Artigo – Os Impactos da Covid-19 na economia de Santarém, no estado do Pará

Por José de Lima Pereira, M.Sc.*

O surto do novo COVID-19, que surgiu em dezembro na China, infectou milhares de pessoas ao redor do mundo. O impacto da doença se refletiu também na atividade econômica, que vem sofrendo perdas significativas. O setor aéreo estima que as perdas globais de receita do setor devem ficar próximo dos US$ 113 bilhões, equivalentes a R$ 592 bilhões, pelo câmbio de hoje (R$ 5,24).

As empresas brasileiras, em média, perderam significativos valores de mercado e o principal índice de lucratividade do país, o Ibovespa, despencou para 29,6%. O dólar andou na contramão das perspectivas, chegando à taxa de R$ 5,24.

No comércio exterior, a pandemia ainda não afetou a balança comercial brasileira, que em fevereiro fechou com superávit de US$ 3,1 bilhões — o terceiro melhor resultado para o período desde 1989.  O desempenho reverteu o déficit de US$ 1,74 bilhão de janeiro e, com isso, a conta de comércio acumula no ano, saldo positivo de US$ 1,36 bilhão. Os dados do mês de março ainda não foram fechados pelo Ministério da Economia, mas espera-se que a balança comercial e a de serviços, obtenham resultados, embora tímidos, ainda positivos em relação aos meses anteriores, por conta do cenário favorável do setor de agronegócio, por conta da alta taxa de câmbio.

Os impactos da pandemia na economia do município têm números bem significativos. A começar pelo Produto Interno Bruto Municipal (PIB-M) que poderá cair dos atuais R$ 4,97 bilhões, para R$ 4,84 bilhões, ou seja, uma queda de pelo menos 2,65% em 2020. O PIB per capita que até o final do ano de 2019 foi de R$ 16.318,44, poderá cair para R$ 15.886,00.

Entre as atividades mais afetadas estão: o varejo tradicional, formado de pequenas mercearias, kit-boxes e mini-boxes, que conta com mais de 3,5 mil pontos espalhados pela área urbana (61%) e rural (39%) do município; o segmento de modas, especificamente confecções, calçados e acessórios, com mais de 2 mil pontos, que já amarga uma queda em pelo menos 15% de suas vendas nos últimos 60 dias; a construção civil, que vinha de vento em popa, teve que parar por conta da pandemia.

Nesse segmento, segundo dados do CREA/PA (2020), o município contava até o final do ano de 2019, com 4,5 mil obras em andamento, que tem hoje mais de 60% delas paralisadas.

O segmento de combustíveis e derivados de petróleo, em razão da queda do preço do petróleo cru, nos últimos meses, no mercado internacional, em decorrência da redução drástica do consumo mundial, em que pesa a taxa de câmbio nas alturas, tem recuado com os preços na ponta. Um dos postos que vendia, no final do ano de 2019, 900 m³, no mês de março, passou a vender 715,9 m³, ou seja, uma queda de 25,4%. No tocante, dos 75 postos revendedores do segmento que fecharam o ano de 2019 com venda de 22,3 mil m³ (22,3 milhões de litros), já fazem conta com uma queda de pelo menos 15% para 2020, mesmo com os preços dos combustíveis, momentaneamente em queda, que só não tem resultados mais acentuados em suas quedas, em face ao setor de transporte rodoviário de cargas, que se tornou essencial em meio à pandemia.

No segmento de transporte de carga e passageiros intermunicipais, as empresas vêm amargando sérios prejuízos, visto o isolamento social solicitado pelo Ministério da Saúde e seguido pelos decretos de governos estaduais e municipais, que impede de transportar passageiros, enquanto durar o cenário de pandemia. Muitas embarcações estão ficando em suas cidades de origem, reduzindo ao máximo o número de viagens, transportando apenas cargas, com o objetivo de promover o abastecimento, principalmente de alimentos, em toda a região.

Navios com passageiros de outros estados (Amazonas e Amapá), com passageiros, não estão autorizados a atracar em Santarém (cidade polo).

No mês o barco estão outros segmentos relacionados ao consumo de combustíveis e derivados de petróleo, como os de venda automotiva (veículos, caminhões, motocicletas e outros), que amargam queda nas vendas em pelo menos 30% em relação à média de vendas do ano passado.

No setor de mecânica (leve e pesada), a queda média no primeiro trimestre de 2020 já chega a 11,5%. As oficinas, que até o mês de janeiro, estavam abarrotadas de serviços, hoje estão com os seus pátios utilizando 60% da capacidade instalada.

O setor de turismo, também foi prejudicado com a pandemia. Entretanto, é o momento em que, hotéis e pousadas, entram em período de manutenção e reformas, muito embora, o número de reservas para este trimestre, em decorrência das incertezas, tiveram seus números reduzidos em 20%, com relação ao mesmo período de 2019.

No meio à crise econômica municipal por conta do COVID-19, alguns segmentos estão comemorando os resultados positivos. Entre eles estão o setor de abastecimento alimentar (mercados, supermercados, atacarejos e outros), que no mês de março tiveram suas vendas médias elevadas em 9,87%, em relação ao mesmo período do ano passado.

O mesmo vem acontecendo com o setor de farmácias, com média de vendas elevadas em 10,54% no mês de março/2020 em relação às vendas do mesmo período do ano passado.

Os restaurantes tradicionais, passaram a utilizar-se do e-Comerce, que é a venda por algum meio eletrônico e foram poucos que deram férias aos funcionários. Alguns, pelo contrário, contrataram profissionais em março/2020. O segmento aproveitou o momento para se aliar ao transporte por motocicletas, que também teve crescimento de 5% no primeiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado.

O Produto Interno Bruto (PIB) que é uma equação que soma o consumo das famílias (C), mais os investimentos privados (I1), mais os investimentos públicos (I2), mais os gastos do governo (G), mais as exportações (X) e menos a importações (M), teve seus resultados no primeiro trimestre do ano, alterados.

Queda no consumo das famílias, com as exceções do consumo de água, energia, internet e outros serviços de utilidade pública; redução dos investimentos privados, principalmente na aquisição de bens de capital e na construção civil; redução dos investimentos públicos que tiveram seus orçamentos deslocados para a saúde, justificados por medidas emergenciais; elevação dos gastos do governo, especialmente no segmento da saúde pública; manutenção das exportações, principalmente os contratos de agronegócios que já estavam pautados e; a redução das importações, principalmente de produtos da China.

*JOSÉ DE LIMA PEREIRA, é economista, mestre em economia, pesquisador do desenvolvimento econômico regional por mais de 30 anos. Tem mais de 200 trabalhos publicados na área de economia e desenvolvimento econômico.

RG 15 / O Impacto

2 comentários em “Artigo – Os Impactos da Covid-19 na economia de Santarém, no estado do Pará

  • 2 de abril de 2020 em 17:12
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    Excelente !Parabéns! Eu gostaria de saber o que o Prof. diz sobre os efeitos , efetivamente os locais desse panorama, especificando Santarém; e, seu parecer pessoal sobre as diversas consequências… p.ex., se essa pandemia não passar daqui a 3 meses o que vai surgir em Santarém e em todo o Brasil … saques no comércio , quebra e invasão de empresas , volta do cangaço cru e nu … a polícia não dará conta de estar em todos os lugares por isso quem não tem arma de fogo em sua casa compre agora, procure a Polícia Federal ,se vire … Temos que rezar para o Brasil e o Mundo sair dessa situação sinistra ,ter paciência , calma e ficar preparados inclusive pra isso … Prof. Lima é um gentleman e muito inteligente .

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  • 2 de abril de 2020 em 09:26
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    Matéria muito boa. O professor José Lima é especialista nesse assunto.

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