Artigo – Já fomos alguma vez independentes? O que nos entregam como independência foi, na verdade, genocídio
Por Oswaldo Bezerra
A data de 15 de agosto é hoje um importante feriado que significa a independência da Província do Grão-Pará, na época um mega estado amazônico. Quem conhece a história da “Adesão do Pará” sabe que não deveria ser um dia festivo para os paraenses.
Em 1823, o Pará ainda era a única província que não havia aderido à Independência do Brasil, ocorrida no dia 7 de setembro, quase um ano antes. Os paraenses achavam que devido à independência, os portugueses que mandavam em tudo, seriam deportados e o estado faria parte de uma nação livre. Pelo menos os paraenses achavam que teriam direitos iguais aos dos portugueses.
Logo descobriram que não era bem isso o que aconteceria. Portugal sabia que toda a América estava se libertando. Por isso, astutamente transferiu toda sua dívida externa, com a Inglaterra, para a nação recém independente em um dos acordos escusos que só um mau-caráter faz.
Foi o preço de não termos alcançado a liberdade através de luta, mas sim por um golpe financeiro. Isso é algo que não se aprende na escola.
Na escola também não nos ensinam que na época a província do Grão-Pará não respondia ao vice-rei ou governador-geral do Brasil. Era a única província que respondia diretamente a Portugal. Éramos um território diferenciado.
Depois da independência do Brasil houve uma corrente a favor de se unir ao Brasil. Outra corrente queria continuar unida a Portugal. Porém, os paraenses queriam mesmo era que nos tornássemos uma república independente tanto do Brasil quanto de Portugal.
Sabendo das pretensões dos paraenses, Dom Pedro I, Imperador do Brasil, enviou um comandante de fragata o inglês John Grenfill, para a Província do Grão-Pará. Ele veio com interesse mais inglês do que brasileiro e com a missão de incorporar o Pará ao Brasil, por bem ou por mal.
Ao mesmo tempo, Dom Pedro I mandou uma forte esquadra para Salinas. Era maneira para bloquear o acesso ao porto da capital. Essa ação provocaria o isolamento da Província do Grão-Pará do resto do mundo, se não optassem pela adesão. Ação imperialista típica, do mesmo jeito que os EUA fazem hoje com outras nações.
Um documento foi então assinado pelas lideranças portuguesas locais à base de mira de canhões. A população paraense considerada cidadã de segunda classe, se revoltou. Pouco depois da assinatura do documento, houve a primeira manifestação onde a população pedia direitos iguais aos dos portugueses que viviam no Pará.
O cônego Batista Campos foi um dos líderes do movimento. Foi preso. Foi colocado para explodir na boca de um canhão. Foi liberado com pedido de pessoas poderosas da cidade ao capitão, para mandá-lo para ser julgado no Rio de Janeiro. O capitão inglês liberou o cônego, mas para demonstrar força pegou aleatoriamente 5 pessoas que passavam na rua e mandou fuzilar.
Os paraenses que protestavam tiveram sorte pior. A Baía do Guajará foi palco de um genocídio. No total, 256 manifestantes foram trancafiados no porão de um navio até a morte por asfixia. Para diminuir o mau cheiro dos que iam morrendo, a tripulação jogava pás de cal no porão onde estavam presos os manifestantes.
O nome do navio era Brigue São José Diligente. O uso da cal nos mortos deixava suas fisionomias com os lábios e os olhos arroxeados e o rosto esbranquiçado que lembravam palhaços. O navio passou a ser conhecido então como “Brigue Palhaço”.
Os paraenses da época chegaram a sonhar que a independência traria mudanças para a estrutura econômica, política e social da região. Ledo engano, a Adesão manteve o mesmo grupo de portugueses que estava no poder antes.
Outro engano foi acreditar que a nova nação aboliria a escravidão. Ela foi mantida, não só no Pará, mas no Brasil inteiro. Isso tudo gerou no paraense um ressentimento que foi crescendo. Com o tempo, novas revoltas sangrentas eclodiram. Até que veio a Cabanagem e o surgimento dos primeiros heróis paraenses.
O feriado de 15 de agosto não é de fato uma data comemorativa. É uma lembrança de um genocídio de paraenses. A obra suntuosa denominada “A Adesão do Pará à Independência do Brasil”, pintada em 1971 pela alenquerense Anita Panzuti, tem sangue retinto pisado por trás dos falsos heróis emoldurados.
RG 15 / O Impacto