Imprensa do Estado dará vez a autores esquecidos pelos governos passados
Segundo o presidente da IOE, o Pará tem muitos talentos que estão fora de catálogo e você não encontra seus livros
Jorge Panzera diz que todos os municípios precisam ser olhados
O presidente da Imprensa Oficial do Estado do Pará a IOE-PA, Jorge Panzera, esteve em nossa redação, durante a permanência do Governo Itinerante do Estado do Pará, em Santarém, que aconteceu de 20 a 23 deste mês. Na ocasião, concedeu entrevista à nossa reportagem quando falou das ações da IOE-PA. Veja a entrevista: |
Jornal O Impacto: Fale sobre sua estada em Santarém.
Jorge Panzera: É uma alegria grande estar aqui mais uma vez. Santarém é uma cidade muito agradável, com muitas histórias, muita vivência importante para o Estado, e nós estamos participando, junto com o governador Helder Barbalho, nesse esforço grande, de fazer com que o governo do Estado seja presente em todas as regiões. O Governador escolheu Santarém para iniciar esse projeto, do Governo Itinerante, de governo presente na sociedade local e nas diversas cidades do nosso Estado. Começou por Santarém que vai ter essa experiência de ter a presença do Governador, de ter a presença de secretários, para tratar diretamente dos problemas de cada uma das regiões, de cada uma das cidades com as pessoas que decidem os rumos do nosso Estado em cada uma das áreas. O Governador veio para cá com um conjunto de secretários, de dirigentes de órgãos, e nós fizemos questão de vir para Santarém também para participar desse esforço e para também apresentar um pouco do que é a nossa ideia nova em relação à Imprensa Oficial do Estado do Pará, a partir da determinação do Governador de algumas ações que nós devemos implementar como parte de um arcabouço de um projeto de Estado. O Governo do Estado busca isso, um novo projeto do Estado, uma nova roupagem do estado do Pará e que crie melhores condições de vida para nossa população, que aumente o índice de desenvolvimento do Estado e que olhe o Estado como um todo. Nós somos um Estado que temos 144 municípios e todos eles precisam ser olhados, e essa é uma determinação do Governador, que nós somos parte dessa construção.
Jornal O Impacto: Hoje o Diário Oficial é digital. O que levou o governo a adotar esse sistema?
Jorge Panzera: Nós cumprimos uma determinação do Governador, de modernização e uma determinação de economia de custos com a impressão do Diário Oficial, além de que também é uma medida que preserva árvores, preserva o papel que tanto se utiliza. Eu acredito que algumas publicações vão ser difíceis de você substituir a publicação física pela publicação digital, em especial os livros. Hoje já existe uma cultura grande de não ler os jornais, de se ler informações a partir dos sites, os próprios jornais já têm também seus jornais online, mas eu acredito que alguma das publicações, como revistas, principalmente de pesquisa e de estudo, assim com o livro, é difícil de só ter online; mesmo tendo os e-books e as publicações digitais, mas aquela convivência com um livro vai continuar existindo.
Jornal O Impacto: Quais os projetos que estão em pauta para serem desenvolvidos?
Jorge Panzera: Um dos projetos que estamos construindo e trabalhando, é de fazer uma editora pública do Estado do Pará, que olhe o Estado como um todo e que crie uma política pública com regras claras para publicação e para edição, e a gente investir nisso. Parte do recurso que nós estamos economizando com a não impressão do Diário Oficial, a gente vai direcionar para impressão e para publicação de livros de autores do nosso Estado, buscando construir uma política pública transparente e com regras claras para todo mundo poder publicar mais livros no estado do Pará. Que a gente possa publicar autores que hoje estão fora de catálogo, pois o Pará tem muitos talentos que estão fora de catálogo que você não encontra os seus livros. Então, a gente quer fazer uma política de publicação desses autores, uma política vinculada também com as universidades do Estado, em especial a Uepa, que a gente vai olhar com mais carinho porque é a universidade do estado do Pará; mas também as universidades federais como a Ufopa aqui na região Oeste, a Unifespa no Sul e Sudeste do Pará, a UFPA, a Ufra e o IFPA.
Jornal O Impacto: Vocês pretendem ser parceiros das universidades?
Jorge Panzera: Nós vemos que as universidades produzem todos os anos um conjunto de trabalhos acadêmicos, sejam teses de conclusão de curso, sejam teses de mestrado, sejam dissertações de doutorados, e esses conteúdos são colocados à disposição e que se a gente tem um grau de parceria e de relação da nossa parte, do que seria a nossa editora pública com essas universidades, nós podemos também publicar esses livros e teses acadêmicas. Então, essa é uma parte importante da política que nós estamos construindo.
“A finalidade da Imprensa Oficial do Estado não é gerar lucro, mas incentivar a produção de livros”
Jornal O Impacto: Como fica a situação dos autores que até agora não tiveram oportunidade de publicar seus livros?
Jorge Panzera: A gente tem de ter um conjunto de editais públicos e que sejam editais regionalizados. Nós temos pela lei, 12 regiões administrativas do Estado do Pará, então, a ideia é conseguir colocar 12 editais para publicar os autores de cada uma das 12 regiões, pra você ter novos autores sendo colocados à disposição da população do Estado e também pra população do Brasil. A partir da publicação desses autores, a gente fará um diálogo entre esses autores de regiões distintas. Nós temos que integrar mais o estado do Pará, e essa parte é onde nós acreditamos que pode ter um grau de integração. Claro que a gente precisa fazer isso com parcerias. Nós conversamos aqui em Santarém com um conjunto de organizações da sociedade civil que já desenvolve algumas ações importantes vinculadas a essas atividades, como o Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, a Academia de Letras e Artes de Santarém, a Associação de Teatro Amador de Santarém, o Instituto Cultural Boanerges Sena, o Instituto Sebastião Tapajós. Nós conversamos e ouvimos muito deles a necessidade de fazer com que essas publicações sejam de pessoas da região. Nós temos a Feira do Livro e temos a experiência do Salão do Livro aqui no Oeste do Pará, e há uma mudança que está sendo feita, conduzida pela Úrsula Vidal, Secretária de Cultura, sobre essa Feira do Livro que é para olhar mais as regiões, olhar uma Feira do Livro que não seja só um comércio de livro, mas ser um espaço de incentivo à leitura e de produção, e olhar a cultura como um todo. É um esforço importante que a secretária Úrsula tem desenvolvido, e é importante olhar que nesses momentos se tem esses autores, assim como é importante a gente pegar esses autores que produzem aqui e levar para Belém e divulgar seus trabalhos, ter um intercâmbio entre esses autores. Se agente tem uma editora pública a gente tem possibilidade pra isso, não uma editora comercial, a finalidade dela não é gerar lucro, mas é incentivar a produção de livros. No nosso Estado, desde os primórdios até aqui, é muito fértil em produção, e essa região é a região de Rui Barata, um dos maiores poetas do nosso Estado; é região de Inglês de Sousa, um dos principais escritores da região; de José Veríssimo que por muito tempo foi um dos principais críticos literários do Brasil. Então, é aqui nessa região que a gente pode enxergar nesse passado que teve grandes autores e que hoje também é rico de autores e experiências com o livro, e são experiências fantásticas que teve na região.
Jornal O Impacto: Como serão as políticas da editora?
Jorge Panzera: O que nós queremos com a editora é incentivar e movimentar essa produção de livros e de edição, tendo isso como um critério público e transparente. Não vai ser por conta de o autor ser amigo de uma pessoa ou do autor que não tem o mesmo alinhamento de pensamento com quem está à frente de uma instituição e é colocado de castigo. Nós queremos o contrário, que é ter uma política que seja clara e transparente com os critérios públicos, para que as pessoas se habilitem pra isso. E ter parceria, juntar instituições que já fazem isso, seja instituições da sociedade civil, sejam as prefeituras e sejam as instituições acadêmicas, Santarém mesmo é uma cidade universitária e que a gente pode aproveitar essa capacidade que tem aqui para potencializar e desenvolver ainda mais ela.
Jornal O Impacto: O projeto “Livro Solitário” já existia, e agora o governo está voltando com o projeto, como ele vai funcionar?
Jorge Panzera: O projeto “Livro Solidário já existia e nós estamos fazendo uma nova roupagem para ele. Era um projeto que arrecadava livros doados por pessoas que organizavam e catalogavam esses livros, montavam uma pequena biblioteca e doavam pra associações, pra escolas; então, nós estamos querendo construir um caminho para que esse projeto se estenda pelo Estado como um todo. Aproveitamos a conversa que nós tivemos com a direção da Ufopa e apresentar o projeto, a ideia é que na apresentação dos calouros fazer um trote solidário onde a pessoa leva um livro usado, que ela não use mais e aí pode ser um espaço de arrecadação de livros para montar bibliotecas e destinaríamos essas bibliotecas para a região. Tive uma conversa com pessoal de um movimento de bibliotecas comunitárias que tem em Belém e disseram o seguinte: você pega um livro e ele pode ser usado para tudo; pega alguns livros que são de capa dura e pesado, que pode ser usado como arma, mas, se você abre o livro e constrói o hábito da leitura você tem outro tipo de utilização do livro, e nós queremos fazer isso aproveitando experiências que já existem. Felizmente nós temos muitas experiências em funcionamento, como aqui do Instituto Cultural Boanerges Sena, uma experiência fantástica. Assim como ela, tem várias outras em Belém do Pará, como uma biblioteca comunitária que está completando 40 anos e tem 60 mil títulos. Então, nós temos experiência em todo o Estado. Como é que nós vamos aproveitar essa experiência para gente potencializar? Vamos utilizar essa experiência para ampliar, inclusive, construindo bibliotecas. Por exemplo, em Bogotá que foi a cidade mais violentas do mundo, um dos processos de enfrentamento à violência foi através da presença do livro nas comunidades mais veneráveis, onde é preciso ter mais presença do Estado. Nós temos também de usar e tem esse projeto que ajude nisso, porque o livro realmente não transforma o mundo, ele transforma as pessoas; e quem transforma o mundo são as pessoas. Então, o livro tem esse papel importante e esse é um projeto que nós estamos desenvolvendo com muito carinho. Além disso, a Imprensa Oficial do Estado é uma agência certificadora, que produz certificado digital, que para os agentes públicos, como governadores, prefeitos, vereadores, profissionais liberais da área da contabilidade e da área jurídica, são os instrumentos necessários e modernos. Hoje nós temos um certificado digital mais barato do mercado, e nós queremos fazer com que esse certificado chegue ao Estado inteiro. Vamos conversar com o secretário Henderson Pinto sobre isso.
Jornal O Impacto: A região Oeste estava um pouco esquecida pelo governo passado, e é muito louvável essa iniciativa do governo atual, porque dá um choque da realidade de como é que está e como pode ficar.
Jorge Panzera: Infelizmente não eram as regiões que estavam abandonadas, quem vai a Belém vê o abandono completo. Isso tudo motivou uma nova administração, motivou a população do estado do Pará e acho que nós temos que valorizar muito isso, porque os processos democráticos, processos de alternância de governo, o caminho da disputa política, de ideias diferentes, caminhos para cada um dos Estados, de cada um dos Municípios do Brasil, precisam ser valorizados. E a gente pode mudar e transformar. Os problemas que ocorreram na administração passada, com certo desleixo, é que fez também surgir essa possibilidade de ter o governo de Helder Barbalho, que quer fazer uma viragem de página na história do Estado. É verdade que há uma demanda, com razão e com justiça por um processo de divisão do nosso Estado. Não é por acaso ou por maldade, é porque ouve um abandono. A gente reconhece que é preciso ter uma presença maior do Estado, estar mais presente. O Plebiscito que foi feito em 2011 decidiu que o Pará continua assumido, mas que por conta da condução de quem o dirigia, o Estado ficou dividido. Nós temos uma responsabilidade do governador Helder e nós acreditamos que o esforço que ele tem feito pra cumprir com essa responsabilidade, que é de dar uma unidade maior ao Estado. Nós somos um Estado riquíssimo, um dos mais ricos da Federação, por isso não podemos conviver com tanta pobreza do nosso povo. O Governador tem um papel grande liderar um projeto para acabar isso. A gente sente que o Governador tem disposição e compromisso para liderar esse projeto, fazer um governo presente em todo o Estado.
Por: Elmaza Sadeck
Fonte: RG 15/O Impacto