Artigo: A economia estilo unicórnio
Por Oswaldo Bezerra
Quem viveu nos anos 90 lembra bem do boom das pontocom. Também deve lembrar do estouro da bolha das empresas de tecnologia em todo o mundo. Estouro que gerou perdas de 5 trilhões de dólares. A história se repete hoje com a chegada da Wework, UBER, Lyft e outras entidades. São as chamadas “non com”.
O massacre atual que sofrem as empresas unicórnio (empresas que sobrevivem sem nunca dar lucro, só prejuízo) é o contrário do que ocorreu nos anos 2000. As ofetas públicas que não estão se saindo bem em vendas como UBER, Lyft e Peloton, e como as que nem chegaram a se materializar, como a Wework apresentam claras similaridades com o estouro das bolhas das chamadas pontocom no ano 2000.
Veremos algumas das similaridades. Primeiro, em ambas ocasiões as empresas desperdiçaram dinheiro em publicidade que custou a trazer benefício. Em segundo, as empresas prometiam mudar o mundo mas acabaram ficando sem dinheiro. Em ambas ocasiões, as empresas se vangloriavam do seu alto valor de mercado, que acabaram caindo pela metade em poucas semanas. Por fim, a grande euforia foi pouco a pouco desaparecendo e dando lugar a sensatez, quando milhares de pessoas acabaram desempregadas.
Um exemplo da insensatez foi a precificação da empresa WeWork em 48 bilhões de dólares, antes mesmo de funcionar. Antes de entrar na bolsa, a Wework vendeu 1 bilhão de dólares em ações. Para os capitalistas de risco, a mentalidade das empresas unicórnios favoreceram este tipo de crescimento. Elas alimentam ilusões.
Estas empresas gostam de ser chamadas de empresas de tecnologia na verdade, não são. Por isso, foram apelidadas de noncom. A Wework, por exmplo, não passa de uma imobiliária. É um dos setores mais antigos da história. No entanto, ela se apresenta como uma empresa tecnológica, que proverá grande rentabilidade para os investidores.
O início da bolha das pontocom foi em 1995. As ações da empresa Netscape passaram de 28 para 75 dólares, mesmo sem a empresa dar lucro. Hoje ocorre o contrário, as empresas já são aniquiladas nas portas do mercado. Por exemplo, antes mesmo da estreia nas bolsas, as ações da WeWork cairam 80%, quando os investidores perceberam as enormes perdas da empresa.
UBER, Lyft e Peloton têm dificuldade para que lhe outorguem uma classificação em curva. As três tiveram desvalorização já no dia dos seus lançamentos. Não lhes respaldaram o valor que eles queriam valer. Os grandes grupos de mídia não têm mais a capacidade de controlar o chamado dinheiro burro, o de investidores comuns, para direcionar a estas empresas.
A WeWork propagava que os EUA, através dela, poderia dominar o mercado imobiliário de todo o mundo. Foi uma venda de ilusão que conseguiu arrecadar bilhões de dólares. Qualquer mentira hoje pode arrecadar muito dinheiro através das (milhares) empresas de capitais de risco. Estas mesmas que fazem propagandas no youtube, prometendo que você ficará rico na Bolsa.
Os unicórnios são criaturas místicas e mágicas. Hoje vivemos em um mundo de juros negativos (só para as corporações), podemos pensar que o fato de uma empresa sofrer grandes perdas, e ser compensado, por seus acionistas, é uma coisa boa. Essa loucura se observar no mercado de petróleo de xisto dos EUA. Investidores alocaram bilhões de dólares em dívidas. Todas as contas destas empresas mostram que nuca ganharam dinheiro, nem quando o petróleo era 20 dólares, nem quando era de 110 dólares.
Hoje os EUA se vangloriam que produzem mais petróleo que a Arábia Saudita. Contudo, as empresas dos reservatórios de xistos estão sofrendo uma crise por queda de produção e as altas dívidas. Isso as coloca na alça de mira dos investidores. A Schlumberger, por exemplo, está sofrendo perdas na ordem de 12 bilhões de dólares por ano. O custo de produção de um barril de petróleo na Arábia Saudita é de 2 dólares. No pré-sal do Brasil o custo é de 6 dólares. Já nos EUA, para produzir um barril de petróleo, nos campos de reservatório de xisto, uma empresa precisa pedir emprestado 2 mil dólares.
Por isso, países produtores de petróleo debocham da produção de petróleo, caríssima, dos EUA. Da mesma maneira um motorista de táxi, que conhece o custo de seu trabalho, se abisma com a concorrência do UBER, que só perde dinheiro. É onde se materializa a terrível face da economia unicórnio.
RG15/O Impacto
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