Artigo – Há uma guerra nas sombras. Nem nós estamos livres disso
Por Oswaldo Bezerra
A morte de um importante cientista nuclear iraniano causou indignação no Oriente Médio e ameaçou acabar com uma situação geopolítica já precária. A situação coloca o Irã de um lado, e os Estados Unidos e (sua cabeça de ponte no oriente médio) Israel do outro. Essa é apenas uma amostra do que acontece nas sombras, onde guerras criam assassinatos promovidos por governos e são mais comuns do que se pode pensar.
O ex-agente da CIA, John Perkings, no seu livro “Confissões de Um Assassino Econômico” mostrava que o procedimento, mais usada por sua nação para escravizar toda uma nação, era através de criação de dívidas. Também era através de facilidades criadas para corrupção, que pudessem ser usadas em posterior chantagem, conforme descrito no Artigo A Dossiecracia Transnacional de Romulus Maya aqui no Jornal O Impacto. Contudo, John Perkins cita também, nestes procedimentos, uma quantidade enorme de assassinatos.
Trabalhar na área nuclear é como colocar um alvo na cabeça, principalmente se o seu país ainda não tem uma arma nuclear. O Oriente Médio é considerado uma região prioritária para os EUA. Lá se encontram vastas reservas de petróleo.
Não foi a primeira vez que um cientista nuclear foi atacado no Irã. Mohsen Fakhrizadeh era descrito pelo Ocidente e por Israel como o líder do suposto programa secreto de bombas nucleares do Irã, foi assassinado ontem (27 de novembro de 2020).
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, twittou que: “terroristas assassinaram um eminente cientista iraniano hoje. Esta covardia, com envolvimento israelense, mostra a guerra desesperada dos perpetradores”.
Um oficial norte-americano afirmou que as impressões digitais israelenses estavam em todo o ataque. Israel disse que se recusa a comentar publicamente sobre tais relatórios.
Apesar das persistentes negações do governo norte-americano e israelense, os principais cientistas nucleares iranianos foram assassinados. David Sanger, um ex-correspondente de Segurança Nacional do New York Times, escreveu em seu livro que, “durante anos, o Mossad e a CIA rastrearam” vários cientistas universitários iranianos.
Entre eles estão Masoud Ali-Mohammadi que foi assassinado na manhã de 12 de janeiro de 2010, era professor de Física de partículas na Universidade de Teerã. Foi morto por uma bomba controlada remotamente, colocada na saída de sua casa.
Majid Shahriari e Fereydoun Abassi-Davani sofreram tentativas de assassinato simultâneo em novembro de 2010. Os dois cientistas trabalhavam no programa nuclear iraniano. Foram atingidos quase simultaneamente por bombas em Teerã. No assassinato de Majid Shahriari, sua esposa e filho ficaram gravemente feridos no atentado com carro-bomba.
O ato terrorista foi executado pela CIA, Mossad e o MI6. Outro grupo que pretendia realizar outro ato terrorista, mas não teve sucesso, os terroristas foram presos. Eles confessaram que foram treinados por estes serviços de inteligência. Abassi-Davani sobreviveu e passou a liderar a Agência de Energia Atômica do país de 2011-2013.
Em 23 de julho de 2011, Darioush Rezaeinejad, que tinha um PhD em Física, foi baleado fora de sua casa em um subúrbio oriental de Teerã, por assassinos em motocicletas. Rezaeinejad estava com sua esposa, depois que eles pegaram seus filhos na escola. Alguns relatórios da época diziam que ele vinha trabalhando no “mecanismo de gatilho” usado para armas nucleares.
O governo iraniano negou que ele tenha algo a ver com seu programa nuclear. No entanto, foi amplamente divulgado na época que ele havia sido morto por agentes do Mossad de Israel. Israel negou a participação, mas o jornal alemão, Der Spiegel, citou na época uma fonte de inteligência israelense afirmando que o ataque “foi a primeira operação pública do novo chefe do Mossad, Tamir Pardo”.
Em janeiro de 2012, um cientista nuclear e graduado em engenharia química de 32 anos, chamado Mostafa Ahmadi-Roshan, teve uma bomba colocada em seu carro por um motociclista enquanto estava no centro de Teerã. A explosão o matou junto com dois transeuntes. Hillary Clinton negou categoricamente qualquer envolvimento dos Estados Unidos. A Time Magazine na época afirmou que fontes de inteligência ocidentais não identificadas que o Dr. Ahmadi-Roshan era “uma vítima do Mossad de Israel”.
Em janeiro de 2015, o Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana impediu o assassinato de um dos cientistas nucleares do país. Não conseguiram evitar o assassinato do cientista nuclear Ardeshir Hosseinpour em 2007, em circunstâncias suspeitas.
A empresa de inteligência privada americana Stratfor afirmou que Hosseinpour era, na verdade, um “alvo de longa data do Mossad”. Teria sido morto por “envenenamento radioativo” como parte das operações secretas de Israel para impedir o Irã de desenvolver capacidades nucleares.
Muitos casos de assassinatos de cientistas, da área da Física, tanto no desenvolvimento nuclear como o desenvolvimento de foguetes, ocorrem de maneira suspeita. Podemos até pensar que isso tudo está longe de nossa realidade. Porém, um caso muito suspeito de mortes de cientistas aconteceu na base de Alcântara no Maranhão.
Chamou a atenção na época do “suposto acidente” um número anormal de visitantes norte-americanos e franceses no Maranhão. Na época, o jornalista Cáudio Humberto citou alguns especialistas e cientistas que afirmavam que o acidente teria sido, na verdade uma sabotagem. A explosão matou 21 técnicos e cientistas que acabou por destruir nosso programa espacial.
O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, o pai do programa nuclear brasileiro, alertava desde 2004 que o Brasil precisa tomar cuidado com a pressão dos Estados Unidos sobre nossas pesquisas nucleares. Ele afirmou que o Brasil é um país infestado de espiões norte-americanos, e que os EUA não têm o menor interesse em que o Brasil seja autônomo em termos de defesa. O alerta do Almirante, de 77 anos de idade, foi como uma senha para que a Lava jato de Moro, procuradores e FBI o condenassem por 43 anos de cadeia. Nem nós estamos livres da guerra nas sombras.
RG 15 / O Impacto