinheiro da população. Então, é preciso que a população verifique que o voto é a coisa mais importante. Essa última eleição, segundo comentários, foi a que mais se comprou votos, ou seja, três votos a R$ 600,00. É um absurdo a gente não conseguir localizar, não conseguir apurar. Não existe liderança verdadeiramente representativa. Existe sim lideranças compradas. Esse é um problema, pois a gente não avança culturalmente e nem do ponto de vista do desenvolvimento social ou qualquer outro que seja.
Jornal O Impacto: Na sua opinião, deveria também ter uma investigação com as presidências anteriores da Câmara?
Laudenor Albarado: Com toda certeza. O efeito dominó. Para verificarem o que aconteceu no passado.
Jornal O Impacto: Na sua vida política, você já tinha observado um escândalo deste aqui em Santarém?
Laudenor Albarado: Sim! Eu denunciei um maior que esse. Nós fizemos uma matéria e saímos na capa da Revista Isto É, na capa da Revista Veja denunciando a corrupção que havia naquela época. E todo mundo soube. Então, nós já vivenciamos isto, inclusive sofremos muita represália, em decorrência desta denúncia.
Jornal O Impacto: Com relação à suspensão da resolução que libera combustível para veículos de vereadores. Você acha que realmente teria sim, de ser liberado combustível para uso dos parlamentares?
Laudenor Albarado: Quando eu fui Secretário Municipal de Cultura, que inclusive criei os botos em Santarém naquela época, eu usava o meu carro e com o meu dinheiro abastecia, pois a Secretaria não tinha carro naquela época. Quando eu fui Vereador eu usava o meu carro e abastecia com o dinheiro que eu ganhava, por que? Não existia recursos para o combustível e eu acho que deveriam acabar com o auxílio moradia, tem que acabar com o auxílio petróleo, ou seja, acabar com todas essas mordomias, não só do Legislativo, como também do Executivo e também do Judiciário, que são os três poderes com lotação orçamentária anual. Então, é preciso que o Brasil tente igualar as pessoas, o médico não é mais importante que o gari, nem o gari é mais importante que o médico; nenhum juiz é mais importante que o jogador, como o jogador não é mais importante que o juiz. Esse é um trabalho, um processo que nós temos que fazer para organizar melhor essa igualdade entre as pessoas.
Jornal O Impacto: Tem um atual assessor da Câmara que foi preso na operação “Perfuga”. Diante dessa situação, você acha que a presidência atual deve ser investigada?
Laudenor Albarado: Acho que todos, não só em Santarém, mas no Brasil todo tem que ser ums investigação permanente. Não pode ser feita só agora. Nesse ponto o Ministério Público tem que avançar, os conselhos estão aí para investigar, mas não investigam e o Ministério Público tem que agir para saber sobre a utilização do dinheiro público.
IRMÃO DE VÍTIMA FALA SOBRE O DESCASO: Nossa reportagem também entrevistou o senhor Valtenes Rego, irmão de Darcío Vânio Rego, uma das vítimas do acidente e que era imediato do empurrador que naufragou. Valtenes falou sobre a visão do outro lado do acontecido, o lado da família das vítimas, falando com muita tristeza em seu semblante: “É angustiante essa demora, saber que poderiam ainda ter vidas lá embaixo. Até agora nós ainda temos esperança, mas bate o desespero ao saber que a cada minuto que passa, essa esperança vai diminuindo. Infelizmente, a gente não viu acontecer, se pudesse pelo menos resgatar com ou sem vidas, mas que se resgate para que possamos ter o nosso último momento e dar uma dignidade para os que estão lá no fundo. Nós sabemos das dificuldades, nós sabemos que é um local de risco, mas se existisse um plano de emergência, certamente essa história seria diferente”, disse Valtenes.
Valtenes foi questionado se a empresa Bertolini tem dado apoio às famílias das vítimas: “Lá no local a empresa Bertolini deu apoio sim, nos conduzindo até onde aconteceu o acidente, nos hospedou no hotel para que pudéssemos ficar lá em Óbidos. Mas aqui em Santarém o apoio está sendo deficiente, quem ficou aqui nos primeiros dias pode até falar melhor sobre o apoio que a empresa deu, pois eu estava em Óbidos. As dificuldades, segundo informações que foram passadas pelos órgãos competentes, é que não existe uma empresa credenciada e autorizada aqui no Brasil para fazer esse tipo de salvatagem. A gente não consegue entender como não existe uma empresa no Brasil para esses fins”, lamentou Valtenes.
Por: Allan Patrick
Fonte: RG 15/O Impacto