O PRIMEIRO HOMEM | Opinião – Sem Spoilers
O PRIMEIRO HOMEM
(First Man)
Por: Allan Patrick
Foi dada a largada para temporada de prêmios cinematográficos oficialmente. Logo após os lançamentos de pérolas como “O Primeiro Homem” e “Nasce uma Estrela” que entraram em exibição este mês, os filmes que concorrem há uma vaga nas grandes premiações como o “Oscar” começam a brotar. Realmente algumas produções são feitas com esse intuito, as tais “Iscas de Oscar”, na realidade acredito que quando é chamada uma equipe de pessoas para trás e para frente das câmeras, diante de um relato biográfico que aborda a fascinante história de um herói norte americano, a chances de algo como tal ser indicado entre outras produções colossais é muito grande. Automaticamente os olhares críticos, complexos e altamente exigentes dos mestres da Academia de Cinema se voltam para detalhes simbólicos como os que encontramos de sobra em “O Primeiro Homem”.
Quando “Whiplash-Em Busca da Perfeição” foi apresentado ao mundo em 2015, pelo jovem Damien Chazelle de apenas 33 anos, talvez o visionário cineasta não tivesse a noção de que naquele momento estava escrevendo seu nome ao lado das mentes mais brilhantes de Hollywood. E que precisamente, três anos depois, todos se curvariam diante do talento de alguém tão jovem quando acrescentou ao seu curriculum mais uma pérola, “La la Land”. Damien acaba de chegar em seu terceiro longa, de certa forma mais ambicioso do que nunca, provando que o céu é de fato o limite para seu talento que só cresce a cada ano que passa.
A partir do momento que foi anunciado esse novo projeto, muitas dúvidas passara pelas mentes dos cinéfilos, já que os filmes anteriores de Damien eram focados em relacionamentos e a paixão pela música. Por isso tal ousadia trazia um sentimento de estranheza. “O Primeiro Homem” surge como a primeira produção não assinada por Chazelle, mas por um igualmente roteirista de primeira. O texto do filme é baseado no livro de James R. Hansen, com o roteiro adaptado por Josh Singer que narra a trajetória biográfica de Neil Armstrong até o dia em que se tornou “o primeiro homem” a pisar na lua, embutindo seu nome na história do nosso velho mundo se tornando uma das personalidades mais importantes que já caminhou nesse planeta e em um satélite natural.
Os tópicos discutidos neste filme, talvez o mais importante deles fossem às perguntas “o que move o homem? O que nos faz encarar a morte eminente? Arriscar nossas vidas?” O fato que um dia vamos morrer é irreversível. Mas quando homens corajosos colocam tudo a prova em nome de um grande feito, chegando ao ponto de se despedir de forma grandiosa em nome de um grande desejo da humanidade. Se forem bem sucedidos, melhor ainda, já que certamente iram desfrutar de tal glória. Assim foi a vida de Armstrong interpretado pelo talentoso ator Ryan Gosling. Pela sua participação no filme anterior de Damien “La la Land”, Gosling recebeu a segunda indicação ao Oscar de sua vida, e tudo indica que também é um forte candidato para receber sua terceira indicação.
A figura de Armstrong que Ryan Gosling cria, é de um homem introspectivo, como de costume, o ator se tornou especialista em viver homens de poucas palavras, fechados em seus sentimentos e conduzidos por uma performance interiorizada, destacando-se em suas expressões faciais e reações, poucos diálogos. Também temos nesta produção a novata Claire Foy, que se tornou conhecida no mundo do estrelato pela série da Netflix que indico, The Crown. A atriz vive Janet Armstrong, a esposa do astronauta e ganha seus momentos no holofote, em especial a cena na qual obriga o marido a se despedir dos filhos, já que pode partir e nunca mais vê-los. O momento é de pura explosão e a jovem de 34 anos segura a composição como uma veterana, uma cena excepcional.
No entanto, “O Primeiro Homem” não é um filme tão acessível quanto os outros filmes do visionário diretor. Aqui temos um tempo excessivo de projeção de aproximadamente (2h20min) e o ritmo deliberadamente lento, na maioria das cenas encontramos poucos diálogos, muitos irão cochilar, outros vão desistir, por conta disso o filme torna-se um grande desafio para o grande público e de certa forma exigirá o mesmo dos cinéfilos, que não se interessam tanto pelo tema. Diante desse contexto, mesmo que esta não seja muito a sua praia, o que os envolvidos conquistam aqui é incontestavelmente incrível. E não apenas na parte técnica. O novo filme de Chazelle é escrito com maestria com “M” maiúsculo. Ressalto que esses pequenos problemas não atrapalham quase nada na emersão.
O Primeiro Homem também funciona como espetáculo visual, nos imergindo por completo em cenas que reproduzem com realismo impressionante decolagens de foguetes, entradas na estratosfera, perda de controle da nave e momentos de tensão que prometem deixar os nervos à flor da pele, “eu quem diga meu amigo Fredson Luiz que acompanhou a sessão comigo”. É claro que o prato principal é a aterrissagem na lua, servida por uma trilha incisiva e exuberante e uma recriação visual do icônico momento que nos põe literalmente no satélite natural da Terra. O trecho é tão perfeito que merecia estar em algum passeio da NASA. Você pode fazer a sua parte e procurar a maior sala acessível para assistir ao longa. Amei o filme, mesmo sendo desnecessariamente longo, recomendo. Minha nota: 8,0!