Artigo – O peso dos bilionários para o bem e para o mal na política

Por Oswaldo Bezerra

Em um capítulo do livro “O Governador”, que ainda está no prelo, há um capítulo que discute sobre o papel dos bilionários na política. Eles podem ser um problema para o governo. Os bilionários geralmente enriquecem nas crises econômicas e por isso não se importam com o desenvolvimento social.

Combater as elites é difícil, mas é necessário. Donos do poder econômico que não se tira com voto, os bilionários sempre tentarão dominar a política como feudos. Com eles no poder político, a desigualdade social pode aumentar.

O escritor e influenciador online Olavo de Carvalho, para muitos o “líder intelectual” da extrema-direita no Brasil e o especial conselheiro do presidente Jair Bolsonaro, saiu em ataque frontal contra os os “bilionários” brasileiros que, nas suas palavras, estão “destruindo a democracia”, promovendo a censura e impedindo a liberdade de expressão.

A luta contra a ingerência dos bilionários não é apenas uma característica da extrema-direita. Na esquerda também já observamos esta luta. Em 2020, a China silenciou o multibilionário Jack Ma por tentar se meter na política. Por sinal, a China é o único país do mundo que há pena de morte para bilionários corruptos. Por isso, os bilionários chineses sabem que precisam ser discretos e deixar a política somente para o Partido Comunista Chinês.

Por outro lado, os políticos podem muito bem usar os bilionários a seu favor. A China está provando isso. Meses depois de seu confronto com as autoridades de Pequim, que acabou com a maior oferta pública inicial da história, o verdadeiro paradeiro de Jack Ma foi finalmente descoberto: bem no centro do esforço mais ousado de Xi Jinping para modernizar a economia chinesa.

Caminhamos para uma “sociedade sem dinheiro”. A eficiência óbvia e a economia de custos que vêm do banimento do papel-moeda deixaram os banqueiros de olho na ficção científica se tornando realidade. As crises financeiras de 1994, 1997, 2000, 2008, 2011, 2013, tornaram a inovação financeira um luxo que poucas nações podiam pagar. Só agora em 2021 a China decidiu deixar sua marca como a primeira nação a lançar uma moeda digital.

Para tanto, o governo chinês juntou as mãos com o principal distribuidor de tecnologia da China, o fundador da Alibaba Holdings, Ma. Pequim também está trabalhando com os gigantes Tencent, JD.com e outros. O papel central para Ma é o lógico de unir o governo com a liderança global em tecnologia.

Ma estava fora de circulação por 4 meses, desde o famosos discurso na Bund Finance Summit em Xangai. Ele afirmou na época que os reguladores estavam impedindo a inovação, e que os maiores bancos da China operavam com uma “mentalidade de loja de penhores”.

Não apenas o enorme IPO de US$ 37 bilhões de Ant foi engavetado, e Ma parecia ter desaparecido da vida pública, silenciado. Agora ele reaparece com a colossal fintech que ele mesmo construiu para ajudar o Banco do Povo da China a criar o yuan digital.

Apenas o governo e seu círculo íntimo conhecem a história completa da ascensão, queda e ascensão de Ma. O objetivo do governo chinês não é de esmagar os bilionários. Eles querem que os bilionários joguem pelo time da casa.

As notícias esta semana de que o papel do dólar nas exportações russas caiu abaixo de 50% pela primeira vez, no último trimestre de 2020, junto com o aumento da dívida dos EUA, deixou os mercados preocupados com mudanças gigantescas na hierarquia da moeda.

Por motivos puramente econômicos, porém, um yuan digital faz muito sentido. Isso acabará com a necessidade de cunhar e manter montanhas de notas e moeda. Tornará mais difícil esconder a transferência de “dinheiro negro” das autoridades, reduzirá as taxas para empresas e consumidores e dará ao Banco Popular da China (PBOC) novas ferramentas para orientar a maior economia da Ásia.

Será criada uma infraestrutura mais ampla para trazer ordem ao caos do Velho Oeste do universo da criptomoeda privada. Um yuan digital, porém, não precisa ser seu próprio ativo especulativo. Os 1,4 bilhão de habitantes da China já estão muito à frente de seus pares americanos e japoneses em pagamentos por telefone celular.

Pode-se viajar facilmente para Xangai e Tókio agora, sem nunca mexer em dinheiro físico. Os aplicativos livram você de uma parada em agências de câmbio.

Muitas vezes, a questão do yuan digital é enquadrada pelo prisma do Bitcoin. Esta é a lente errada. O que o PBOC está fazendo, com a ajuda de Ma, é construir uma espécie de carteira digital oficial.

De Tóquio a Washington, a preocupação é que a hegemonia do yuan logo ali. A Casa Branca do presidente Joe Biden está profundamente preocupada com a possibilidade de um yuan digital suplantar o dólar como moeda de reserva internacional.

Por um lado, Ma e sua turma são os verdadeiros especialistas. O refinamento do onipresente serviço Alipay deu a Ma uma educação que a equipe do governador Yi Gang do PBOC tem aproveitado desde então. Os bilionários chineses terão papel muito importante na ajuda da política de governo.

RG 15 / O Impacto

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