Artigo – Zumbi é imortal, mas os ataques a ele também se tornaram
Por Oswaldo Bezerra
O Quilombo dos Palmares foi uma nação independente dentro do Brasil. Era um conjunto de várias comunidades, formadas por negros escravizados que haviam fugido. Trilhas dentro das matas ligavam as comunidades que eram nomeadas de Mocambos.
A capital dos Mocambos era Cerca Real dos Macacos. Este centro administrativo e político de Palmares contavam com uma população de sete mil pessoas. A capital administrava uma região do tamanho de Pernambuco.
Foi uma nação negra, livre que ficava em Alagoas. Palmares resistiu por 100 anos de ataques. O Bandeirantes Luis Jorge Velho, em 1692, com uma grande tropa destruiu Palmares, numa guerra que durou sete anos.
Foi um alívio para o imperador. Afinal, o núcleo de resistência dava esperanças aos escravos ainda cativos. O território fértil também foi um dos motivos para os portugueses retomarem Palmares.
O último líder dos negros livres foi Zumbi, que na língua africana significa “fantasma”, pois se dizia que ele se tornaria imortal. De fato ele se tornou mesmo em nossa história. Zumbi se tornou símbolo de resistência. E viverá para sempre em nossa memória.
Toda essa resistência, e essa memória causaram incômodo. Acabaram por desencadear um efeito colateral. Foi iniciada uma campanha para ofuscar este mito, para levá-lo ao esquecimento, de uma maneira parecida como fizeram com o “Dragão do Mar”, líder cearense na luta contra a escravidão.
A maneira que acharam para manchar a imagem de Zumbi foi acusando, o líder negro, de ser escravocrata. Foram criadas afirmações que Palmares era uma nação escravocrata. Toda esta contra-história é recente, se iniciou no século XXI.
O motivo deste movimento, para denegrir Zumbi e Palmares, foi desencadeado por grupos inconformados com a política de cotas. Na primeira década do século XXI, o Brasil passou a adotar políticas para tratar as feridas, ainda sangrando, deixadas pela escravidão. Coisa que os EUA já faziam 20 anos antes do Brasil.
O ataque contra políticas públicas, relacionadas a população negra, veio através de livros. Um dos organizadores do livro “Divisões Perigosas”, Ricardo ventura Santos, afirmou em entrevista que, o livro apresenta a opinião de um grupo de pessoas anti-racistas, que defende a universalização dos direitos sociais. Que reconhece que há racismo no Brasil, mas que não apoiam as políticas de cotas.
Neste livro, criado para criticar as políticas de cotas, pode ser lido que os escravos, que se recusavam a fugir das fazendas, eram capturados e tornados escravos em Palmares. O Livro afirma que Palmares recusava a escravidão própria, mas não a alheia. Estas afirmações com direcionamento político não tinham quase nenhuma responsabilidade com os fatos. Nunca existiu prova documental de escravidão em Palmares.
Em outro livro, intitulado “Cidadania no Brasil”, de José Murilo de Carvalho, com a mesma finalidade de combater as políticas públicas para a população negra, afirma que: “Os quilombos mantinham relações com as sociedades que o cercavam. E estas comunidades eram escravistas. Não existiam linhas geográficas separando a escravidão da liberdade”. O autor tenta afirmar algo absurdo como, por exemplo, se seu vizinho for viciado em cocaína, você também é.
Os dois livros trabalham em cima de suposições. Suposições esta que são muito novas, do início do século XXI. O livro que mais incorreu em suposições improváveis foi o “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”.
Este livro usa como critério, para Palmares, comunidades de um século depois. Todos estes livros tentam criar uma desconstrução do passado, para atender a interesses políticos do presente. O autor deste último, em entrevista, disse que escreveu sobre a ótica dele, não apoiado em fatos reais. Podemos classificá-los como “Fake Books”?
Este foi o contexto da “nova história” de Zumbi. Esses três livros deram origem à versão de que Zumbi era escravocrata. Uma reputação é facilmente manchada? Nem todos têm tempo ou interesse para averiguar informações. Sabendo de como foi origem da história do “Zumbi escravagista”, você ainda assim acreditaria nela?
RG 15 / O Impacto