Cohab distribui Cheque Moradia para os apadrinhados políticos de Jatene
A realidade é a mesma da eleição geral de 2014: só recebe o Cheque Moradia da Companhia de Habitação do Estado do Pará (Cohab) o beneficiário que votar nos candidatos aliados ao governador Simão Jatene. Muitas pessoas procuraram o jornal reclamando que, desde 2012, tentam se cadastrar no programa mas não conseguem por se negarem a votar nos candidatos indicados por cabos eleitorais travestidos de “lideranças” e servidores da companhia vinculados diretamente ao programa.
Jatene é acusado de usar cheque moradia para comprar votos
Uma dessas lideranças que conhece todos os caminhos que levam ao Cheque Moradia afirma que a presidente da Cohab, Lucilene Bastos Farinha; o diretor administrativo Carlos Alberto Melo, a psicóloga Cíntia Sabino e seu esposo chamado Pedro têm feito farta distribuição do cheque para centenas de cabos eleitorais ligados aos aliados do governo aos finais de semana, sobretudo para o interior do Estado.
“Várias reuniões foram realizadas pela presidente da Cohab em canteiros de obras nos bairros do Curió Utinga e Guamá, por exemplo, onde pediam votos na cara dura”, diz uma liderança que prefere se manter no anonimato.
LIDERANÇAS
Fraude no cheque moradia leva tucano para a cadeia
Segundo a fonte, centenas de famílias de Ananindeua, Benevides, Santo Antônio do Tauá, Mosqueiro, Capanema, Cametá, Barcarena, Abaetetuba, Vigia, Santarém, Bragança, Marituba e Belém vêm sendo prejudicadas desde 2012 por não compactuarem com o esquema de compra de votos. “São milhares de pessoas que poderiam estar vivendo e morando melhor mas que continuam em situação difícil por causa dessa politicagem feita pela Cohab todos esses anos”, critica a fonte.
Ele diz que as pessoas que não são encaminhadas pelas “lideranças” vão à Cohab mas dão com a cara na porta e não conseguem se cadastrar no benefício. “Essa companhia tá parece farinha de feira, meu amigo. Tá todo mundo querendo meter a mão, mas apenas alguns levam. O Ministério Púbico precisa intervir diretamente na Cohab!”, aconselha o líder comunitário.
Mais de 2 mil benefícios estariam sendo distribuídos por dia
Segundo o denunciante, chegam a ser emitidos mais de 2.000 cheques moradia por dia da companhia. “Quando dão a primeira parcela já dizem em que candidato votar e ameaçam que se não votar a segunda parcela não sai”, denuncia.
Outra prática comum em épocas de eleição é a chamada “corretagem do cheque”, quando pessoas – a maioria mulheres – fica na porta e nas imediações da Cohab cadastrando potenciais eleitores em troca do benefício. “É impressionante! Elas param as pessoas na rua e ficam oferecendo o cadastro em troca de votos para os candidatos do governador. Se a pessoa aceitar, cadastram na hora!”, revela.
Na última segunda-feira, dia 1/10, 3 dias depois que o DIÁRIO publicou reportagem mostrando que servidores sem qualquer qualificação técnica ou formação na área de engenharia e arquitetura, estão recebendo gordas diárias para viagens a serviço da Cohab para monitorar o andamento de obras do programa Cheque Moradia, a presidente da companhia, Lucilene Bastos Farinha resolver se licenciar do cargo por 10 dias, só retornando dia 10 de outubro, após a eleição
O que se comenta nos corredores da Cohab é que Lucilene saiu para mergulhar de cabeça na reta final da campanha eleitoral, turbinando ainda mais a cooptação e votos com o Cheque Moradia. “Ela (Lucilene) não escondeu de ninguém dentro da Cohab que sairia mesmo para a campanha. Ela tirou o time de campo porque se der qualquer bronca essa semana cairá nas costas desse laranja que assumiu o cargo”, garante a fonte. No lugar de Lucilene assumiu o diretor técnico José Augusto Rabelo Sobral.
Mais uma vez o jornal encaminhou, na tarde de ontem (2), questionamentos para a direção da Cohab para que se manifestasse sobre as denúncias que chegaram ao jornal e, outra vez, o DIÁRIO não obteve qualquer retorno da companhia até o fechamento desta edição.
Presos acusados de aplicar golpe do Cheque Moradia no interior do Pará
Como funciona o esquema?
O programa Cheque Moradia existe há 15 anos e já entregou cerca de 80 mil benefícios, mas nas duas últimas gestões do atual governador, Simão Jatene, teve sua finalidade desvirtuada. No segundo semestre de 2014, com a proximidade das eleições, uma avalanche de cheques contemplou milhares de pessoas com o claro propósito de angariar votos para a eleição do governador, então candidato à reeleição;
A concessão do benefício atropela todos os trâmites legais que norteiam o programa. Em anos eleitorais a primeira parcela do carnê sai em até 48 horas após o pedido ser cadastrado e há casos em que muitos saem em 24 horas mesmo. Os valores dos cheques variam de R$ 2 mil a R$ 14.100,00. Portadores de necessidades especiais podem receber até R$ 18.000,00;
Tão logo a Cohab libera os carnês com os cheques, centros comunitários e associações convocam os beneficiários para a entrega num local escolhido previamente acordado, na presença de funcionários e aliados do governo. A promessa é que a segunda parcela do benefício só será liberada caso os candidatos do governo vençam a disputa;
No interior do Estado, além de funcionar como máquina de compra de votos em favor da candidatura de aliados do governador Simão Jatene, o programa chegou a ludibriar centenas de famílias e frustrou o sonho da tão desejada casa própria.
A estimativa é que o governo do Estado tenha emitido – entre concessões e cadastramento – mais de 30 mil Cheques moradia apenas em outubro de 2014, mês da última eleição geral, num uso escancarado e explícito de um programa social do Estado como instrumento de compra de votos.
Fonte: Luiz Flávio/Diário do Pará/DOL