Violência e desordem nas comunidades rurais de Santarém devido ao aumento do consumo de bebida alcoólica por menores de idade

Por Thays Cunha

Para os que vivem nas áreas urbanas o chamado “interior” é visto como um local de refúgio e sossego, lar de gente simples e pacata onde a tranquilidade faz parte do dia a dia. Em parte isso é verdade, pois existem sim alguns locais afastados que são praticamente santuários para onde as pessoas correm quando querem esquecer os problemas da cidade. No entanto, nos últimos anos essa realidade vem se modificando por conta de algumas práticas nocivas que adentraram de forma desenfreada em nossas comunidades, e que por conta disso agora estão com a sua paz e segurança comprometidas.

Sejam em comunidades tradicionais mocorongas, indígenas ou quilombolas, situadas nas margens das estradas ou na beira dos rios, um grande problema vem crescendo e afetando a vida de diversas famílias: a questão do alcoolismo, principalmente entre menores de idade, que não encontrando nenhuma barreira para adquirir o produto, proibido àqueles com menos de 18 anos, começam a se embriagar cada vez mais cedo, muitas vezes juntamente de pessoas mais velhas, e isso vem aumentando cada vez mais a violência e a desordem nas comunidades rurais de Santarém.

Um exemplo dessa situação vem acontecendo na comunidade de Guajará, localizada na região do Arapixuna, onde, cansados dos problemas ocasionados pelo acesso desregrado ao álcool, comunitários enviaram um Abaixo Assinado para petição pública junto ao Ministério Público do Estado do Pará na intenção de que algo seja feito em relação à venda de bebidas “para pessoas de todas as idades a qualquer hora do dia e da noite, causando sérias consequências à comunidade local e vizinha”.

O documento recebeu diversas assinaturas de residentes não somente do Guajará como também da Vila Amazonas, comunidade vizinha. Segundo o documento o qual tivemos acesso, é dito que “já houve várias conversas sobre o assunto com os comerciantes locais para que respeitem as famílias e as promoções (festas comunitárias) que ocorrem na comunidade, porém não há cumprimento das promessas resultado do diálogo”. É citado também o “Plano de utilização da Gleba Lago Grande da qual fazem parte e que rege a situação da bebida estabelecendo horário para a comercialização desse tipo de droga, no entanto, em nenhum momento foi cumprido o documento”. De acordo com o texto, “a cada dia surgem mais comércios, que com apenas um alvará de funcionamento sentem-se no direito de contribuir diretamente para a discórdia e desarmonia nas comunidades”.

Por conta do uso descontrolado e fácil aquisição de bebidas alcoólicas são citados casos de menores de idade consumindo álcool na comunidade, o que vem gerando brigas com muita carga de violência entre pais e filhos. Já houve também situações de “agressão física e verbal a idoso, esfaqueamento, pessoas circulando livremente com litros e garrafas de bebida alcoólica nas ruas das comunidades, causando medo aos transeuntes, cacetada com risco de ceifar a vida, invasão domiciliar à casa do diretor da escola, violência verbal, som em alto volume por pessoas alcoolizadas e em comércio, crianças e esposas refugiadas com medo de pessoa bêbada, venda excessiva de álcool durante os eventos das comunidades, motoqueiros descontrolados nas ruas, brigas durante jogos olímpicos da escola e festa junina escolar, venda de cachaça e cerveja a crianças e adolescentes, violência a esposas, briga entre membros das duas comunidades aqui citadas, etc”.

Pelo que podemos ver a situação parece estar fora de controle e se as autoridades não intervierem tudo só tenderá a piorar. É lamentável que as pessoas tenham chegado a esse ponto, se comportando de tal maneira a acabar com a paz e o sossego de uma comunidade, que agora se vê obrigada a pedir ajuda do Ministério Público para evitar mais tragédias. Sendo assim, “a comunidade pede licença para a realização dos seguintes eventos e promoções na comunidade de Guajará, com venda de cerveja apenas: Festa dos dois clubes oficiais da comunidade, Promoções beneficentes em prol da comunidade ou pessoa carente de ajuda, conduzidas pela Associação Comunitária e Festa Religiosa da comunidade. Em aberto fica para decisão jurídica, e responsabilidade nossa como comunidade”.

Não sabemos quais procedimentos poderão ser tomados pelas autoridades para a resolução de todos esses problemas. Consumir álcool de forma abusiva pode trazer consequências terríveis não só para a saúde, como também para a sociedade em geral, fato que podemos observar mediante o desespero de alguns comunitários de Guajará. E por ser uma “droga” de fácil distribuição, bebidas alcoólicas adentraram na realidade dos povos rurais, se tornando um problema crônico. Pessoas fazem o uso de álcool por diversos motivos e de acordo com o momento, tendo como objetivo se divertirem, socializarem e estreitarem os laços sociais, assim como enfrentarem algum sofrimento físico, emocional ou lidarem com situações desagradáveis. Isso mostra que se a situação chegou a esse ponto nas comunidades, ela então exige maior atenção do poder público, pois significa que algo de errado está acontecendo com as pessoas que estão envolvidas no caso.

RG 15 / O Impacto

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