Artigo – Nova York segue o exemplo da Argentina e passa a taxar os ricos
Por Oswaldo Bezerra
Na configuração do orçamento do Estado de Nova York, os socialistas e outras forças de esquerda ganharam muito mais do que esperavam. A legislatura estadual concordou em aumentar, temporariamente, os impostos sobre os nova-iorquinos que ganham mais de R$ 5,5 milhões por ano, com uma alíquota de 10,9% para quem tem bens acima de R$ 141 milhões. O interessante é que o governador de lá é um rico herdeiro chamado Andrew Cuomo. Este governador sempre tratou de mimar os ricos em uma questão de princípio liberal.
Em 2018, a ativista e atriz pela educação Cynthia Nixon concorreu para governador em uma plataforma progressista. Sua candidatura pregava um imposto de 10% sobre as receitas acima de um R$ 6 milhões e 40% nas receitas acima de R$ 60 milhões. Josh Mason, do Roosevelt Institute, foi quem ajudou Nixon a desenvolver seu plano econômico.
Alguns dos destaques do orçamento incluem um fundo de trabalhadores excluídos de R$ 10 bilhões (nova-iorquinos sem documentos e deixados de fora do pacote de estímulo federal COVID-19) e R$ 12 bilhões em alívio de aluguel. Provavelmente, a vitória progressiva mais significativa é a ajuda básica de R$ 7 bilhões às escolas públicas, que os pais de alunos de escolas públicas vêm exigindo há anos. Ao contrário de muitas outras disposições no orçamento, o legislativo se comprometeu a financiar totalmente as escolas no futuro, não apenas durante esta crise. É o reconhecimento do fracasso da austeridade.
A fraqueza da esquerda, ou seja, o movimento trabalhista, movimentos de protesto e todos os matizes de socialismo acabaram permitindo a austeridade florescer como a mentalidade dominante na política. Agora, embora as deficiências do orçamento que Nova York acaba de aprovar sejam numerosas, está claro que a forma de pensar mudou. Isso porque no Capitólio do Estado de Nova York está aumentando seu poder.
O conjunto de vitórias no orçamento recente aconteceu porque, nos últimos três anos, os nova-iorquinos se organizaram para derrotar as forças do capital. Muitos nova-iorquinos de centro-esquerda se mobilizaram para derrotar o Independent Democratic Caucus, um grupo de legisladores estaduais ligados aos republicanos.
Eles se organizaram para eleger legisladores progressistas, incluindo pelo menos seis socialistas. Eles também se organizaram para derrotar os republicanos. Os democratas agora detêm uma supermaioria na legislatura.
Da mesma forma, os Socialistas Democratas da América de Nova York (NYC-DSA) e muitos outros grupos também se organizaram em comunidades em todo o estado fazendo campanha, fazendo ligações, protestando e pressionando os legisladores para “Taxar os Ricos”.
Os americanos conseguiram eleger socialistas, em seguida, organizaram a comunidade para pressionar seus colegas sobre as principais prioridades da organização. Sim, os socialistas superaram as expectativas. Eles se juntaram aos protestos: mais notavelmente, a deputada socialista do Brooklyn Marcela Mitaynes aderiu a uma greve de fome para exigir ajuda aos trabalhadores sem documentos excluídos do estímulo federal.
A esquerda aprendeu que tinha poder. O orçamento inclui apenas um décimo das novas receitas exigidas pela campanha “Taxe os Ricos”. O fundo de trabalhadores excluídos se tornou mais difícil de acessar do que os ativistas exigiam, deixando muitos ainda excluídos. Em geral, porém, o maior ponto de conflito foi convencer os legisladores democratas convencionais, embora estivessem dispostos a salvar o governo existente da desintegração, não queriam construir nada novo.
Embora os socialistas não estejam alardeando este orçamento como uma vitória, é impressionante ver o quão longe foram e o curto prazo em que venceram. Os socialistas norte-americanos finalmente estão vencendo dentro do Partido Democrata.
Isso dá uma esperança para a esquerda brasileira, principalmente hoje, quando Lula ultrapassou Bolsonaro nas pesquisas para o segundo turno em 18 pontos. A esperança é que os socialistas do Brasil fechem chapa com o Partido dos Trabalhadores e tragam mudanças positivas para o povo brasileiro, como fez a Argentina e hoje como fez o Estado de Nova York.
RG 15 / O Impacto