Artigo – O mundo já passa por uma experiência pós-apocalítica de dar medo como nos filmes?
Por Oswaldo Bezerra
O BBB 21 está sendo tão abusivo que nos faz pensar sobre o que mudou. Sabemos que o programa é feito com manipulação para manter audiência e receita. Afinal de contas a manipulação para entretenimento não é coisa nova, vem desde os tempos de Roma. Gladiadores e animais selvagens criavam a dor e a selvageria que mantinham a atenção do público. Se o BBB 21 está tão abusivo é porque o Brasil está assim hoje.
O Brasil e o mundo estão assim graças a Steve Banon e sua manipulação para criar uma consciência fascista, mundo afora, utilizando-se de redes sociais e inteligência artificial. Ele conseguiu eleger lideranças de extrema-direita em muitos países. Contudo, outra praga precisou para trazer o caos, semelhante aos filmes pós-apocalíticos. Foi a pandemia de Covid-19.
Já se passaram quarenta e dois anos desde que foi lançado o primeiro filme de Mad Max. Desde então, muitos filmes de visão pós-apocalíptica geraram uma linguagem comum para descrever um futuro devastado. Quando a série começou durante a Guerra Fria, as ansiedades do fim do mundo geralmente se concentravam na ameaça de uma guerra nuclear.
Uma ansiedade apocalíptica que depois foi substituída por muitos outros medos: colapso econômico, o ressurgimento do fascismo, emergência climática e, mais recentemente, uma pandemia viral.
A ficção pós-apocalíptica é uma experiência ressonante e até catártica para as pessoas que lidam com seus próprios dilemas existenciais. E os medos continuarão a surgir de outras formas?
Medo da grande re-inicialização econômica que está por vir e nossa incompetência em lidarmos com a pandemia são nossos outros medos. Nosso medo futuro é um mundo perturbadoramente anárquico, governado por líderes que quando fazem um pronunciamento tenhamos que tirar as crianças da sala, por tanto palavrões proferidos.
Há o medo de vivermos em meio a uma sensação geral de ilegalidade e distopia, com nossos principais personagens jurídicos envolvidos na maior farsa judicial (Operação Lava Jato) que se tem na história, utilizando-se do poder para cometer crimes, destruir reputações e usar prisões preventivas como instrumentos de tortura.
Isso tudo provoca uma sensação de colapso social ocorrendo junto com a vida normal. A imagem mais marcante sobre isto foi uma invasão do Capitólio nos EUA, com várias pessoas assassinadas.
Curiosamente, esse futuro imaginado de Mad Max não foi pós-nuclear. Em vez disso, foi uma crise de energia que precipitou esse ciclo de destruição, seguido por um colapso econômico mundial e uma guerra mundial convencional. Parece ainda mais verdadeiro hoje, em vista da dependência contínua do petróleo pelo capitalismo, que gera todas as guerras da atualidade.
Não deixou de existir também o medo de uma guerra nuclear. O temor é que a “Armadilha de Tucídides”, quando uma nação dominante é ameaçada de perder a liderança para outra, leve realmente a uma guerra atômica. O fator atual é a perda da liderança dos EUA para a China. Pouco provável ninguém quer assinar sua própria sentença de morte.
Outra potencial ameaça a paz é o próximo conflito feroz por acesso à água potável. Isso reflete o atual interesse contemporâneo pela Bacia Amazônica.
Como no filme de Mad Max as pessoas hoje, como os personagens, estão extremamente exaustos e traumatizados. Falta para muitos o dinheiro para comida. O desemprego grassa. Os planos de saúdes são cancelados e o governo sucateia o sistema de saúde pública. Tudo nos coloca a beira da desistência.
O relatório do IPCC de outubro de 2018, produzido pela ONU, alertou sobre o colapso da civilização já no final deste século. Apenas um ano depois, a Austrália estava em chamas e a Amazônia também.
Logo depois, a COVID-19 explodiu e a economia mundial desabou. É cada vez mais difícil afastar a sensação de que estamos vendo a ficção se tornar realidade. O apocalipse não precisa se parecer com uma distopia de Hollywood – parece com o que está acontecendo ao nosso redor agora.
O colapso não será um grande nivelador, como muitas vezes previsto na ficção pós-apocalíptica. Mesmo no meio do colapso, as estruturas sociais do capitalismo irão persistir com mais concentração de renda e provavelmente de uma forma mais brutal e autoritária.
Estados competirão por recursos cada vez menores, levando ao deslocamento em massa de refugiados, especialmente do Sul Global. A melhor coisa sobre Mad Max não é o que ele previu, mas o que diz sobre o mundo de hoje. Isso se deve principalmente ao seu foco materialista.
Sejam os recursos como metano, minério de ferro ou água são todos cruciais para a sociedade e a principal fonte de conflitos. Sobretudo haverá conflito social. É a volta de um pesadelo agora na forma de eco-feudalismo.
Os filmes retratam os vilões como os que exploram e oprimem, enquanto os protagonistas são retratados como individualistas. Os esforços individuais sempre acabam em derrota, até que eventualmente se juntem a um coletivo para ajudá-los a lutar contra a opressão e construir um novo mundo. É a representação da revolução da vida real. Ajudar o coletivo, em um mundo arruinado, faz o indivíduo aprender a viver novamente.
RG 15 / O Impacto