Artigo – El Salvador “biticonizou” sua economia em uma medida muito ousada, mas de grande potencial
Por Oswaldo Bezerra
Foi na segunda semana deste mês de junho que em El Salvador, o principal corpo legislativo do país centro-americano divulgou o anúncio de que 62 dos 84 deputados do país votaram a favor da Lei a favor do BITCOIN, apresentada horas antes pelo presidente NayibBukele.
No projeto o Bitcoin pode ser utilizado “em qualquer transação e em qualquer título que pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, exijam a realização”. Com isso, entende-se que não só as pessoas físicas e jurídicas serão habilitadas a utilizar o BTC como moeda, mas também os órgãos da administração pública e outros entes do Estado.
Como os mineiros que emigraram para a Califórnia em meados do século XIX, em busca do veio de ouro que os tiraria da miséria, os acólitos das criptomoedas já vislumbram com interesse para esta nação centro-americana, protagonista de um marco.
Em menos de 5 dias, El Salvador sancionou a inesperada ideia do presidente NayibBukele de adotar o bitcoin como moeda corrente no país, onde circulará ao lado do dólar, que não para de perder valor.
O paralelismo é inevitável, e despertou temor de que acontecesse como então, quando os salvadorenhos foram dormir ganhando em colones, e acordaram com uma economia dolarizada com sua renda e suapoupança desvalorizadas.
A preocupação cresce à medida que a Assembleia Legislativa, controlada pelo partido no poder Novas Ideias, afirma que o uso do bitcoin será opcional, enquanto Bukele garante em fóruns virtuais que as pessoas serão obrigadas a aceitar pagamentos nessa moeda.
Outro fator que assusta é a volatilidade de uma moeda que entra em colapso quando o empresário Elon Musk faz alguma piada, embora porta-vozes do governo garantam que todas as moedas estão sujeitas a variações, inclusive o dólar americano.
Pouquíssimos garimpeiros enriqueceram de verdade durante a corrida do ouro nos EUA. Quem foi mesmo beneficiado foram aqueles que lhes forneciam os insumos para a extração, ou lhes prestavam serviços.
Da mesma forma, a lógica sugere que quem mais se beneficia com uma enxurrada de “mineiros de bitcoins” em El Salvador são os que controlam as plataformas de processamento e os que lhes garantem os serviços básicos (hospedagem, alimentação, comunicações, etc.).
De fato, o presidente Bukele prometeu dar residência permanente e imediata aos empresários que venham ao país para ingressar nesta empreitada, e insistiu que naquele país não haverá impostos sobre os lucros gerados pelas criptomoedas.
O presidente também anunciou que a “mineração” de criptomoedas usaria energia geotérmica, proveniente das entranhas vulcânicas de El Salvador, totalmente limpa, renovável e sem comprometer o sistema energético nacional.
Para isso, instruiu a estatal La Geo a colaborar na criação de uma “fazenda” para mineração de bitcoins movida inteiramente a energia geotérmica, para reduzir o impacto ambiental de um processo de alto custo.
Há também o temor de que El Salvador se transforme em uma espécie de “lavanderia” para a lavagem de dinheiro e evasão fiscal, dada a falta de regulamentação que caracteriza as transações de Bitcoin. Roubaria assim os “clientes” de paraísos fiscais como Londres.
No total, 70% dos habitantes de El Salvador não têm conta em banco, e o uso do bitcoin poderia agilizar a transferência de fundos, sem falar que chegariam livres de comissões bancárias e impostos de intermediários.
A medida surge em meio à negociação de um empréstimo de 1,3 bilhão de dólares com o Fundo Monetário Internacional, instituição cujos especialistas são totalmente avessos ao bitcoin.
Todos, entretanto, concordam que a legalização do bitcoin é uma aposta arriscada e, como tal, pode dar muito certo ou terrivelmente errado. O pequeno país pode quebrar amis uma das diversas vezes que quebrou por interferência externa ou um dos mais ricos países da América Latina. Talvez já no final do ano já teremos o resultado desta inteligente aposta.
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RG 15 / O Impacto