Artigo – Do esplendor da cultura de nosso povo, uma religião paraense
Por Oswaldo Bezerra
Meu primeiro contato com a religião, que eu me lembre, foi com minha avó me ensinando o “Pai nosso”, antes de dormir. Religião pra mim se resumia ao catolicismo, com suas missas e procissões. Sinônimo de religião para mim era igreja católica.
A primeira vez que vi pessoas não católicas, foi no interior. Eram pessoas diferentes no modo de vestir e por andarem sempre com uma bíblia na mão. Eram os evangélicos, que na época era uma religião com pouco numerosa. Mesmo tendo sido criada a primeira igreja protestante, já em 1911 no Pará.
Assembléia de Deus foi uma criação paraense. Era na verdade uma denominação cristã evangélica. Por isso, posso afirmar que religião genuinamente paraense que conheci foi em uma excursão, que fiz ao município de São João do Pirabas. Neste município, mas precisamente na ilha de Fortaleza, há uma ocorrência natural de uma rocha de arenito escuro, sob rochas calcaria claras.
À distância, a figura parecia ser de um homem negro, sentado sobre um trono amarelado. Há 77 anos esta formação natural atrai muitos paraenses, que a veneram como o “Rei Sabá”. Tirei algumas fotos no colo do Rei. Todas queimaram durante a revelação.
Adoração ao “Rei Sabá” se insere na pajelança de origem rural, que tem como crença fundamental a concepção dos “encantados”. Estes, ao contrário dos santos, são seres humanos que não morreram, simplesmente se “encantaram”.
Esta crença foi influenciada por concepções indígenas, europeias e de entidades de origem africana. Exemplos de “encantados” muito populares na Amazônia são as irmãs turcas, Dona Mariana, Jarina e Dona Herondina.
Outros encantados, conhecidos da região do salgado paraense, estão descritos na lenda de Cobra Norato. Nesta lenda uma mulher deu à luz a dois gêmeos chamados de Maria Caninana e Norato Antônio. Logo ao nascer, as crianças se transformaram em cobras e deslizaram, rapidamente, para o rio, onde passaram a viver.
O Rei Sabá, ou Rei Sebastião, também é um “encantado”. É um personagem cujas origens remontam a Portugal. Trata-se do mesmo rei D. Sebastião que morreu durante a batalha de Alcácer-Quibir, na segunda metade do século XVI, na luta contra os mouros do norte da África.
Com a morte do Rei, Portugal caiu sob o domínio espanhol, em 1580. Daí surgiu uma lenda, segundo a qual, D. Sebastião não morrera, mas voltaria para libertaria seu país. Para a pajelança paraense, ele passou a habitar as praias entre o Pará e Maranhão.
A ilha de Fortaleza é ponto de culto às divindades da pajelança paraense e umbanda. Contudo, muitos católicos, devotos de São Sebastião, que rezam ao mártir da igreja católica, também frequentam o lugar e veneram o Rei Sabá. O Rei Sabá, ao invés de dividir, une o povo paraense na fé e na devoção de amor ao próximo.
RG 15 / O Impacto