Artigo – Coronavírus III: Economia e “Lockdown”
Por Everaldo Martins Neto
Este artigo tem um objetivo claro: defender que seja prorrogado um “lockdown” na região do oeste do Pará, principalmente em Santarém, por pelo menos um mês. Vou explicar o que é o “lockdown”, como funcionaria e por quê ele é necessário. Também vou discutir os inegáveis impactos econômicos que o coronavírus esta trazendo e como mitigá-los.
Em todo o mundo se sabe que a pandemia vai diminuir a renda dos trabalhadores e os países estão se mobilizando pra lidar com o problema da melhor forma. Infelizmente, no Brasil tem tanta coisa errada que por vezes é difícil discernir qual problema é maior. O debate a respeito do contraste entre a economia e a quarentena tem variações ao redor do mundo, mas há um consenso de que é necessário achar um equilíbrio responsável entre os dois, e um não exclui o outro. Parece que não acontece assim aqui.
Honestamente, eu não vejo saída clara. Está claro para mim que não estou na posição de criticar quem não pode ficar em casa porque usufruo desse privilégio, e a ânsia dos comerciantes é justificada. Porém, não consigo ver, hoje, um cenário em que possamos salvar a economia. Eu defendo pelo menos um mês de lockdown, e defendo que nesse período haja pelo menos algumas dessas medidas: subsídios para pequenos comerciantes, renda mínima de pelo menos 1000 reais por domicílio variando de acordo com o número de moradores, o cancelamento de aluguel e contas de luz e água, instalação de moradores de rua em pequenos hotéis, diminuição da população carcerária e um orçamento “de guerra” para a produção de equipamentos de proteção individual para profissionais da saúde. Nao há como a maquina estatal aguentar, e os efeitos disso serão sentidos por algum tempo.
Porém, a outra alternativa é muito pior. Além de um cenário econômico desastroso, nosso sistema de saúde também quebraria, o que significaria ainda mais mortes evitáveis, e cada vez mais o vírus atinge pessoas que fazem parte do nosso círculo. O meu pai é médico, e todo dia me preocupo com o dia dele. Não o abraço há alguns meses e o vejo pouquíssimo, apenas quando ele passa de carro na frente da minha casa. É difícil, mas necessário. Moro com meus avós e eles são do grupo de risco, e todos os dias tenho medo de que o vírus chegue até eles de alguma forma.
Ainda podemos reverter a situação. Devemos nos preocupar com a economia depois. Primeiro, devemos proteger a população. Eu defendo – como expliquei no último artigo há cerca de um mês e mencionei anteriormente – que seja instaurado um “lockdown” de, a princípio, quatro semanas, até a primeira semana de Julho. O “lockdown” é o termo em Inglês para o confinamento total, no qual ninguém é autorizado sair de casa a não ser que seja para atividades essenciais, passível de multa e prisão. Não é só fechar o comércio. É proibir também a circulação de pessoas com mais rigidez. O baque vai ser duro e as autoridades têm que fazer e gastar todo o necessário para mitigar os danos, tomando algumas das iniciativas que mencionei acima. Não há dúvidas de que muitos irão sofrer no âmbito psicológico, físico e principalmente financeiro, e devemos todos nos solidarizar e ajudar uns aos outros.
Desde já, os governos devem pensar soluções não só para os impactos nas próximas semanas, pensando inclusive na taxação de grandes fortunas e alocação de recursos para um seguro desemprego que dure enquanto a pandemia estiver conosco, mas para os próximos meses, formulando políticas públicas que estejam de acordo com as recomendações médicas para a abertura do comércio de forma responsável e não cedo demais.
Torço todos os dias para o governo acertar. Torço pra que tomem medidas pontuais e necessárias, e para que procurem se prevenir para evitar que a catástrofe se dissemine ainda mais. Fico esperando que cuidem também dos problemas que a pandemia fez com que piorassem, como a fome, a depressão, o alcoolismo e a violência doméstica.
Espero realmente que aprendamos algumas lições. A ciência é necessária. Nem todos os políticos são farinha do mesmo saco. É preciso votar com consciência. Também devemos repensar toda a nossa estrutura social, que permitiu que a pandemia nos atingisse tão forte. Mais valorização e incentivo ao trabalhador. Mais justiça social e, urgentemente, mais mecanismos de distribuição de renda e recursos naturais. Não é mais preciso repetir que a pandemia só expôs e potencializou problemas que já existiam muito antes dela.
Por fim, por favor, se puder, fique em casa. A verdade é que a situação é muito difícil e preocupante, e é compreensível sair por conta de trabalho. Mas no mais, fique em casa. E se possível, evite ouvir notícias a todo momento sobre o coronavírus, é importante manter a cabeça sã e lembrar que existe um mundo além da pandemia.
RG 15 / O Impacto