Artigo – O Grupo Lima ficará sem Lima. Qual o futuro da aliança contra países sul-americanos com governo de esquerda?

Por Oswaldo Bezerra

A América do Sul é tão parecida que todos os cantos que você possa conhecer, mesmo falando línguas distintas (português e espanhol), a região poderia muito bem ser um só país. Mesmo assim há quem pense que devemos nos separar de prejudicar países que teimam em ter em seu comando governos de origem popular.

Alguns envergonhados não querem fazer parte disso. Argentina se retirou, e provavelmente o Peru deixará o Grupo Lima, aliança de países formada em 2017, principalmente para destituir Nicolás Maduro do governo da Venezuela e entregar os campos petrolíferos ao capital internacional.

O Grupo é cada vez mais perde a identidade. E não poderá mais contar com Lima como sua sede. O país elegeu um presidente socialista. Sem o Peru, qual é o destino do Grupo? O Grupo Lima, mas sem Lima tem agora um desafio sólido e será testada sua iniciativa de integração.

O nascimento do Grupo Lima ocorreu em um momento em que a maioria dos governos da região estava de direita. Como o próprio nome indica, teve origem em Lima, no governo neoliberal de Pedro Pablo Kuczynski em 2017.

Foi apoiado por lideranças com ideologia semelhante, o que influenciou o perfil das propostas para lidar com a situação na Venezuela com cerco e sanções. O grupo também acentuou a polarização entre posições pró-Maduro e posições pró-direita ou pró-Washington.

De lá para cá a coisa vem mudando. Decepcionado com o neoliberalismo como nos anos 90, os povos sul-americanos desviaram seus governos para a esquerda, incluindo o próprio Peru.

Em um dos memes divulgados pelo ex-presidente do Equador, Rafael Correa (2007-2017) dizia: “Tenho o prazer de informar que o Grupo Lima acaba de perder Lima”. A imagem mostra o ex-presidente do Peru, Martín Vizcarra (2018-2020), com lideranças de direita da região. “Que problema! E agora, como vão se chamar?”, Perguntava Correa.


O partido do presidente eleito Pedro Castillo havia anunciado que, se chegasse ao poder, o Peru deixaria de fazer parte do Grupo Lima. Castillo cumprir a promessa do Peru Libre, o Grupo pode se transformar ou desaparecer.

A Venezuela espera que a posse de Pedro transforme em um ciclo de fechamento do Grupo Lima e o re-impulso da multipolaridade que sempre foi característica da América do Sul.

O primeiro a abandonar o barco foi Andrés Manuel López Obrador quando assumiu a presidência do México em dezembro de 2018, no ano seguinte Alberto Fernández o fez na Argentina e no final de 2020, depois foi a vez de Luis Arce da Bolívia.

Na verdade, esses presidentes decidiram permanecer no Grupo Lima, mas deixaram de apoiar as resoluções do bloco por entenderem que não colaboravam para a solução da crise. Em 24 de março deste ano a Argentina notificou sua saída definitiva do Grupo Lima.

Passou o período da segunda metade da última década, em que esses governos puderam se articular nas perspectivas anti-venezuelanas, que é na verdade a questão norte-americana, principalmente na época de Trump.

Em seu nascimento, a proposta do Peru foi apoiada pela Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai. Posteriormente, eles se juntaram a Guiana, Santa Lúcia e, sob o governo de fato de Jeanine Añez, Bolívia. Ele também foi apoiado pelos partidos de oposição venezuelanos.

No âmbito internacional, a criação do Grupo Lima teve o aval e o direcionamento dos Estados Unidos, presididos por Trump (2017-2021), da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Para o presidente boliviano, Luis Arce, o Grupo de Lima tinha interesse de troca comercial. Era mais ligado ao setor de varejo. Contudo, atentava contra os direitos humanos da população venezuelana. Hoje os cenários políticos são muito instáveis, e cada vez mais os partidos políticos têm menos poder e intensidade junto à população. Ninguém quer arriscar muito com mais polarização.

**Novo Livro de Oswaldo Bezerra intitulado “O Governador” está agora disponível em “livro físico”e para “Kindle”na Amazon.***

RG15/ O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *