Opinião – Mulher: existência e resistência | Por Isabelle Maciel*
Por que escrever sobre mulheres e suas dores, lutas e reivindicações? Não seria melhor escrever sobre como nós apenas nos preocupamos com roupas, maquiagens, cabelo e a casa? Deve ser porque somos além disso e sem deixar de, talvez, gostar de tudo isso.
Fortes para enfrentar e combater as desigualdades, destemidas para alcançar suas metas, capazes de chegar a cargos altos e se tornarem chefes em empresas, por aí vai a minha lista sobre o nosso poder feminino, mas ao mesmo tempo que somos capazes de tudo isso e muito mais, somos inseguras… E realmente no sentido da falta de segurança, em andar pelas ruas sozinhas, por exemplo.
Você, homem, que está lendo agora, imagine: andar por aí sozinho e com medo, sempre olhando para todos os lados para checar se está tudo seguro, se preocupar se a roupa que você vai sair de casa pode chamar muita atenção e “causar” assédios, ou em ter que esquivar de alguém te importunando sexualmente dentro do ônibus. Dá para imaginar isso acontecendo com você quase todos os dias? Não? Deve ser porque você é livre de julgamentos para fazer algo, ir em algum lugar, vestir o que quiser, e olha que isso é só um pouco da lista do que nós, mulheres, enfrentamos para habitar este mundo.
Nascer mulher, ou como Simone Beauvoir escreveu, “tornar-se mulher”, não é nada fácil e a situação só piora quando vamos ler os dados de pesquisas e percebemos que o Brasil, entre 83 listados, é o 5º país onde nós mais somos mortas de forma violenta todos os dias.
Sim, entre mais de 80 países, o nosso está no top 5, e segundo os dados do Mapa da Violência que foi produzido através de pesquisas pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), entre os anos de 2003 e 2013 o número de mulheres brutalmente assassinadas subiu de 3.937 para 4.762, onde a maioria das vítimas são as mulheres negras, contabilizando cerca de 13 feminicídios por dia.
Você já ouviu ou leu em algum lugar essa palavra? Feminicídio? Se não, deve estar se perguntado o motivo de eu não ter escrito homicídio no lugar, mas isso é devido ao fato de que o termo é utilizado quando o “motivo” do crime é devido ao gênero, ou seja, milhares de nós morremos todos os anos apenas por sermos mulheres. E ainda existem aqueles homens que se incomodam com a utilização desse termo, pois alegam que todos somos humanos e não tem necessidade diferenciar o assassinato entre os sexos. Para esses não adianta perder tempo explicando o contexto, apenas o pergunte se algum conhecido dele morreu apenas por ser homem.
São muitos dados, muitas violências não só físicas, muitas questões a serem debatidas, muitas conquistas que ainda precisamos alcançar, mas resolvi primeiramente escrever um pouco sobre a nossa luta diária para sobreviver, pois antes de qualquer coisa precisamos estar vivas para seguir lutando. Agora convido você mulher a refletir comigo sobre a nossa condição, ou melhor, as condições que nos são impostas… Devemos ficar caladas diante de tanta injustiça? Devemos nos privar das nossas vontades por conta do julgamento alheio? Devemos aceitar ganhar menos que homens que ocupam os mesmos cargos que os nossos em uma empresa? Devemos achar comum que eles matem todos os dias várias de nós por sermos e existirmos?
A minha resposta para todas essas perguntas é “Não!”, e por isso decidi escrever sobre mim e sobre você, mulher. E a sua resposta para todas essas perguntas, qual é?
*Isabelle Maciel é Jornalista
RG 15 / O Impacto
Minha resposta também é NÃO!
Texto ótimo!
Não vamos fechar os olhos e fingir que está tudo bem. Somos e merecemos mais! Inclusive os direitos básicos, como liberdade de ser e existir, que muitas vezes são para inglês ver.