Artigo – Tentativa de golpe de Estado com mercenários na Bolívia acende alerta na América do Sul

Por Oswaldo Bezerra

Menosprezadas por muitos alunos, as disciplinas História e Geografia são das mais importantes para a formação. Com a História você não repete os erros do passado. Com a Geografia você vislumbra suas riquezas e na vertente geopolítica, aprende como manipulações em cenários internos e externos roubam suas riquezas.

O Brasil passou a ser exemplo em cursos universitários internacionais de geopolítica,como exemplo de “lawfare”, para derrubada de regimes. A bola da vez para estudo é a Bolívia. Há poucos anos houve um golpe de Estado com participação direta da OEA (Organização dos Estados Americanos). Internamente, o golpe boliviano foi organizado por militares, policiais e pastores evangélicos.

O golpe colocou no poder a extrema-direita boliviana que com um governo provisório não pôde retardar uma nova eleição. Após a eleição, o partido socialista venceu com facilidade (mais de 55% dos votos), confirmando que a OEA foi apenas um instrumento externo para o Golpe de Estado.

O gosto por golpe de Estado foi tanto que não passou nem um ano e a elite boliviana já quis dar outro. Tudo foi revelado por gravações telefônicas. O ministro de Defesa da auto proclamada presidente da Bolívia, Janine Añes, poucos dias antes da eleição que elegeu o atual presidente boliviano, negociou contratação de mercenários para impedir a posse de Luis Arce.

América do Sul é a terra dos absurdos. Por isso somos tão subdesenvolvidos. Esta gravação mostra a terrível realidade da nova moda na América do Sul, a contratação de mercenários armados para mudança de realidades políticas.Como está sendo feita esta prática? Quem está envolvido? Quais consequências terão? Estas são as grandes questões do momento.

Gravações telefônicas e e-mails vazados revelam que o ministro boliviano Luis Fernando López estava pronto para usar tropas estrangeiras e impedir a volta da esquerda ao poder.Tudo isso foi revelado pelo “The Intercept”.

Quem articulou o golpe de Estado com mercenários estrangeiros foi a ala militar boliviana. Como diz o escritor Eduardo Bueno, lugar de milico é na caserna. Quando se metem em política não dá certo!

A investigação foca em ligações telefônica do então ministro de defesa Luis Fernando López e o contratante norte-americano chamado Joe Pereira. Participou das negociações como tradutor Luis “CyberRamos” Soares. Sim leitor, parece um filme de baixo orçamento.

A chamada telefônica que é a principal investigada mostra o ex-ministro e o contratador definindo os detalhes como o número de mercenários que seriam trazidos do exterior. Também foram tratados sobre o tipo de contrato, a logística e a forma de transporte.

As forças especiais que seriam transportadas para a Bolívia teriam um número de 10 mil mercenários. Seriam trazidos também 350 LEP (Law Enforcement Professionals) que deveriam controlar as polícias.

O contratante americano comunicou que os militares embarcariam em aviões desde Miami até a Bolívia. Explicava também que de nenhuma maneira Washington ficaria implicado.  Afirmou que seria como um exército privado, pois os contratos seriam feitos por empresas privadas. O contratador de mercenários também afirmou que as empresas que assinariam os contratos já existem e atuam na Bolívia.

Difícil imaginar que uma operação de tal envergadura montada em território norte-americano pudesse passar sem ser percebida, ou controlada pelos EUA. Imagine, tantos militares com tanto armamento saindo dos EUA para a Bolívia no dia da tomada de posse do presidente Boliviano e a CIA sem saber de nada.

Tal ato extremo, se levado a cabo, causaria milhares de mortos na vizinha Bolívia. Justificado por qual temor? Arce acabaria com as forças armadas de seu país e a trocaria por milícias venezuelanas e cubanas?

Várias mídias como a BBC, DW, El País passaram a criar matérias falsas sobre que Evo Morales estaria treinando e armando os índios bolivianos. Estas reportagens são pressupostas desde o primeiro governo de Evo Morales, mas nunca passaram de pressupostos.

Nas ligações telefônicas, o ex-ministro de defesa da Bolívia garantiu aos mercenários que 95% dos oficiais apoiariam o golpe executado pelos mercenários estrangeiros. Disse que haveria resistência só de um grupo minoritário do exército que apoiaria Arce só pelo motivo dele ter ganho a eleição.

O golpe de Estado não aconteceu e Arce assumiu a presidência. O plano de López não foi levado a cabo, mas não foi por causa do seu despertar democrático. Não ocorreu por desacordos entre López e outro ministro do governo Añes, Arturo Murillo. Este último comandava a polícia.

No último golpe a Polícia e as Forças Armadas “pediram” para Evo Morales renunciasse. Por causa do “pedido” muita gente acreditou que em 2019 não houve realmente um Golpe de Estado.

Um plano de desembarque de 10 mil soldados mercenários armados na Bolívia seria difícil convencer alguém que não se tratava de um golpe. O medo deste fracasso fez os dois ex-ministros não levarem a cabo o golpe de Estado e fugiram juntos, adivinha para onde? Fugiram para o Brasil.

Estão sendo procurados pela Interpol. Murillo saiu do Brasil e foi aos EUA, paraíso dos golpistas, onde achou que lá estaria livre de problemas. Foi uma jogada genial de Murillo. Lá ele ficou realmente livre das autoridades bolivianas. O que ele não contava é que seria preso por autoridades norte-americanas por suborno e lavagem de dinheiro que ele fez durante uma operação de importação de gás lacrimogênio para a Bolívia, quando era ministro de Añes.

O que podemos aprender destes acontecimentos é que devemos abrir o olho. Temos um presidente que cada vez perde mais popularidade e fala aos quatro ventos sobre golpe.

Já observamos uma tentativa uma tentativa de desembarque de mercenários norte-americanos armados na Venezuela para provocar um golpe de Estado. A maioria dos mercenários desta intentona acabou morto ou preso pelo Exército Venezuelano.

Neste caso, também surgiram áudios de opositores venezuelanos tratando com os mercenários. Até surgiu um contrato que dizia que (na cláusula 16) o Brasil daria guarita e livre passagem para os mercenários. A similaridade com a tentativa de golpe na Bolívia e na Venezuela existe até no contrato assinado, como mostram as ligações telefônicas.

O grande problema nestes episódios é que estamos vendo nascer uma nova tendência. Estão as elites sul-americanas convencidas a contratar mercenários estrangeiros para garantir que seus representantes políticos sempre estejam no poder, custe o que custar?

**Novo Livro de Oswaldo Bezerra intitulado “O Governador” está agora disponível em “livro físico”e para “Kindle”na Amazon.***

RG15/O Impacto

 

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