Famílias estão se endividando para comprar comida durante a pandemia

Por Thays Cunha

Encontrar famílias endividadas pelo Brasil afora infelizmente não é incomum. No entanto, tem-se percebido uma mudança no perfil dos produtos causadores dessas dívidas.

Com o salário curto, as pessoas sempre utilizaram os cartões de crédito ou as compras parceladas, em sua grande maioria, para arcar com eletrodomésticos novos, vestuário, material escolar, manutenção da residência e outros itens, pois o dinheiro recebido estava destinado primeiramente para aquisição de alimentação e objetos de primeira necessidade.

No entanto, as famílias estão se endividando cada vez mais até mesmo para comprar comida, principalmente agora neste período em que ainda atravessamos a pandemia da covid-19. Assim as compras no supermercado também já fazem parte daquelas incluídas nos parcelamentos mensais.

CARTÃO DE CRÉDITO      

De acordo com dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em agosto de 2021 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias brasileiras com dívidas chegou a um novo recorde, 72,9%. E esses números, que já atingiram a marca de quase 12 milhões de famílias com alguma dívida em aberto, parece que ainda podem aumentar.

A pesquisa aponta que grande parte desse endividamento é concentrada no uso do cartão de crédito, sendo 83%. A motivação poderia ser explicada pelo fato de nos lares com renda mais baixa o crédito ser por vezes o único “dinheiro” disponível no momento para obter alimentos, com a vantagem de que é possível pagar em um momento posterior.

Com a inflação cada vez maior, piorada pela crise econômica ocasionada pelo coronavírus, as pessoas estão se virando para adquirir os itens essenciais á sobrevivência das famílias. O orçamento cada vez mais apertado faz o consumidor ter que utilizar o cartão de crédito para adquirir itens de primeira necessidade, impossíveis de serem cortados da lista ou adiados, como alimentos e produtos de higiene pessoal, por exemplo.

RISCOS

A questão em si não é o uso dos cartões para a compra de alimentos, mas o risco de a dívida, por conta dos juros e prováveis atrasos, acabar se tornando uma bola de neve e o endividamento então se tornar inadimplência, ou seja, quando as dívidas não são quitadas. O problema se torna ainda maior se o crédito for o chamado “rotativo”, que é quando somente uma parte da fatura é quitada e o restante fica para o mês seguinte, se juntando a uma outra parcela, somando juros sobres juros.

A pesquisa apresenta dados que mostram que um em cada quatro brasileiros não estava conseguindo pagar as suas dívidas no prazo, o que totaliza cerca de 25% de toda a população. Também é alto o percentual de famílias com mais de 50% da sua renda mensal comprometida com dívidas. Esse comprometimento faz com que as famílias fiquem sem ter como arcar com todas as suas necessidades básicas.

Com a facilidade das compras a crédito o consumidor tem a ilusão de que possui mais dinheiro disponível e com isso, seja por necessidade ou descuido, vai acumulando prestações que no final do mês podem alcançar valores impossíveis ou muito difíceis de pagar. Isso vai se tornando um beco sem saída, pois para quitar as faturas e manter o nome limpo o salário é praticamente todo utilizado, fazendo com que novamente não sobre dinheiro no fim do mês e o cartão tenha que ser utilizado uma outra vez.

Por isso é importante tomar cuidado com as armadilhas escondidas nas compras feitas com cartão, que oferecem bastante crédito e maior prazo de pagamento com pouca burocracia, o que parece ser vantajoso no momento. No entanto, apenas um dia de atraso no pagamento pode ser prejudicial ao orçamento. Sendo assim, não há problema no acesso ao crédito pelas famílias, mas na falta de planejamento e uso sem adequação, pois como há créditos maiores que a capacidade de pagamento do consumidor muitos acabam “se enrolando” em contas que não terão como pagar. É necessário então cautela para que esse alívio momentâneo na aquisição de itens acabe não se tornando um sufoco ainda maior no futuro.

Porém, o fato de as famílias estarem se endividando somente para conseguir se alimentar retrata bem a gravidade da crise pela qual estamos passando. A fragilidade do mercado, da disponibilidade de emprego e alta da inflação é o maior vilão e causador desses endividamentos. Então, só nos resta esperar por políticas públicas e ações dos governos que possam auxiliar a população a enfrentar essa fase difícil pela qual o Brasil está passando.

RG 15 / O Impacto

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