Com disputa de poder, campo da Assibama pode estar vivendo últimos dias
O tradicional campo da Assibama vem nos últimos anos passando por um imbróglio que envolve a sua localização. O terreno onde está localizado abrigava em uma parte e por muito tempo a sede do IBAMA, sendo cedido pela foi cedido pela União ao Instituto Florestal Brasileiro e ao ICMbio, que agora querem construir em todo aquele espaço. O problema? Os moradores do bairro não estão dispostos a deixarem isso acontecer tão facilmente.
É nesse cenário que surge uma disputa entre duas figuras que parecem buscar o mesmo objetivo – a permanência do campo –, mas que procuram manter distância. De um lado está Jurandir Azevedo, presidente da Associação do Bairro Laguinho, e do outro Ianne Monteiro, líder do Movimento de Resistência Pela Área da Assibama. Enquanto o primeiro afirma que o movimento de resistência não representa a comunidade do bairro Laguinho e não tem qualquer vinculo com a associação de moradores, a segunda diz que Jurandir não é mais presidente da associação de forma legal e que ele não está ao lado da causa comunitária pelo campo.
INÍCIO DOS CONFLITOS
De acordo com Jurandir Azevedo, a questão envolvendo o campo da Assibama é longa e cheia de reviravoltas, tendo começado primeiramente quando o campo era vizinho apenas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o IBAMA.
“Aquela área é da União e cedido ao IBAMA, e os funcionários de lá resolveram fazer uma estrutura de esporte e lazer ali, que tinha restaurante e campo de futebol abertos para todos. Só que esse projeto não deu certo e o terreno voltou a ser do IBAMA, que colocou muita madeira apreendida naquele espaço. Começamos a lutar, levar a imprensa e conversamos com o Ministério Público, que mandou retirar todas as madeiras, ficando novamente com a área livre e usando o campo para esporte e lazer. Um tempo desses o IBAMA devolveu a área para a União, o que não sabíamos e quando ficamos a par de tudo a área já não era mais do IBAMA, mas sim para o ICMbio, que iria construir sua sede própria no município. Continuamos brincando ali na área. Certo dia, o engenheiro da obra do ICMbio me avisou que a obra ia começar na segunda-feira seguinte e convidei os representantes dos clubes para que mudássemos as traves do local, pois a área ainda era de nossa responsabilidade. Mandamos um documento para o ICMbio pedindo para que pudéssemos continuar usando o espaço para a prática de lazer por um tempo determinado”, relata Jurandir.
GRUPO DE RESISTÊNCIA, SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO
Segundo Jurandir, no meio desta questão em prol do campo surgiu um grupo alheio a associação de moradores do bairro laguinho. No papel, o grupo de resistência busca também a manutenção do campo, mas busca não se relacionar com Jurandir Azevedo.
“Foi criado um grupo de resistência pela senhora Ianne Monteiro e o senhor Gilmar, que moram lá no bairro, querendo toda a área do campo da Assibama. Esse grupo não foi à associação que criou, mas por conta própria. Já que 80% daquele espaço está ocupado pelos dois órgãos, ficamos com apenas 20% e queremos ficar com ele. A associação não é contra que nenhuma pessoa possa reivindicar esses bens para a comunidade, mas queremos trabalhar juntos e unidos, deveríamos estar a frente do movimento também, mas ela não aceita que fiquemos lá, quer fazer a dominação do movimento sozinha. Precisamos de um trabalho coletivo. Se ela quisesse, ela convidava o presidente da Associação para entrar também na luta pelos 20% que nos sobra”, afirma Jurandir.
LADO DO GRUPO DE RESISTÊNCIA
No entanto, a jornalista Ianne Monteiro tem outra versão para os fatos relatados até então por Jurandir. Segundo ela, o grupo de resistência surgiu da necessidade de se ter representantes mais firmes na luta pela manutenção do espaço da assibama – que não é de apenas 20% como se afirmavam.
“Esse movimento surgiu a partir do momento que a gente percebe que o serviço florestal brasileiro, naquele mês de fevereiro ia cercar toda aquela área, que comporta da Trav. 24 de outubro até a Av. Tapajós, vindo pela Antonio Justa. Eles começaram a cercar a área para começar a obra, aí meu amigo “Cachorro”, que tem uma oficina bem em frente à obra, me acionou, foi até lá em casa e disse que a gente deveria fazer alguma coisa para parar aquilo lá, que não poderia perder uma área que vinha sendo utilizada pela comunidade há mais de trinta anos – para pelada, futebol, campeonato. É uma área de lazer e é o último espaço que a gente tem de terra, que jogasse futebol. Todos os outros que a gente tinha – 25 campos naquela zona que compor 11 bairros do Mapiri a Prainha – foram tomados, restando apenas este pedaço, que a gente chama agora de Arena Tostão”, relata Ianne Monteiro.
APOIO DENTRO DO MOVIMENTO
Segundo Ianne Monteiro, o grupo de resistência conta com apoio de nomes de relevância dentro da sociedade santarena, como o Dr. Hiroito Tabajara Dr. Tabajara (advogado do movimento), Nelson Mota (radialista que faz a mídia e divulgação do movimento), e até mesmo Bena Santana, consagrado repórter santareno e colunista do Jornal O Impacto. Segundo ela, este é o grupo que luta pela manutenção do Campo da Assibama, não existindo um grupo contrário, nem mesmo na associação de moradores.
“Não existem dois grupos brigando pelo espaço, é mentira. O que existe hoje é uma pessoa que se intitula presidente da associação, mas que está com o seu cargo vencido desde maio deste ano. Ele nunca fez prestação de conta com ninguém, também não convocou ninguém para fazer a eleição para a escolha da nova diretoria e está andando com um documento dizendo que ele é presidente até o final do ano. Isso não existe, já conversei com o Erlan, que é presidente da Fancos, e ele disse que esse documento não existe, que temos que procurar os meios legais para haver uma eleição de uma nova diretoria dentro do bairro do Laguinho. Não quero nada para mim, não estou brigando para ficar para mim, mas para a comunidade, é um lazer para os nossos filhos, nossos netos e outros que virão, é a última área que a gente tem. Perdemos a área da Vera Paz por jogos políticos, porque foi vendida, disseram que era um sitio arqueológico e hoje vemos lá três silos de uma grande empresa que ninguém tira mais de lá, que é a Cargill”, afirma Ianne.
VIAGEM E ACORDO EM BRASÍLIA
De acordo com a líder do movimento, em 22 de fevereiro de 2018 houve uma audiência pública, em Brasília, com o gestor federal do Serviço Florestal Brasileiro. Na ocasião estavam presentes o Prefeito Nélio, o então vereador Henderson Pinto, o vice-prefeito José Maria Tapajós, Beto Farinha (vereador de Mojuí dos Campos), além do procurador do município e a própria Ianne Monteiro. Segundo Jurandir Azevedo, ainda que tenha conseguido um acordo para que o campo permanece intacto pelos então próximos dois anos, Ianne teria ido para a reunião sem a aprovação da associação de moradores, afirmando que ele era quem deveria ter participado do momento.
“Toda aquela área é deles, estamos jogando lá apenas pelo acordo que foi feito lá em Brasília, quando o prefeito Nélio foi lá com sua comitiva e levou a Iane Monteiro para representar a comunidade. Ela não foi indicada para ir pela associação. No acordo, eles não conseguiram a área toda, como ela queria, apenas os dois órgãos deram um prazo de dois anos para ficarmos ali, até que o prefeito e Estado conseguissem outra área ali na CDP (Companhia Docas do Pará) para mudar o campo para lá, o que até agora não aconteceu. Pelo documento que recebi, esses dois anos vão acabar agora em fevereiro, só que a situação piorou porque o ICMbio está fazendo um aterro para a obra e acabaram avançando na área que ainda estamos utilizando. Essa é a briga de impedir a Av. Tapajós, chamar a atenção da imprensa. Todo esse movimento não foi a associação que fez, foi o grupo formado por ela. A única área que nos restou ali é aquela e se por acaso não conseguirmos esse espaço, onde que vamos conseguir um lugar para a prática esportiva? Não temos”, ressaltar Jurandir Azevedo.
POSSÍVEL MUDANÇA PARA OUTRO LOCAL
Ainda tais lideranças comunitárias não demonstrem querer nenhuma relação de parceria entre ambos, muito por conta do imbróglio envolvendo presidência da associação de moradores. Quando se trata de uma possível mudança no campo, os discursos se alteram ainda mais, tendo em vista que enquanto um, mesmo não querendo sair do local, diz aceitar a mudança, o outro não trabalha com a possibilidade de mudança de maneira alguma.
“A gente espera que consigam para nós outra área da CDP para fazer a mudança para lá. A área ainda está lá, precisamos justamente de uma autorização do governo do Estado, junto com o município para fazermos a mudança para lá. Se tivéssemos este espaço seria ótimo. O outro grupo parece querer ficar no espaço que estamos agora, com apenas 20%, o que também sou a favor, pois se ficássemos com aquela área também já estaríamos bem servidos para fazer aquelas outras obras – como creche e posto de saúde, que atualmente funcionam todos em prédios alugados”, finaliza Jurandir Azevedo.
“Não sou contra ninguém, não quero espaço para mim, mas para a comunidade. Estamos defendendo um espaço para ficar para Santarém, porque vai que de repente a gente construa uma creche, um posto de saúde. Não vai beneficiar todo mundo? Não vamos mais abrir mão daquele espaço não. Ele, que se intitula presidente de lá, sempre aceitou esse acordo com o serviço florestal, tanto é que os eventos que acontecem naquele espaço que está para a comunidade são deliberados por nós da comissão. Não decido nada sozinha, sentamos e a gente decide, mas a partir do momento que o ICMbio invadiu um espaço que por enquanto é da comunidade, a gente não abre mais mão. Não temos a pretensão de trocar aquela área por outra”, Finaliza Ianne Monteiro.
Por Michael Douglas