Jota Ninos: “População tem que ser ouvida sobre demandas para orçamento do município”
Para o Jornalista e Analista Judiciário, orçamento participativo é ferramenta importante para direcionar aplicação de recursos públicos
Em entrevista, jornalista fala sobre sua carreira e pretensões políticas
Como jornalista, não há dúvidas que ele já escreveu seu nome na história da imprensa santarena. Sua atuação pautada pela importância de dar vez e voz à parcela da sociedade que de alguma forma busca por justiça, Jota Ninos nunca se deixou vencer pelas dificuldades que a profissão impõe. Com trabalhos marcantes, principalmente no jornal impresso e no rádio, conquistou o público que por meio de seus textos, vivenciam o que há mais essencial jornalismo, a luta contra as injustiças e a garantia da democracia. |
Mesmo como servidor concursado do judiciário estadual, contribui com a divulgação de notas sobre as ações da Comarca de Santarém. Nesta semana, ele conversou com o jornalista Osvaldo de Andrade, quando falou sobre de seus 35 anos atuando no jornalismo, e da possibilidade de vir candidato a prefeito de Santarém, nas eleições do próximo ano, pelo PCdoB, onde está filiado desde 2015. Acompanhe:
Jornal O Impacto: Fale um pouco sobre sua história no jornalismo?
Jota Ninos: Eu comecei a atuar no rádio trabalhando com o Osvaldo de Andrade, que apresentava o jornal do meio-dia na Rádio Rural. Eu atuava como repórter, dando notícia de Polícia. Agora no dia 10 de maio, completamos 35 anos de atividade. Em 1984 eu já tinha uma atividade social como jovem em movimentos de bairro, e tinha aquela coisa de ser polêmico; tanto é que quando cheguei na Rádio Rural o pessoal falou que eu fazia muita polêmica e virei o “Repórter Polêmico”. Isso me acompanhou para sempre. Tive vários problemas, muitos processos, brigas etc. Mas quem me conhece sabe que não sou tão polêmico assim. Eu sou bem quieto, mas eu defendo o que é certo e não abro mão. Nesse sentido que eu digo, radical, no termo raiz, para trabalhar, você defender as posições e convicções, mas sempre mantendo respeito com quem pensa diferente. Acho que isso é interessante e quando você tem um microfone, você tem essa coragem, que faz parte de ser jornalista. Estávamos vivendo ali o final do período de regime militar. Eu estava começando na Rádio Rural e trazia essa experiência de teatro popular nos bairros; comecei com pequenas notícias, depois de um ano criei o programa “Patrulhão da Cidade”, que era o primeiro programa específico de Polícia. Eu me lembro na época que quando o Eduardo dos Anjos era o nosso diretor, disse assim: ´- Você vai fazer o quê? A cidade mal tem roubo de galinha`. Eu com o Dornélio Silva,naquele momento trabalhávamos juntos, também o Gilberto Santos, levamos a ideias, e quem nos analisou foi o Jota Parente, nosso diretor de programação. Dissemos que o programa seria uma parte policial e outra parte seriam as broncas do povão, sendo que aí é que estava o grande negócio, pois recebíamos as cartas da população reclamando dos buracos, falta d’água, falta de luz. Nas eleições de 1985,quando Santarém saiu da área de segurança nacional, tínhamos quatro candidatos: Ronaldo Campos,Ronan Liberal, Geraldo Pastana e Terezinha Sussuarana. Então, lançamos a quinta candidatura, que era exatamente um dos nossos personagens. “Honestino Honesto da Silva”, era um personagem fictício e que era feito pelo Clenildo Vasconcelos, também nosso colega e que com sua experiência foi para televisão fazer um programa policial. Naquele tempo o voto era no papel, e por incrível que pareça, saíram 2 votos para o Honestino nas urnas. Essa experiência foi interessante. Na época, o Osvaldo era vereador, e eu sempre registro que a imprensa nunca conseguiu hoje o que se conseguiu naquela época, com Osvaldo e o Oti Santos sendo vereadores. Os dois saíram da imprensa direto para a Câmara. Em 1982, aquela eleição que teve 6 anos de mandato, depois disso só o Osvaldo conseguiu se reeleger. De lá para cá ninguém da imprensa se elegeu. É importante que o pessoal da imprensa continue tentando concorrer na política, para ter uma representatividade da comunicação, seja na Câmara ou na Prefeitura.
Jornal O Impacto: Você falou de processos que respondeu, pela sua forma de fazer o radiojornalismo, que desagradou muitas pessoas. Você respondeu a muitos processos?
Jota Ninos: Nunca tive condenação, mas teve processos que seguiram. Eu fui um dos primeiros repórteres naquela época a ser processado por um Prefeito, o Ronaldo Campos, que hoje já é falecido, que não gostava do nosso programa. O prefeito Ronaldo Campos era uma figura que tinha um temperamento muito difícil, ele inclusive não tolerava a oposição. Eu criei a história do “Prefeito Abelha”, que quando não estava voando, estava fazendo cera. Então, quando sai da Rádio Rural todo mundo pensava que eu tinha saído por conta disso. Quando fui para a Rádio Tropical foi a mesma coisa. Havia sempre uma influência do Prefeito em função da forma como eu criticava. Quando eu voltei para a Rural, depois que sai da Tropical, foi que veio o processo, sobre aquela história de 5 mil sacos de cimento que iam ser doados para construir um posto de gasolina, onde é hoje a Creche Ubirajara Bentes, lá perto da COHAB. Aquele local era para ser um posto de gasolina e havia uma negociação do Prefeito, segundo se falava nos bastidores, como os vereadores. A oposição de 5 vereadores fez um barulhão conseguindo segurar, inclusive o Osvaldo foi até testemunha do meu processo, porque a briga foi feia e eu fui o único naquela época que dei a notícia. Talvez o meu erro, naquele momento do afã, para chamar atenção dos vereadores para que aquela situação não acontecesse, foi ter usado a palavra corrupção. Era a primeira vez que alguém iria chamar um Prefeito de corrupto. Aí rolou o processo e a ideia era me condenar mesmo. Mas aí foram acontecendo as coisas e no final o processo acabou sendo extinto. Mas ficou a experiência, pois eu comecei a receber ameaças de pessoas que eram ligadas e que tinham algum tipo de relação com o Prefeito, com a política, e ligavam para o meu pai e diziam: ‘Tal hora o seu filho vai amanhecer com a boca cheia de formiga’. Mas nunca chegou ao ponto de agressão física. Naquele tempo havia muitas mortes, na época de pistoleiros matando em Santarém. Eu pedi para o Juiz me liberar para ir para Europa, já que o processo não andava e ele me liberou. Eu passei três anos na Europa, e quando voltei, meu pai disse: ‘Agora tu vai te quietar’. Aí quando eu cheguei fiz logo uma crítica para o prefeito Ronan Liberal, disseram que ia ter outro processo, mas foi só ameaça.
Jornal O Impacto: Fale sobre sua origem?
Jota Ninos: Eu nasci em Belém, vim para Santarém com 15 anos. No ano passado completei 40 anos em Santarém. Não tenho Título de Cidadão Santareno, mas sou santareno de coração. Amo essa terra, só vou em Belém para passear. Aqui tive meus cinco filhos, tive os meus casamentos. Aqui tenho os meus amigos. Então, tudo para mim é Santarém. Eu sou entusiasta de Santarém, pela luta pelo Estado do Tapajós, eu brigo com isso e questiono inclusive os movimentos feitos de forma errada. Eu sou de vestir uma camisa, mas quando for na hora de criticar, eu critico. Desde 1978 que eu moro em Santarém e aqui eu formei toda minha vida profissional. Meu pai era dono de uma lanchonete, o Nino Lanche. Falando nisso, todo mundo dizia: ´Vamos comer a Tilópia`, que era o principal salgado que tinha lá e todos conheciam. No último dia 5 de maio ele completaria 98 anos, mas faleceu já tem 4 anos. Essa é a minha carreira, essa é a minha vida e eu cheguei hoje aos 55 anos; eu acho que estou no topo de carreira como jornalista, pois tinha parado, já que estou trabalhando no Judiciário há 16 anos. Eu estava na gerência de Jornal na TV Tapajós e aí passei no concurso para Analista Judiciário. Eu quero fazer um agradecimento de público à Vânia Maia, que na época eu nem esperava passar, pois eram 15 vagas e passei em terceiro lugar, sendo que o concurso era para ensino médio. Depois que me formei em Jornalismo e quando falei para a Vânia e disse que havia passado no concurso, mas que não sabia se iria assumir o cargo, ela disse que era para eu assumir, que eu não podia perder a vaga; ela me deu força e disse: ‘- No setor público, concursado, você tem um salário um pouco melhor. Você muda a sua vida’.
Jornal O Impacto: Esse novo trabalho foi bem aceito por você, pois tem muito a ver com a função de jornalista?
Jota Ninos: Eu passei a trabalhar no Judiciário, no Tribunal do Júri. Passei um ano e meio em Ananindeua, depois consegui voltar para Santarém, onde estou trabalhando 15 anos no Tribunal do Júri. Fiz mais de 600 júris, auxiliando o Juiz. Foi uma baita de experiência, pois tinha muito a ver com comunicação, porque eu fazia o treinamento de jurados, eu falava sobre justiça, eu falava em julgar uma pessoa. Não é chegar lá e dizer que o cara é bandido. Você tem que chegar com a cabeça limpa, e a gente sabe que existe, também, os chamados júris midiáticos, que é quando a pessoa chega lá e a imprensa já bateu tanto no cara, que fica muito difícil de tentar mudar a cabeça das pessoas. Não é uma questão de puxar para um lado e para o outro. É justamente essa missão, vivendo na justiça, que foi interessante para me amadurecer para esse lado. Porque se antes havia aquela coisa de que eu sou esquerdista e só o que é ligado à esquerda me interessa. Claro que não! Eu tenho que ter uma posição enquanto jornalista, de uma visão do todo.
“Eu defendo o que é certo e não abro mão disso. Temos que defender as convicções, mas sempre respeitando quem pensa diferente”
Jornal O Impacto: Você assume o esquerdismo?
Jota Ninos: Sempre fui um esquerdista. O comunismo é uma coisa pesada de dizer, as pessoas falam muito sobre isso. O comunismo é uma filosofia criada pelo alemão Karl Marx, que fala da ideia, meio utópica, de que um dia a gente vai conseguir ser iguais. Ainda há a grande força do capitalismo, mas a gente tem que brigar por isso. Então, eu acredito, na verdade, que a implantação do comunismo é muito difícil, mas pelo menos um processo para se transformar um País mais socialista ou pelo menos social-democrata, que nós não conseguimos chegar. Nós tínhamos um partido da social-democracia, mas que não conseguiu nem ser social-democrata como era a social-democracia na Europa. O PT é mais social-democrata do que o próprio PSDB. Antes de entrar na rádio, eu já tive essa atuação política. Me filiei com 18 anos, concorri a Vereador em 1992 pela primeira vez e fui até 2007,foi quando eu pedi para sair, quando surgiu o “Escândalo do Mensalão”. Aquilo ali não ficou para mim muito claro, eu achei que algumas lideranças do PT cometeram erros e que isso não foi bem explicado. Achei que tinha que ser cortado na carne e eu peguei e sai, passei quatro anos sem nada. Depois eu decidi voltar, tinha que voltar pela esquerda, e o partido que tinha mais proximidade as minhas ideias era o PCdoB, que era um partido pequeno que estava se estruturando. Começou em 2008 e já tem 11 anos de atividades em Santarém. Eu procurei as lideranças, me filiei e comecei a trabalhar desde 2011. Na campanha de 2012, o PCdoB acabou fechando com o PT. Ajudamos na campanha da Lucineide, mas em 2016 decidimos nos desvincular do PT e fechamos com PSOL, que era um partido novo, que também saiu de dentro do PT e, junto com o partido Rede, apoiamos o professor Márcio Pinto, tendo eu como candidato a Vereador em 2016. De lá para cá a gente vem trabalhando isso, pode até ser que no futuro a gente volte a trabalhar com o PT. Acho que as esquerdas hoje estão tentando se unir, porque o momento é muito tenso; a opinião hoje está sendo rechaçada, você não pode ter opinião, se você falar alguma coisa contra alguém da esquerda vem todo mundo da esquerda é te apedreja. A mesma coisa é a oposição. Na hora que eu lancei a minha possível pré-candidatura aqui pelo Jornal O Impacto, nas redes sociais fui alvo de muitas cacetadas. Eu não tenho problema quanto a isso.
Jornal O Impacto: Já houve uma ideia do orçamento participativo em Santarém?
Jota Ninos: Exatamente. Nós temos uma ideia de voltar isso. Uma ideia que surgiu pelo PT, na prefeitura de Porto Alegre, foi bem apresentada e espalhada em vários governos do PT. Em alguns deu certo e em outros não. Temos ideia de voltar o orçamento participativo e talvez um pouco mais regionalizado. O Lira Maia quando foi Prefeito, acompanhei a campanha de governo dele, trabalhei na Prefeitura, na Divisão de Comunicação, sem nenhum medo de ser petista trabalhando lá. Mas o Lira Maia chegou um pouco mais perto disso, porque ele fazia o tal “Governo do Mutirão”; quando ele via a população, falava: ´Me diz três coisas que você quer na sua comunidade, e eu coloco no livrão`. Um livrão que ele tinha lá, é um pouco populista, um pouco demagógico, mas em muita dessas coisas ele conseguiu avançar. É preciso fazer alguma coisa nesse sentido, mas assim, ouvindo a população, as regiões e dizendo quais são as prioridades e como isso pode ser colocado no orçamento. Porque não adianta você dizer que vai fazer isso e aquilo, se você não tem orçamento. Acho que é possível se fazer com que o Município consiga arrecadar em outros lugares e de outras formas, sem precisar aumentar algum o tipo de imposto em que a gente só tem o IPTU, ISS e ITBI, que são pequenas taxas. Mas que, por exemplo, o ITBI se perde muito, o que é um grande problema, pois mais 80% das casas em Santarém,dos terrenos e imóveis, não são regularizados. O atual Prefeito chegou a falar que ia fazer isso e está começando a trabalhar nesse sentindo, mas é preciso fazer mais.
Por: Edmundo baía Junior
Fonte: RG 15/O Impacto