Artigo – Você não é preguiçoso, mas as corporações querem que você pense que é
Por Oswaldo Bezerra
Hoje fui à casa de meu pai. Vi um livro de auto-ajuda na mesa dele. Foi um vizinho que o emprestou, disse ele, que também elogiou a leitura. Livros de auto-ajuda mostram que se você se esforçar, você pode se tornar até bilionário, basta não ter preguiça. Hoje, o indivíduo se explora e acredita que isto é realização.
Para muitos trabalhadores sob o peso do capitalismo, o problema é o mesmo. Não temos um nome para o que nos aflige, acreditando que estamos temporariamente presos, em vez de aceitar que estamos perpetuamente explorados.
Sem sermos capazes de nomear e confrontar o que nos aflige, carecemos da primeira ferramenta fundamental para nos libertar. As tentativas de explicar este problema às pessoas encheram bibliotecas de textos filosóficos e servem como razão para artigos como este. Tenha certeza, onde você teria menos chance de encontrar tal explicação é a seção de auto-ajuda de sua biblioteca ou livraria local.
No livro “Preguiça não existe”, em que o psicólogo social, Dr. Devon Price, procura explicar aos leitores que seu cansaço, seus sentimentos de inadequação e sua falta de alegria em seu trabalho não nasce de suas próprias falhas morais, mas são consequências, inevitáveis do trabalhar sob o capitalismo.
Os livros de auto-ajuda existem para pregar aos leitores que eles podem e devem fazer mais: mais trabalho, mais exercícios, mais cuidado, mais autodefesa. Nossas vidas podem ser transformadas, esses livros nos ensinam, nos empurram para fazer escolhas “individuais”.
Price adota uma abordagem diferente, postulando que toda a lógica da auto-ajuda é retrógrada. Não somos infelizes porque não trabalhamos duro, o suficiente para a felicidade, somos infelizes porque todos nós trabalhamos demais. Além do mais, ninguém parece acreditar, nem nós mesmos.
Price se concentra em um aspecto desse fenômeno. É o que ele chama de “Mentira da Preguiça”. De acordo com Price, a mentira da preguiça tem três princípios centrais: nosso valor é nossa produtividade, não podemos confiar em nossos próprios sentimentos e limites e sempre há mais que poderíamos fazer.
Nós internalizamos essa lógica a tal ponto que aprendemos a acreditar que nossas habilidades e talentos não pertencem realmente a nós; eles existem por sermos esforçados. Caso não entreguemos com prazer nosso tempo, nossos talentos e até mesmo nossas vidas não são heróicas, ou boas.
De onde vem esse sistema de crenças da preguiça? Price traça a mentira da preguiça ao longo da história norte-americana. Revela suas raízes no cristianismo dos colonos do país e sua utilidade na racionalização da escravidão e no trabalho infantil.
Sobre a época da revolução industrial, Price escreve: “A preguiça se tornou oficialmente não apenas uma falha pessoal, mas um mal social a ser derrotado, e assim permaneceu desde então”.
Parece apropriado que os Estados Unidos acabem de eleger um presidente que fez sua campanha na base da ideia de que a geração do milênio não merece empatia, pela miséria da sua geração.
O fato de presidentes tanto dos EUA, como do Brasil, zombarem das pessoas arruinadas por uma crise de dívidas, que a classe política ajudou a arquitetar em uma longa política pró-banqueiros, é apenas uma crueldade extra. Mesmos os maiores socialistas não estão imunes às maneiras como essas ideias se infiltram em nossas vidas, em nossas atitudes contra nós mesmos e contra os outros.
O capitalismo exige que funcionemos em estado constante de “aceleração” no trabalho, precisando nos amontoar cada vez mais nas horas de vigília de nossos dias, independentemente de nossa eficiência ou produtividade real.
O que Price chama de “Mentira da Preguiça” é realmente essa demanda por “velocidade” levada ao seu extremo inevitável, de modo que permeia todos os aspectos da vida de uma pessoa dentro ou fora do horário de trabalho.
Repetimos e retificamos a lógica de nossos chefes em nossas próprias vidas, por meio das mídias sociais e outras vias, mesmo em casa. A cultura do influenciador, na visão de Price, amplificou a “mentira da preguiça”: nossas refeições devem ser dignas do Instagram, nossos espaços de vida minimalistas e arrumados, nossos corpos bem tonificados e bem vestidos. Como resultado, tratamos a gordura, o inconformismo e outras imperfeições aparentes como desprezíveis, e não como estados de ser padrão.
Confissões têm ar de falsidade, nas redes sociais. Olhem todos, hoje foi um dia difícil, sou abençoado por esta vida, mas não é tão glamorosa quanto parece. Tenho que continuar sorrindo. A conclusão sempre é: ainda estou me levantando e fazendo isso todos os dias, então porque não você?
As demandas incessantes colocadas sobre nós e as expectativas de estarmos sempre disponíveis, de ser um membro da sociedade com consciência política e social, um parceiro romântico generoso, comprometido e assim por diante. Tudo isso coloca um peso esmagador em quase todos que trabalham para viver.
No Brasil, a cultura do “vira-latismo” são agravadamente prejudiciais, ainda mais com nosso desprezo pela justiça social. Na análise de Price também inclui o dano causado àqueles sem barreiras particularmente notáveis, que ainda não se destacam como alunos, ou funcionários. Em outras palavras, o mito da preguiça fere a grande maioria de nós.
É a privação de direitos, não a preguiça, argumenta Price, que faz até mesmo as pessoas saudáveis se afastarem dos desafios e do mundo. Sem um objetivo no nosso trabalho, ou no emprego para os quais pensamos nos candidatar, provavelmente não concluiremos bem nenhuma tarefa.
Além de tudo isso, a maioria das pessoas que conhecemos também está passando por algum desses problemas, o que significa que as demandas, exaustivas de nosso tempo, não terminam quando nossas obrigações profissionais, ou acadêmicas, terminam. Precisamos de ajuda, assim como nossos amigos e familiares.
Price não se apoiou nas camadas mais óbvias da classe trabalhadora para apresentar a maior parte de seus argumentos, embora trabalhadores de varejo, profissionais de saúde e garçons apareçam em suas entrevistas.
Em vez disso, obteve um grupo diversificado de pessoas cujo tempo não são delas, sem tetos, estudantes de pós-graduação sobrecarregados, até streamers semi-profissionais e mães.
Em todos os casos, ninguém deixou de ter aversão ao tentar trabalhar e sobreviver em uma sociedade capitalista. Price descreve a normalização do excesso de trabalho como uma crise de saúde pública.
Suas entrevistas confirmam esse diagnóstico. Um dos entrevistados estava tão sobrecarregado de trabalho que começou a vomitar sangue. Todos foram de alguma forma, danificados pela incapacidade dos trabalhadores de dizer não às demandas de uma sociedade capitalista.
Price diz aos leitores que não estamos sozinhos em nos sentirmos profundamente maltratados e doentes por causa das demandas de nossa economia e cultura. Não deixe seu chefe ver você lendo este livro. Ele poderia considerá-lo um funcionário motivado a buscar negligenciamento.
Ter o tema da preguiça como um manifesto anticapitalista, posando como livro de auto-ajuda, dá a Price uma tarefa impossível. Os livros de auto-ajuda são, por natureza, dedicados a melhorar a si mesmos. A transformação social, em grande escala, necessária para libertar o mundo sobrecarregado do capitalismo só pode ocorrer por meio de uma ação de massa organizada e sustentada.
Este não é um livro projetado para ensinar pessoas oprimidas a se livrar do jugo de seus exploradores, embora a ação coletiva no local de trabalho e a sindicalização sejam ferramentas. Em vez disso, “Preguiça Não Existe” diz a seus leitores que eles estão sendo explorados.
A simples sobrevivência não é suficiente para mudar o mundo. Mudar o mundo exige que massas de pessoas entendam suas condições mais plenamente e tenham tempo e energia para lutar.
A auto-ajuda não perpetua apenas a ideologia capitalista, propagando o mito de que cada indivíduo é capaz e responsável por mudar suas próprias condições. Ela ensina que o nosso desejo humano de viver para algo diferente do trabalho é, simplesmente, um desafio a ser superado.
Compare o livro de Price com dois bestsellers de auto-ajuda recentes de Rachel Hollis, Girl, Wash Your Face e Girl, Stop Apologizing , em que a autora incentiva, diverte e até dá um pontapé na bunda, tudo para te convencer a fazer o que for preciso para cair na real, e que você realmente pode viver com paixão e pressa. Hollis ensina a seus leitores que seus sentimentos e experiências importam simplesmente para uso, ou descarte, do serviço da sua ambição.
Abolir o excesso de trabalho, e outras práticas abusivas, pode aumentar a produtividade de muitas empresas e, certamente, a longevidade dos funcionários. O excesso de trabalho não se trata apenas de lucro ou produtividade, trata-se de controle. As empresas são incentivadas a possuir o máximo possível do tempo de um funcionário pelo que ele recebe, seja estendendo a semana de trabalho assalariado para noites e fins de semana, ou reduzindo o tempo de descanso dos trabalhadores.
Preguiça não existe é o raro livro que mostra que a maioria dos nossos problemas não é de nossa própria criação e não podem ser resolvidos individualmente. Price não promete ferramentas para a salvação, mas ferramentas para a sobrevivência e permissão para perdoar a si mesmo por não ser capaz de mudar o mundo sozinho.
Não pode haver verdadeira “auto-ajuda” sem trabalho coletivo para compreender e desmantelar o sistema sob o qual trabalhamos. Devemos ser capazes de nomear o que nos aflige antes de podermos nos libertar. É capitalismo, não preguiça.
RG 15 / O Impacto
KKKKKKK…QUE CONVERSA MOLE ! ENTÃO TRABALHAR NO CAPITALISMO DÁ PREGUIÇA ? E NO COMUNISMO, QUE VC RECEBE r$ 30,00 POR MÊS, TE ANIMA ? SABENDO QUE VC NUNCA IRÁ PROGREDIR SOB UM REGIME COMUNISTA, ATÉ MESMO A RESIDÊNCIA EM VC RESIDE É DO ESTADO, NUNCA SERÁ SUA ? PROVA DA PREGUIÇA E DESÂNIMO QUE O MARXISMO CAUSA, PODE-SE CITAR A OUTRORA FARTA PRODUÇÃO DE CANA EM CUBA, HOJE NÃO PRODUZ SEQUER 50 % DA DÉCADA DE 1950 !