Artigo – A desigualdade de gênero no mercado de trabalho

Por Thays Cunha

No dia 08 de março foi comemorado o dia da mulher, um momento em que foram distribuídos cartões, flores e frases de efeito que denotam o enaltecimento feminino. Porém, sabemos que juntamente com as rosas oferecidas nesta data há também muitos espinhos os quais todos os dias as mulheres do Brasil e do mundo precisam lidar.

Um dos exemplos disso é a questão da desigualdade de gênero no mercado de trabalho, pois as diferenças entre homens e mulheres nos quesitos salário, tempo de serviço e instrução são gigantescas, pois mulheres ainda ganham menos que os homens para fazerem os mesmo serviços, fazem jornada dupla no trabalho e em casa e, apesar de mais instruídas, muitas vezes deixam de lado suas formações e carreiras para cuidar de suas famílias.

Através dos dados coletados na segunda edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado no dia 04 de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), podemos observar as diferentes condições na vida das mulheres brasileira no ano de 2019.

Segundo o levantamento, em 2019, a taxa de participação das mulheres em idade de trabalhar (acima dos 15 anos) que compunham a força de trabalho no Brasil foi de 54,5%. Já entre os homens essa taxa chegou a 73,7%.

Como é possível perceber, há uma diferença de 19,2 pontos percentuais na quantidade de trabalhadores entre os gêneros. Alguns fatores que contribuem para essa estatística de menos mulheres fazendo parte do mercado de trabalho podem ser analisados para uma melhor compreensão, como, por exemplo, a questão da maternidade. “Entre as mulheres de 25 a 49 anos que viviam em lares com crianças de até 03 anos de idade, pouco mais da metade (54,6%) estava efetivamente ocupada”, ou seja, quanto menores os filhos, menos a mulher consegue se inserir no mercado de trabalho. O problema começa com o fato de que faltam creches em muitas cidades, desse modo muitas mães são obrigadas a deixarem seus empregos para ficarem com os filhos. Além disso, algumas empresam não contratam mulheres que são mães por considerarem que isso as fará terem problema de rendimento. Em relação àquelas que engravidam já estando empregadas, um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2019 aponta que 50% das mulheres são demitidas dentro da margem de dois anos após a licença maternidade.

Já em relação aos lares sem crianças nessa faixa etária, o levantamento do IBGE aponta que o nível de ocupação das mulheres aumenta para 67,2%. Entre os homens, o nível de ocupação não se modifica muito e continua sendo superior tanto em casas com crianças com até 03 de idade (89,2%), quanto em lares sem crianças nesse grupo etário (83,4%).

Cuidados e afazeres domésticos

O trabalho doméstico é outro fator que pesa muita na vida das mulheres. Em muitos casos algumas pessoas chegam a dizer à elas que as suas jornadas extenuantes limpando, cozinhando, cuidado e criando não se configuram como trabalho, mas como algo simples e cotidiano. Esse pensamento faz com que muitos homens não se preocupem em realizar nenhum serviço doméstico, mesmo quando ambos trabalham. Assim, as mulheres acumulam uma dupla jornada na qual trabalham fora de casa e dentro dela.

Em 2019, as mulheres se dedicaram a cuidar de pessoas ou a afazeres domésticos por 21,4 semanais, enquanto os homens gastaram 11 horas nessas funções. “Embora na Região Sudeste as mulheres dedicassem mais horas a estas atividades (22,1 horas), a maior desigualdade se encontrava na Região Nordeste: 21,8 para elas e 10,5 para eles, ou seja, 11,4 pontos percentuais”.

Por conta dessa enorme carga de trabalho, muitas mulheres acabam aceitando trabalhos com carga horária reduzida, o que as faz ganhar ainda menos do que quem exerce a sua profissão em tempo integral. Segundo a pesquisa, “cerca de um terço das mulheres (29,6%) estavam ocupadas em tempo parcial (até 30 horas semanais de trabalho), quase o dobro do verificado para os homens (15,6%)”.

Diferenças salariais

Em relação aos ganhos, ainda há a ideia que o homem deve ser o único e total provedor de sua família e por isso ganhar mais do que as mulheres, mesmo que elas exerçam a mesma função. Os dados mostram que “as mulheres recebem 77,7% do rendimento dos homens, pois enquanto o rendimento médio mensal dos homens é de R$2.555, o das mulheres é de R$1.985. A desigualdade é maior entre as pessoas nos grupos ocupacionais com maiores rendimentos. Nos grupos de Diretores e gerentes e Profissionais das ciências e intelectuais, as mulheres receberam, respectivamente, 61,9% e 63,6% do rendimento dos homens”.

Mais instruídas, porém ocupam menos vagas

Embora as mulheres sejam mais instruídas do que os homens, elas ainda são minoria nos cargos de chefia. Um exemplo disso diz respeito aos cargos na docência do ensino superior. “Entre a população com 25 anos ou mais, 15,1% dos homens e 19,4% das mulheres tinham nível superior completo em 2019. Na população mais jovem, no recorte de 25 a 34 anos, essa diferença chega a 6,8 pontos percentuais: 25,1% das mulheres possuíam nível superior completo, contra 18,3% dos homens. Entretanto, as mulheres representavam 46,8% dos professores de instituições de ensino superior no Brasil”. As mulheres também são minoria em cursos de graduação nas áreas ligadas às ciências exatas e à esfera da produção, pois ainda existe o estereótipo de que as mulheres são mais adequadas para seguir carreiras nas áreas de humanas ou cuidados.

Nos cargos que são vistos como mais poderosos, como os que envolvem política e armamentos, mulheres também ocupam poucas vagas. “Em 2020, mulheres eram 14,8% dos deputados, 16% dos vereadores e 7,1% dos ministros. No ano anterior elas ocupavam 27,6% do efetivo das polícias civis e 37,4% dos cargos gerenciais. “A desigualdade se aprofunda nas faixas etárias mais elevadas: entre pessoas de 60 ou mais anos de idade, 78,5% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 32,6% pelas mulheres”.

Essas desigualdades impactam diretamente na qualidade de vida das mulheres, principalmente no que tange à violência de gênero, pois muitas, sem poder trabalhar ou com ganhos insuficientes acabam vivendo em relacionamentos abusivos por conta da dependência financeira que tem em relação a seus parceiros. Na conquista pela igualdade de gêneros ainda há muitos desafios que precisam ser superados, como a divisão igualitária das tarefas domésticas e criação dos filhos, a igualdade de salários entre ambos os sexos, oportunidade de trabalho para as mulheres com filhos pequenos e maior representatividade delas dentro da esfera política. Porém, o mais importante ainda é a luta pelo fim das violências física e psicológica que assombram tantas mulheres todos os dias e que fazem inúmeras vítimas. Oferecer para as mulheres um meio de se tornarem independentes, livres da violência e de abusos ainda parece longe dadas as estatísticas. Desse modo é preciso fomentar e ampliar as políticas públicas que forneçam para todas elas segurança e oportunidades iguais para que vivam com dignidade.

RG 15 / O Impacto

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