Artigo – Uniões Soviéticas dos Dias de Hoje
Por Oswaldo Bezerra
Nos seus últimos anos, a União Soviética sofreu com falhas catastróficas de liderança e com tensões socioeconômicas suprimidas, que acabaram por transbordar. No seu final, a União Soviética virou campo fértil para piadas políticas.
Uma história popular russa conta que um jovem que gritou na Praça Vermelha que, o decrépito líder soviético, Leonid Brezhnev era um idiota foi condenado a 25 anos e meio de prisão. Seis meses por insultar o presidente, e 25 anos por revelar segredos de estado.
A reação furiosa do governo Trump ao livro do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton não é diferente da estória da praça vermelha. O livro é considerado perigoso, não tanto porque insulta Donald Trump, é porque revela que o presidente é profundamente incompetente e “surpreendentemente desinformado”.
Óbvio, o mundo inteiro agora sabe que os EUA carecem de orientação estratégica e liderança executiva coerente. Por isso, o Partido Comunista Chinês apoia mais quatro anos de Donald Trump.
São nos momentos de grande crise que descobrimos como somos. A resposta governamental à pandemia do COVID-19 prova isto. Governos de alguns países ao invés de unirem esforços para combater a crise foram em direção oposta. Por exemplo, os EUA que foram no caminho errado, o da polarização, e se tornaram o país com maior número de mortes. O Brasil é o segundo, pois tem um governo da mesma linha.
Nos EUA, os membros socialistas dos partidos democratas e republicano buscaram “soluções” assistenciais. Foram os maiores programas governamentais de pagamentos de transferências socialistas, claro que foram bem-vindas pela mídia e população dos EUA. Além disso, quantias ainda maiores de recursos foram, generosamente, distribuídas para grandes empresas e bancos norte-americanos.
Isso está fazendo explodir o tamanho da dívida do país e estabelecendo precedentes extremamente perigosos para o futuro. Depois que instituições e pessoas se acostumam a receber dinheiro diretamente do governo federal é extremamente difícil cortar esses pagamentos. O governo federal fica cada vez mais pesado, já é o maior governo socialista na história mundial.
O Brasil segue os mesmos passos. Mantendo o teto de gastos e vetos a novos impostos, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, contribui para o aumento gigantesco da dívida interna brasileira, que fatalmente levará a uma reestruturação, quem sabe mais um calote.
Outros fatos da administração da América do Norte lembram os últimos anos da União Soviética. Começa com a intensificação do conflito social e político como rivalidades étnicas, aspirações nacionais que empurraram o país inteiro para a violência, a secessão e a desintegração.
Nos EUA, a resposta de Trump aos protestos de âmbito nacional contra o racismo, a brutalidade policial e a desigualdade foi alimentar ainda mais a histórica divisão racial do país. Como as estátuas de Lenin, durante o colapso do império soviético, estátuas de líderes confederados foram derrubadas.
O principal paralelo é a economia. A União Soviética possuía um aparato grande e complicado de planejamento e alocação de recursos que atraía as pessoas mais instruídas da sociedade, apenas para enviá-las para tarefas improdutivas e frequentemente destrutivas. Os EUA têm Wall Street.
O vasto setor de serviços financeiros da América do Norte não é equivalente ao Gosplan (Comissão Soviética de Planejamento Estatal), mas extrai valor em vez de criá-lo e, soma ajuda financeira infinita da Reserva Federal.
Poucos momentos antes do sistema soviético entrar em colapso, muito poucos acreditaram que isso poderia acontecer. Os economistas norte-americanos não são muito bons em prever também. Acreditam que aumento do valor de ações é a solução do problema. Mais existem alguns economistas visionários.
No final da década de 1960, o economista Robert A. Mundell fez três previsões: que a União Soviética se desintegraria; que a Europa adotaria uma moeda única; e que o dólar manteria seu status como moeda internacional dominante. Pareciam previsões malucas na época. Mundell mostrou estar certo nas três.
As circunstâncias, às quais o dólar deve sua hegemonia, estão agora mudando. A pandemia do Covid-19 está impulsionando uma forma mais digitalizada de globalização. Enquanto o movimento de pessoas e bens despenca, as informações estão fluindo como nunca antes, inaugurando uma economia cada vez mais leve.
O governo Trump criou uma reação contra sua utilização do dólar para fins políticos. As sanções financeiras e secundárias foram altamente eficazes, em sua forma original, quando dirigidas para atores isolados como a Coréia do Norte.
Quando usado de forma mais extensa contra empresas do Irã, Rússia e China foram contraproducentes. A razão se explica pelas ações da Rússia, China e também da Europa, de tomar medidas para desenvolver mecanismos alternativos para pagamentos internacionais.
A revolução dos pagamentos, provavelmente, ocorrerá mais rapidamente em países pobres, como na África, na América Latina ou em algumas ex-repúblicas soviéticas. As novas tecnologias digitais oferecem os meios para passar da pobreza e subdesenvolvimento institucional para a complexidade institucional com chances de inovação e prosperidade.
A centralidade de longa data do dólar refletia a demanda global por um ativo seguro, profundo e líquido. Essa condição desaparecerá quando surgirem ativos seguros alternativos, ainda mais quando asseguradas por provedores não estatais.
O reinado do dólar sobre o sistema financeiro internacional depende dos EUA permanecerem economicamente estáveis, financeiramente credíveis e culturalmente abertos. Com as disfunções do sistema norte-americano reveladas, o resto do mundo pode começar a questionar sua competência básica e eficácia estatal.
A crise do Covid-19 é um exemplo disso. Em termos de número de casos, mortes e eficácia de conter o vírus, os EUA tiveram um desempenho fraco comparado à maioria dos outros países. Sob o presidente Donald Trump, os EUA se tornaram uma vergonha internacional.
O dólar não poderá comprar tanto internacionalmente quanto antes, começará a parecer ao antigo rublo soviético. Mesmo que haja mudança radical de governo nos EUA, com entrada dos democratas, pode não ser suficiente. Mikhail Gorbachev quando chegou ao poder introduziu a “perestroika”, foi tarde demais. A URSS já estava em estado terminal.
RG 15 / O Impacto