Surdão – Uma lenda viva do esporte e da política de Santarém
Rosinaldo Araújo foi um dos melhores goleiros do futebol santareno e animador político
O jornalista Osvaldo de Andrade recebeu no estúdio da TV Impacto uma das personalidades mais conhecidas e folclóricas de Santarém. Estamos falando de Rosinaldo Araújo, conhecido carinhosamente por “Surdão”, que sempre está presente nas rodas de amigos, é muito respeitado por ser uma pessoa centrada e carismática, brilhou no futebol de Santarém e do Pará, em seus áureos tempos. Na ocasião, Rosinaldo Araújo falou um pouco da sua história, sobre os grandes serviços prestados tanto no esporte, quanto na parte política, além De outros assuntos.
Rosinaldo “Surdão” foi uma pessoa que brilhou no esporte, você foi um dos grandes goleiros que nossa região teve oportunidade de ver e assistir atuando e principalmente brilhando no São Raimundo e na Seleção Santarena.
“Até me emociono com suas colocações, a emoção nos invade neste momento em que você prestigia a gente. Nós começamos a jogar futebol com a idade de 17 anos, atuando pelo fluminense. Naquela época o Fluminense tinha um goleiraço que era o popular Elcio, irmão do nosso amigo Raimundo Gonçalves. Elcio tinha que ir para o Rio de Janeiro e o Fluminense ficou sem goleiro para jogar uma partida duríssima contra o São Francisco, partida que inclusive, classificaria o São Raimundo se o Fluminense ganhasse. Então, o seu Elvio Fonseca foi lá com meu pai pedir permissão para me inscrever com 17 anos. Meu pai ficou preocupado e nervoso, mas cedeu. Eu dei sorte, foi uma das maiores partidas que eu fiz, nós tínhamos que ganhar do São Francisco e saímos vitoriosos de 1 x 0, classificando o São Raimundo para decisão com o próprio São Francisco, porém, o Leão Azul foi o campeão. Logo em seguida meu pai me tirou do Fluminense por problemas de família, nós tivemos que ir para o São Raimundo. Então, começou a história, pelo São Raimundo, enfrentamos o Bahia e ganhamos; naquela época o titular do São Raimundo era o Genésio e nós conseguimos durante 20 anos ser titular do Pantera Negra, foi um fato histórico para mim porque eu até tinha pena do meu reserva, que naquela era o Líbio, grande goleiro, inclusive alguns diziam que ele tinha uma mão tão grande que pegava a bola apenas com um lado dela. Era um ser humano excelente. Nós fomos por seis anos goleiros da Seleção Santarena, ganhamos vários títulos, fomos campeões naquela época em que queriam tirar o título porque o Manoel Maria pertencia ao Clube do Remo e houve aquela polêmica toda, mas nós fomos considerados super campeões. Jogamos contra a Seleção Olímpica do Brasil e ganhamos, jogamos contra o Sport Clube Recife e ganhamos de 1 x 0. Teve outro jogo dramático em que houve aquela confusão lá no estádio com o nosso amigo, popularmente conhecido como “Arara”, nosso saudoso Ismaelino Castro, que merece todo nosso respeito. Lembramos que o São Francisco tinha aquele timaço com Edivar, Cabecinha, Afonso e Tovica. Era uma máquina de jogar futebol, o São Francisco foi um time considerado, foi em Parintins e ganhou de todo mundo, foi para Manaus e ganhou vários jogos. Seu João Otaviano, que Deus o tenha, foi comandando a delegação do São Francisco, esse era um grande time, eu joguei no São Francisco durante seis meses. Inclusive houve uma partida em que eu fui emprestado ao São Francisco para jogar em Manaus, onde o técnico era o saudoso Roosevelt Gonçalves, pai de pessoas amigas que tenho.
Ao ser questionado se lembrava, como conhecedor de futebol, qual foi o grande time que participou no São Raimundo, Rosinaldo respondeu: “A equipe que eu tive a impressão de timaço do São Raimundo foi composta por mim, Pedro Nazaré, Ricardo, Inacinho e Brito; Bosco, Dão e Jurandir; Manoel Maria, Mazinho e Pedro Olaia. Esse foi o time que arrastou várias vitórias, muitas glórias; respeitando o timaço que tinha naquela época o São Francisco. Houve uma época em que o time do São Francisco era imbatível, eu conheci um time do São Francisco que o goleiro era o Taro, eu ainda não jogava, eu era aspirante; tinha Manoel Luiz e Batista, Búfalo, Jó e Romano, Aluizio, Mindó; Anastácio Miranda, Baruca e Vadinho; era um grande time. Depois veio outro time com Edvar, Bimba (conterrâneo lá do Arapixuna), tinha o chamado popularmente “Laranja Podre” que era o apelido do irmão do Edivar. Valores daquela época, era que se respeitava, não se sabia nem o que era droga. Hoje, infelizmente a droga está destruindo muitas famílias, inclusive alguns atletas.
Gostaríamos de lembrar de uma pessoa que contribuiu muito para o futebol santareno, não sendo jogador de futebol, trabalhando fora e cuidando dos jogadores que se machucavam. Conte-me como foi o seu relacionamento com nosso saudoso Luciano Lacrau? Perguntamos.
“Era uma pessoa extraordinária. Uma vez, em um brincadeira quase o Lacrau ganha um prejuízo, nós fomos para uma viagem para Parintins e o finado Felipe, que era diretor do São Raimundo na época, cortou a corda da rede do Lacrau e o coitado quando se deitou caiu e foi parar dentro d’água. Aí, foi aquele corre-corre, volta o barco para pegar o Lacrau. Tudo acontecia com ele. Trata-se de um grande profissional, um ser humano da melhor qualidade, trabalhou em vários clubes, prestou serviço tanto no São Raimundo quanto no São Francisco e na Seleção Santarena. As cidades vizinhas o chamavam, na própria residência ele fazia atendimentos às pessoas, independentemente de ser atleta ou não, era o tradicional Dr. Lacrau. Ele passou toda sua sabedoria à sua esposa, que até hoje ajuda e cuida dos filhos, uma excelente profissional que aprendeu com o marido.
Quando encerrou a carreira no futebol, Surdão olhou para o lado político, inclusive porque um dos grandes diretores do São Raimundo foi o saudoso Everaldo Martins, que foi prefeito de Santarém. Conte-nos sobre sua entrada na área política.
“Realmente sua colocação está correta, eu fui para Juruti com um Senador do Pará. Nós quase caímos do avião, o avião parou no ar, foi aquela agonia. O piloto Mair, que que Deus o tenha, deu um jeito, mexeu na chave e o avião pegou. Eu e o Jader em um voo para Juruti, tínhamos que chegar na hora certa para o comício, mas foi um Deus nos acuda. Tivemos que voltar de barco porque o homem ficou com medo. Eu trabalhei em eleições em diferentes partidos, era um profissional animador de comício, organizávamos, os políticos chegavam só na hora para falar; providenciava caminhão, foguetes, som, palanque etc. Tudo era com a gente. Houve outros com que trabalhamos, como o senador Jarbas Passarinho, Dr. Fernando Guilhon, Dr. Aluízio Chaves, na época em que Paulo Lisboa foi prefeito, Ronaldo Campos, Dr. Everaldo Martins que inclusive foi um homem que dedicamos toda nossa vida para ele durante sua campanha política; tínhamos uma convivência muito direta, tanto no futebol quanto na parte política. Foi uma maravilha conviver com tantos políticos de renome”.
Já que você falou no saudoso Everaldo Martins, tem aquela outra questão dele como médico, com sua prestação de serviço para com as pessoas humildes, inclusive quando ele ia para o interior, fazia questão de atender as pessoas com consultas. Fale sobre isso.
“Você bateu numa tecla evidentemente extraordinária. Dr. Everaldo Martins chegou um dia de uma viagem de uma campanha que nós fizemos pelo Tapajós, ele saiu direto do barco para ir operar. Dr. Martins não tinha hora, era um homem prestativo, tratava-se de um médico solidário; assim como o Dr. Valdemar Pena, Dr. Aluízio, os médicos daquela época. Hoje quando você vai fazer uma consulta, tem que fazer uma série de exames. Naquela época era o médico que ia atender, eles passavam a receita ali na praça. Dr. Pena passava na Garapeira, na época era o Hilário, ele passava a receita ali mesmo e, em dois dias a pessoa estava boa”, finalizou Rosinaldo Araújo.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto