Gravidez na adolescência – no Pará, gestações em meninas de 10 a 19 anos correspondem a quase 25% do total

Por Thays Cunha

Ao longo do seu desenvolvimento o ser humano passa por diversas etapas, atravessando a infância, adolescência, idade adulta até a velhice. Cada uma dessas fases deve ser vivida de acordo com o seu tempo, no entanto algumas vezes a maternidade, que deveria ser reservada para os que se encontram na fase adulta, acaba fazendo parte da vida de algumas adolescentes e até mesmo crianças.

Engravidar nessa etapa da vida pode acarretar diversos riscos e problemas, tanto fisiológicos, psicológicos como econômicos, pois a maioria dessas meninas que engravidam ainda não estão preparadas nem física nem psicologicamente para gerar e cuidar de um bebê, assim como não possuem estabilidade financeira para prover o sustento de sua criança. Assim os riscos são então inúmeros para a mãe e filho, podendo haver parto prematuro, eclampsia, aborto, anemia e até depressão pós-parto.

Segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), disponibilizadas pelo portal da Agência Pará, o Ministério da Saúde aponta que “a taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta, com 400 mil casos/ano”, sendo que “até novembro de 2020, a proporção de gravidez na adolescência no Pará foi de 22,36%. Ou seja, de um total de 147.159 nascidos vivos no Pará em 2020, 32.906 foram de adolescentes na faixa de 10 a 19 anos”, quase 25%, então.

O DATASUS também tem dados que mostram que, em 2019, partos de meninas de 10 a 14 anos apresentaram altas taxas aqui na região norte, assim como os partos de adolescentes entre 15 e 19 anos. E a nossa região, além de possuir esses altos números também é a que teve redução mais lenta de casos de gravidez entre adolescentes nas duas últimas décadas.

A gravidez na adolescência não é um assunto novo, porém gera diversos novos debates toda vez que é colocado em pauta. Muitas pessoas sentem pena das garotas grávidas, ou as acusam e as tratam com preconceito, no entanto esse é um momento em que devemos oferecer empatia, além de cobrar por políticas públicas que possam ajudar a conscientizar os jovens sobre a prática sexual segura, que evita não só a gravidez como também diversas doenças.

CASOS DIMINUEM, MAS AINDA PREOCUPAM

Embora tenha havido um declínio de 37,2% no número de adolescentes que engravidaram no Brasil entre os anos de 2000 e 2019, esse cenário ainda preocupa, pois os casos ainda podem ser considerados altos se comparados com outros países. Por exemplo, enquanto o Brasil possuía taxa de 48 mil nascimentos, em 2019, de filhos de meninas entre 15 e 19, nos Estados Unidos a taxa era de 20 mil para a mesma faixa etária (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo).

A questão em voga não passa somente pelo gerar e dar a luz, pois estão envolvidas consequências bem mais complexas, que respigam até mesmo na sociedade. Engravidar enquanto se é adolescente afeta o futuro dessas jovens mães, que recorrentemente deixam de estudar para cuidar dos filhos, prejudicando o seu crescimento como ser social. Essa situação se torna ainda pior entre as mais pobres, pois como estudam menos elas trabalharão em serviços nos quais ganharão significativamente menos, dando continuidade ao ciclo de pobreza em que estão inseridas.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Para a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), há dez pontos fundamentais que podem auxiliar a reduzir as taxas de gravidez na adolescência. São eles: 1. Sensibilizar e capacitar profissionais da saúde para o atendimento de adolescentes e promover reciclagem periódica destes profissionais; 2. Garantir o fornecimento de métodos contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), incluindo os LARCs. 3. Promover rodas de conversa com Grupos de Adolescentes e formar entre eles, agentes multiplicadores; 4. Estimular o envolvimento dos adolescentes na criação de aplicativos ou vídeos educativos com divulgação monitorada; 5. Promover interface com as Secretarias de Educação, Saúde, Cultura e Esporte e poder público, executivo e legislativo, buscando ações para medidas legislativas; 6. Estabelecer parceria com Instituições de Ensino Superior nas áreas de saúde, educação, esporte, cultura e entidades cientificas; 7. Incentivar pesquisas na rede pública com financiamento e premiações; 8. Estabelecer linha de cuidado nas UBS e nas unidades de Programa da Família; 9. Criar espaços de atendimento em locais vulneráveis; 10. Estimular a troca de experiências exitosas interestaduais nacionais e internacionais”.

RG 15 / O Impacto

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