Herbert Farias – Um legado da história de Santarém
Cacheado está à frente da Garapeira Ypiranga há 57 anos
Nossa reportagem recebeu a presença ilustre do empresário Herbert Farias, popularmente conhecido nos quatro cantos do Brasil como “Cacheado” da garapeira Ypiranga, onde ali começou há muitos anos a sua vida e persiste até hoje as atividades ao lado da sua família. Hebert Farias foi entrevistado pelo jornalista Osvaldo de Andrade, para a TV Impacto. Veja os principais detalhes:
Ao ser questionado como tudo começou, Herbert farias disse: “Nasci na vila de Boim, com muito orgulho, no dia 09 de junho de 1943. Eu não conheci meu pai. Fui levado para Belterra, na Vila 129, onde comecei a estudar, na cartilha ABC Da Vila 129, passamos para Estrada 4, próximo à serraria; aí fomos estudar no colégio Henry Ford. Quando eu estava próximo a terminar meu curso primário, fui convidado pelo Frei Raimundo Cronas, vigário da Igreja de Santo Antônio de Belterra, para trabalhar. Estavam construindo a igreja em Belterra e o Frei Raimundo me falou que queria que eu fosse estudar para ser Padre. Frei Raimundo me falou o seguinte: ‘Você trabalha uma semana, vai continuar estudando, e folga na outra semana. Essa semana que você trabalhar eu vou lhe pagar, para você custear o colégio’. Aí eu fui aprender a fazer massa de concreto, para trabalhar; quem eram os meus mestres lá nessas alturas? O Domingos Botelho, que construiu lá em Belterra a igreja e o Valdo Ramos, que era exatamente o carpinteiro. Aí continuei estudando em um colégio de Freira, a educação não poderia ser melhor, foi o tempo que eu precisei terminar o curso primário para chegar ao ginásio. Qual seria a solução? Você vai para o colégio Dom Amando, vai morar lá seis meses e fiquei estudando lá durante esse tempo, e logo depois fui fazer a prova. O que aconteceu foi o seguinte, é que quando estávamos fazendo essa prova, um amigo meu me pediu “cola”, e eu escrevi na mão e passei para ele, o irmão que estava lá na frente e que era o inspetor, quando viu, pediu que nós levantássemos e me deu zero na prova. De lá fui com irmão Paulo, e falei a situação que tinha acontecido, aí ele me disse que ia fazer o possível. No final, eu respondi a prova oral direitinho, mas não tive a felicidade de receber a nota 5, só deu 4 e meio, faltou apenas cinco décimos para eu ir ao Seminário. No outro dia eu me arrumei todo, ele preparou uma carta e eu fui levar para o Frei Raimundo Croner, chegando lá o Frei Raimundo olhou e disse: ‘Você vai voltar a fazer segunda época novamente, você vai fazer seis meses no Dom Amando’. Eu disse: ‘Frei Raimundo, eu acho difícil voltar, porque eu já perdi a vontade’. Foi o tempo que eu vim para Santarém, fui morar na casa do meu cunhado, precisando ganhar um trocadinho. Aí o meu cunhado disse: ‘Só tem um trabalho aqui, é pesado, você vai me ajudar, eu vou cortar lenha para vender para as padarias e você vai fazer o lote de madeira’.
Essa foi a primeira atividade sua na época em que você veio de Belterra para Santarém? Perguntamos.
“Mas antes disso, quando eu ia para Belterra estudar, na época das férias eu ia lá para o Cajutuba, onde eu tinha um irmão que era casado com uma senhora de lá. Eu ia capinar roça, cortar seringa. Eles enchiam um paneiro com mandioca e colocavam na minha costa para eu carregar de seis a oito quilômetros até chegar na beira. Chegando em Santarém, um dia eu ia passando pela Rua João Pessoa (hoje Lameira Bittencourt), encontrei um amigo que era motorista do caminhão lá da Garapeira; ele perguntou se eu topava fazer um serviço, que era descarregar parte da cana em um local e outra lá na Garapeira Ypiranga. Eu disse: ‘É comigo mesmo!’. Eu não lembro bem qual foi a moeda que o velho me deu, Sr. Hilário Campos. O velho gostou, no outro dia fui trabalhar e fiquei durante uma semana, na semana seguinte ele disse: ‘Agora você vai ficar aqui conosco’. Fiquei trabalhando e estou até hoje, graças a Deus, tem 57 anos. Entrei lá no dia 21 de setembro de 1968”, informou.
O ser questionado sobre como foi para você chegar de trabalhador a proprietário da Garapeira Ypiranga, Herbert farias respondeu: “Bem, eu era empregado do Sr. Hilário Campos, mas ele faleceu. Então, o seu Pequenino que era o proprietário da Garapeira, chegou comigo e disse: ‘Repara aí que Hilário deixou débito aqui na Garapeira; pague todos os débitos que tiver’. Eu paguei para o Pantoja. Naquela época não existia fogão a gás, era na lenha, comprávamos lenha do Pantoja. Só que ficou débitos de lenha, de carne, de compras de bombons e chicletes. Foi quando o Seu Pequenino disse: ‘Vá para lá e tome conta da Garapeira, quando você pagar todos os débitos você vem aqui comigo’. Paguei todos os débitos, dei baixa na firma dele. Então, ele disse: ‘A partir de hoje você vai assumir a Garapeira, só quero que quando chegar nesse horário você venha aqui comigo. Eu vou te aconselhar uma coisa, a Garapeira é para quem gosta de mulher, ali é um chama, todo cuidado é pouco’. Aí, quando chegava aquela hora que ele marcou, eu ia lá com a Dona Carmelita, toda tarde ela me ensinava como eu deveria administrar a Garapeira e abrir a firma no meu nome, exatamente Herbert Farias-ME e até hoje está. Eu assumi toda responsabilidade, todo dia a gente levava o café dele e o almoço, um dia ele chegou comigo e disse: ‘Olha, eu tenho umas moedas velhas aqui e você tem que levar tudo para sua casa’. Foi aí que me toquei que a Garapeira ia ficar para mim. Como eu já tinha carro, eu levei aqueles ferros velhos todinho para lá, em uma tarde ele me disse assim: ‘Você vem aqui comigo e traga sua certidão de casamento, registro de nascimento, passe aqui duas horas para irmos com a Dona Carmelita’. Passando lá, apanhei o velho e o coloquei no carro, a Dona Carmelita não estava. Ele falou: ‘Vá para a Garapeira e deixe que depois eu passo lá’. Quando foi na tarde do outro dia, ele passou lá comigo e disse: ‘A Carmelita disse para você ir amanhã’. No outro dia eu fui com ela e me explicou direitinho como eu devia fazer, só tinha um porém, eu não estava sabendo que ele já estava preparando o testamento para passar para mim a Garapeira e outras coisas que ele tinha deixado para um outro pessoal. Quando ele morreu, Dona Carmelita estava em Belém, e o pessoal da família, Maria Braga e Nelson Cacela, que era genro dela, estavam preocupados com quem a Garapeira iria ficar, porque antes dele ter deixado para mim, ele tinha feito dois testamentos, um para deixar para a sobrinha dele e outro para um outro sobrinho. Como não trataram bem do velho em Belém, ele pegou e fez outro testamento. Deixou para o Zazá. Teve um dia em que a Conceição foi lá, inclusive ela é minha comadre, não tomou bênção dele e ele se aborreceu, cortou ela também. Então, ele passou definitivamente para mim”, esclareceu.
Mas, sobre sua vida familiar, sabemos que você é um exemplo de casal, você é casado com a Dona Ninita há quantos anos? Perguntamos. “Nós vamos completar 54 anos de casados no dia 27 de novembro. Ela estudava no colégio São Raimundo e eu já trabalhava na Garapeira. Eu era muito safado, tinha dois pares de roupa, um para eu trabalhar e outro para me encontrar com ela, que gostava muito de mim, pois eu era bonito mesmo. Aí, eu já ia com a roupa de trabalho me encontrar com ela atrás da igreja São Raimundo, era a hora que a gente se encontrava. Pela parte da noite, era a hora que eu aproveitava para dar uns beijos nela no escuro. Mas, eu sinceramente tenho uma família, dou graças a Deus pelos filhos que eu tenho”.
Tem algo importante para ressaltar, que a Garapeira ao seu comando desde que você constituiu a família foi dada uma sequência de trabalho inteiramente familiar, filhos, genros, netos e mulher ajudando. “Eu agradeço a Deus, porque entre tapas e beijos a gente vai se passando. O que fiz com meus filhos? Eu sempre disse: ‘Vão estudar, eu não vou deixar riqueza para vocês. O estudo é a riqueza que ninguém tira’. Agora, uma coisa eu quero dizer, eu tenho muito espelho para mirar nessa juventude de hoje, eu não sei se é porque tem muito apoio dos pais, mas é uma juventude perdida em matéria de casamento. Eu não quero ser um exemplo de casal, mas é lamentável o que está acontecendo com os casais de hoje. Quando eu me casei com a Ninita, enfrentamos muitas dificuldades, mas conseguimos superar. Os casais de hoje só pensam no que o pai e a mãe tem, prevendo o futuro. Graças a Deus, Ninita e eu fomos para luta. No dia em que eu fui buscá-la na casa da Dona Maria Braga à noite, a Dona Lalita, que Deus a tenha, disse: “Vá trabalhar para você quebrar uma castanha da boca do seu sogro e da família do seu sogro”. Até hoje eu guardo isso na cabeça, porque eu não pensei em nada do que eles tinham ou o que deixavam de ter, eu tinha que ir para luta e construí o que tenho hoje. Sem querer me empolgar, mas eu tenho algo comigo e sempre digo, “orgulho, inveja e ganância, neste coração não existe”, finalizou Herbert Farias, o popular Cacheado.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto
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