Santarenas transformam Pílula do Dia Seguinte em bombons
Professora e farmacêutica Flávia Garcez orienta mulheres sobre uso desse medicamento
A professora Flávia Garcez, que é coordenadora do curso de Farmácia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), esteve no estúdio da TV Impacto, onde concedeu entrevista exclusiva. Na ocasião, professora Flávia Garcez falou sobre uma pesquisa que desenvolveu dentro de uma área que interessa muito à sociedade, principalmente para as mulheres, que é a questão do uso de anticoncepcionais. Apesar da manchete da matéria fazer uma analogia simplória, serve para alertar sobre duas situações ocasionadas pelo uso excessivo da Pílula: De um lado a questão relacionada ao excesso de hormônios que pode ocasionar doenças, como câncer, trombose e outras; de outro lado é relacionada às doenças sexualmente transmissíveis, quando a mulher deixa de usar preservativos e fica exposta a esses tipos de doenças.
“Estamos aqui para divulgar os resultados dessa pesquisa. Não especificamente contraceptivos de uma forma geral, mas com a pílula do dia seguinte, sobre o uso abusivo deste medicamento por parte das mulheres daqui de Santarém. Essa pesquisa surgiu da preocupação do uso, por comodidade, por ser prático, por ter baixo custo e as mulheres acabam utilizando, principalmente como o nome já diz, numa situação de emergência. Mas ali eu encontrei situações que mulheres utilizam essa pílula na sexta, sábado e domingo. É um medicamento que tem uma concentração de hormônio muito grande. Eu tive essa preocupação e aí nós fizemos nas unidades básicas de saúde, mais precisamente nos bairros Jaderlândia e Conquista. Foi através de questionário sem identificação dessas mulheres que nós fizemos um levantamento, ou seja, um estudo do perfil dessas mulheres que utilizarão ou utilizam esse tipo de medicamento”, informou.
Sobre a questão do excesso de hormônios, o que ele provoca no organismo, Flávia Garcez respondeu: “Em relação a esse contraceptivo de emergência, conhecido popularmente como pílula dia seguinte, ele tem uma equivalência como se fosse a metade de uma cartela de um medicamento, de um contraceptivo de uso contínuo. É uma superdose, como se fosse um choque para o organismo, para evitar a possível gravidez dessas mulheres. Em função de ser um hormônio, você pode ter problemas no caso de uso abusivo, em grande quantidade, como hipertensão, problemas cardiovasculares, trombose e até mesmo como já tem estudos que relatam, o câncer de mama”, esclareceu.
Com relação à situação de criar cabelo ou engrossar a voz, professora Flávia Garcez esclareceu: “Não necessariamente, porque é mais hormônio feminino, mas mesmo assim você pode ter alterações fisiológicas no seu organismo, em função de uma grande quantidade de hormônio”.
Na sua pesquisa, você tem algum percentual em termos de uso desse medicamento? Questionamos.
“Sim! Foram mais de 140 mulheres pesquisadas, nas duas unidades básicas de saúde. Ressalto que nós encontramos situações em que menores utilizavam também esse tipo de medicamento. Só que a pesquisa, em função da ética, foi direcionada apenas às mulheres acima de 18 anos. Nós conseguimos encontrar que a maior incidência, ou seja, 35%, é entre as mulheres com idades de 18 a 22 anos, sendo que 35% delas tomavam de 1 a 4 comprimidos por mês. Claro, que algumas omitiram essas informações, talvez por vergonha, apesar que a pesquisa deixava livre em relação à resposta. Uma das informações que me preocupo, é que elas tomavam esse medicamento por orientação de amigos ou familiares, não buscaram orientação de um profissional da área da saúde, um farmacêutico que seria a pessoa mais indicada para dizer possíveis interações medicamentosas, problemas, algum efeito colateral, porque realmente poderiam tomar um outro medicamento ou utilizar um outro método, sem ser a pílula do dia seguinte. Então, elas não receberam nenhum tipo de orientação, e ainda tem a questão da automedicação, não receberam informação nenhuma, já foram direto e fizeram uso do medicamento”, alertou.
Ao ser questionada se esse medicamento pode ser adquirido sem receita médica, a professora Flávia Garcez foi enfática: “Sim. Nas unidades básica de saúde, até mesmo porque muitas mulheres desconhecem. Esses medicamentos também são dispensados, só que sob orientação de um médico, onde a paciente relata a situação e o médico prescreve para ela fazer a retirada desse medicamento. Entretanto, nas farmácias comerciais e comunitárias, esse medicamento é comercializado sem a necessidade de receita médica, é bem fácil e de baixo custo. Há facilidade do uso desse medicamento”.
Vamos passar para a questão do Viagra. Os homens procuram e normalmente seria o medicamento indicado para quem tem problemas, principalmente os mais idosos, mas temos informações de que hoje o adolescente está usando esse medicamento. Isso procede? Perguntamos.
“Esse tipo de medicamento é utilizado para questões de disfunção erétil, ou seja, questão de idade, sob orientação médica, até porque ele tem uma série de reações adversas, com possíveis efeitos tóxicos. Paciente que tem problema cardíaco, tem uma certa restrição. Mas aí, hoje, tem uma facilidade muito grande, então, o jovem está buscando esse medicamento talvez para aumentar mais o seu desempenho. Há relatos de pacientes idosos que vieram a óbito em função de utilizar esse medicamento de forma desordenada e sem orientação médica. Essa pesquisa mostra a necessidade de orientação, acho que inicialmente pela família, mas tem a questão da falta de orientação de um profissional da área da saúde, como um farmacêutico. Com relação à pílula do dia seguinte, vale ressaltar que o uso contínuo dessas pílulas vai perdendo a eficácia, então, chega o momento que mesmo quando a mulher utilizá-la vai acabar engravidando. Nós temos casos de pacientes nesse mesmo estudo que utilizaram de forma contínua e acabaram engravidando. Também tem a facilidade de comunicação hoje pela internet, onde nesses sites de buscas é muito fácil você ver uma orientação bem básica, daí você vai utilizar esse tipo de medicamento sem saber da sua situação de saúde, se você tem uma doença crônica como a hipertensão, um problema cardíaco ou então se você utiliza outros medicamentos que podem ter uma interação medicamentosa, ou um efeito adverso. Você não recebe nenhum tipo de orientação, só quer evitar a gravidez. Como sempre falo, não é só apenas evitar gravidez, tem as IST’s que são as infecções sexualmente transmissíveis, sendo que umas têm cura, as outras não. O grande problema é esse objetivo, evitar gravidez e esquecem de outros. Então, a orientação a essas pessoas (mulheres) seria utilização do próprio preservativo, que é de baixo custo, é prático e você não vai utilizar nenhum tipo de medicamento que vai modificar o seu organismo”, alertou Flávia Garcez.
“Como nós concluímos uma parte dessa pesquisa, em duas unidades básicas de saúde, a gente vai estender mais agora. Nós até colocamos o projeto pela Secretaria Municipal de Saúde, para estender em dois bairros e agora estamos fazendo a devolutiva desses resultados, não só orientando os profissionais da área da saúde de lá, como enfermeiros, agentes comunitários de saúde, médicos, odontólogos e outros, como também já começamos a trabalhar com usuários que participaram dos estudos, principalmente na orientação e na busca dessas informações, para não ficar utilizando esse medicamento e não saber os prós e contra desse tipo de medicação. Eu acho que está faltando muito é informação, orientação, mais especificamente de um profissional farmacêutico quanto ao uso desses medicamentos”, orientou.
Nesse caso, toda farmácia tem obrigação de ter um profissional, bem como não teria também a responsabilidade de na hora que chegar um cliente para comprar esse medicamento, de orientar e evitar a venda sem receita? Perguntamos.
“O profissional tem a obrigação de orientar. A pessoa que for comprar esse medicamento, se tiver alguma dúvida em relação ao uso, pode chegar e pedir a presença do profissional farmacêutico, nessas farmácias, para orientá-la”, finalizou a professora Flávia Garcez.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto
Quanta irresponsabilidade, mesclada com preguiça. Depois o culpado é o SUS, que tem de dar conta das doenças provocadas pelas próprias pacientes !