Artigo – Não somos um “paiseco” latino americano
Já fui confundido uma vez com sendo árabe, talvez pelo biótipo moreno. Isso foi na Escócia, na época em que trabalhei na exploração de petróleo no “Mar do Norte”. Foi exatamente por isso que mais tarde, lá pelos anos de 2013, quando trabalhava para uma empresa de petróleo francesa, fomos convocados para uma campanha de exploração no norte do Iraque e na Turquia. Dizia-se que, na época, o biótipo americano não era muito bem-vindo no oriente médio.
Trabalhando no norte do Iraque se podia ouvir ao longe os estampidos de bombas. Era o grupo terrorista do “Estado Islâmico” tomando os campos de petróleo do norte iraquiano e da Síria. Esse rápido crescimento do “Estado Islâmico” ocorreu após as postagens, em redes sociais, de militares americanos afirmando que não lutariam contra a Síria ao lado da Alkaeda (grupo responsabilizado pelo ataque terrorista às torres gêmeas).
Mais tarde, este envolvimento dos EUA com o “Estado Islâmico” foi desmascarado pelo serviço secreto russo (FSB) que vazou e-mails de Hillary Clinton e Joe Biden. Vazamento este que frustrou a eleição da candidata democrática e deu a vitória a Donald Trump. Até hoje, esse vazamento é considerado, nos EUA, uma intervenção russa nas eleições americanas.
O “Estado Islâmico” recebia armamento da União Europeia e EUA, conforme denunciado pela BBC de Londres, em troca do petróleo. Os terroristas transportavam o petróleo em comboio de caminhões até a Turquia, para posterior distribuição na Europa. Em 2015, quando a Rússia entrou na guerra, a pedido do governo sírio, quase 70% do território daquele país já estava nas mãos dos terroristas. Por isso, a aviação russa começou por minar a economia dos invasores através de bombardeio aos comboios próximos a fronteira turca.
Em resposta, a Turquia derrubou um caça bombardeiro russo em sua fronteira. Naquele momento a mídia ocidental, principalmente, a brasileira, passou a endeusar o presidente turco Erdogan, com muitos elogios. As tensões subiram muito entre os dois países por causa do ocorrido. O presidente Putin resolveu então transformar o limão em limonada.
Após intensas discussões entre os governos, a Rússia ofereceu a Turquia uma parceria na famosa “South Stream”, que são gasodutos para levar o gás barato da Rússia para a União Européia. O gás que foi o estopim da guerra da Síria. Além disso, foi costurado o acordo de venda do sistema anti aéreo mais avançado do mundo, os S-400. Os acordos deixaram os americanos furiosos.
Em resposta, no ano de 2016 os EUA iniciaram um golpe de estado na Turquia. O presidente Erdogan reagiu e debelou o golpe com a demissão e prisão perpétua de 2800 juízes e promotores. Também foram presos mais de 6 mil militares. No outro dia, já se ouvia na imprensa brasileira o nome do presidente Erdogan com o mesmo adjetivo dado ao presidente sírio: “ditador”.
Após a prisão dos golpistas, o ex presidente turco Abdullah Gul declarou na época à CNN que, a “Turquia não era nenhum paíseco da América Latina para sofrer um golpe dos EUA”. Michel Temer, que havia assumido a presidência do nosso país, quase na mesma época, não reagiu ao insulto, nem defendeu nosso país, respondendo ao ex presidente turco que não éramos nenhum “paiseco”.
RG 15 / O Impacto