Artigo – EUA e o Brasil colocam em risco a vida de milhões de pessoas na América Latina
Por Oswaldo Bezerra
Em 1870, uma epidemia de febre amarela castigou Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Em 8 anos a doença avançou até os EUA onde matou mais de 20 mil pessoas. Na época, a forma de transporte mais usada eram as embarcações. Também foi o meio de transporte das enfermidades.
Hoje com o intenso e rápido transporte aéreo não serão mais necessários 8 anos para o espalhamento global de uma epidemia. Em questões de horas uma epidemia pode se espalhar por várias nações. Para proteção dos países foi criada, em 1902, a Organização Pan-americana de Saúde.
A necessidade de se trabalhar em conjunto pela saúde das pessoas na luta contra as enfermidades não é algo novo. Quando um país se nega a cumprir obrigações que adquiriu para este propósito pode arruinar todo um esforço pregresso. Acima de tudo, esta atitude é um tiro no pé e afeta seus sócios.
Em relação à Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) adivinhem que está inadimplente, e ainda mais, bloqueou seus pagamentos. Os dois países com maiores PIB das Américas estão com dívidas com a OPAS, EUA e Brasil. Os dois juntos acumulam mais de 85% das dívidas com a entidade. Por causa destas dívidas a OPAS só tem capital para trabalhar até outubro de 2020.
Graças a OPAS nosso continente eliminou a poliomielite em 1991, a rubéola e o sarampo em 2002, a síndrome da rubéola congênita em 2009 e o tétano neonatal em 2017. Esta organização também teve papel fundamental na eliminação de outras ameaças infecciosas.
A OPAS também é fundamental na consolidação do sistema de saúde dos países do continente. Outra grande e valorosa função da organização é que evita a corrupção. Corrupção gritante nas compras emergenciais dos países, por políticos e intermediários, à medida que o continente se tornou o epicentro da pandemia do corona vírus.
Por exemplo, foi descoberto na Colômbia que mais de 300 contratos foram irregulares. No Brasil foram iniciadas mais de 400 investigações contra contratos fraudulentos usados para pandemia. No Paraguai, o ministério da saúde firmou contratos com familiares de um só homem de negócio, Justo Ferreira. No Equador a família de um ex-presidente foi investigada por fraudes em contratos de saúde. Governos estão fazendo compras emergenciais superfaturadas enriquecendo políticos com subornos. É a desgraça da América Latina.
O maior golpe veio dos EUA. Antes mesmo da pandemia do corona vírus, o presidente Trump resolveu cortar bilhões de dólares de gastos com saúde global. Cortou 55% dos fundos para a OMS e 75% dos fundos para OPAS. Este dinheiro era usado para proteção de doenças infecciosas, tanto dentro do país dele como globalmente.
Trump afirmou que corona vírus não seria igual ao surto de febre amarela do início do século passado. Bolsonaro concordou com seu colega norte-americano e afirmou que era apenas uma gripezinha. Trump argumentou que não pagaria mais a OMS (Organização Mundial da Saúde) por conta da China e a OPAS pelo programa “Mais Médicos”, com médicos cubanos.
Apesar das críticas dos EUA aos médicos cubanos, eles tiveram um papel importante ao nível global durante a pandemia. A Suíça indicou a brigada Henry Reeve, formada por médicos cubanos, que foi enviada para dezenas de países para combater a pandemia, para o prêmio Nobel da paz. Os EUA acusam China e Cuba de comunismo e em cima destas acusações resolveu boicotar a OMS e a OPAS.
Não pense que a paralisação da OPAS não vai lhe afetar. Ela é de suma importância para todos nós da América Latina, pois é o centro de controle de prevenção de doenças de todos os países da América e ainda fornece apoio técnico insubstituível. A existência da OPAS é tão importante para a saúde global que União Europeia e Japão além de outras nações também doam recursos.
A falta de dinheiro para a OPAS vai se traduzir em mais mortes. Não serão apenas mortes por corona vírus. Doenças combatidas por esta organização já afetaram este ano 1,6 milhões de pessoas como dengue, 37 mil casos de chicungunha, 7 mil casos de zica. Muitos não devem nem conhecer a Organização Pan-americana da Saúde, mas há muito em jogo e milhões de vidas são postas em riscos quando determinados países não pagam suas cotas. Acabam por abrir também o caminho para que a corrupção se espalhe como uma pandemia.
RG 15 / O Impacto