Selic a 4,5% fará renda fixa e poupança renderem menos do que a inflação
Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros da economia, a Selic, para 5% ao ano e indicou que haverá outro corte de 0,5 ponto percentual ainda este ano. Analistas de mercado estimam que a Selic encerre este ano — e também 2020 — em 4,5%. Para a inflação medida pelo IPCA, as projeções são de 3,3% em 2019 e 3,6% no ano que vem. Nesse cenário, especialistas alertam que as tradicionais aplicações de renda fixa livres de risco perderão da inflação no ano que vem.
De acordo com simulações feitas pela assessoria financeira All Investimentos, por exemplo, cuja rentabilidade é de 70% da Selic, renderá apenas 3,15% ao ano. Já o Tesouro Direto Selic, resgatado no prazo de 12 meses, terá um rendimento de 3,35%, descontando-se o Imposto de Renda e a taxa de custódia da B3.
Os fundos DI, que acompanham a rentabilidade do CDI, têm cobrado, em média, 1% ao ano de taxa de administração e, assim, renderão para o investidor apenas 2,8% ao ano.
— Os fundos DI só irão render acima da inflação com taxa de administração menor que 0,3% ao ano. Hoje, quase nenhuma gestora cobra tão pouco, principalmente para baixos aportes, que é o que deveria ficar nesses investimentos líquidos. O brasileiro que está acostumado a investir no CDI vai ver o seu rendimento ser corroído pelo imposto e pela inflação — afirma Henrique Bousquat, estrategista da All Investimentos.
Para especialistas, a partir de agora os investidores terão de entender melhor o que precisa ficar como reserva de liquidez na carteira e o que deve ficar como investimento.
— Não dá mais para ter liquidez, baixa volatilidade e rendimento no mesmo produto. É preciso abrir mão de alguma coisa. O brasileiro vai ter de aprender a investir — afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.
Apesar da rentabilidade baixa, o Tesouro Selic ainda é considerado uma boa opção para guardar a reserva de emergência, que deve ter acima de tudo liquidez, ou seja, a possibilidade de resgate rápido, com a menor incidência possível de IR. Outra alternativa é buscar fundos de renda fixa com liquidez e que invistam parte da carteira em crédito privado, para ter uma rentabilidade um pouco maior.
— O investidor precisa, mais do que nunca, procurar uma assessoria para buscar opções no mercado e exigir rentabilidade. Fundos de renda fixa terão de cobrar menos que 0,3% de taxa de administração ou assumir mais risco, senão, não fazem sentido — diz Bousquat.
Outra recomendação é entender melhor o que de fato é preciso investir a curto prazo. A médio e longo prazos, a renda fixa ainda tem boas opções, mesmo no Tesouro Direto, que tem títulos rendendo de 2% a 3% acima da inflação. Fundos de crédito privado, com debêntures incentivadas, que são isentas de IR, são opções para ter rendimento superior ao de títulos públicos. Mas, se o resgate for feito em um momento ruim do mercado, o investidor pode amargar perdas.
Fonte: Jornal Extra