Vício moderno – os perigos da grande dependência em tecnologia
Por Thays Cunha
Quando a humanidade chegou a pouco mais da metade do século XX com certeza pensou que já havia alcançado o seu auge tecnológico. Naquela época os carros eram os mais rápidos, os novos telefones permitiam uma comunicação mais veloz, o rádio foi melhorado e com a invenção da TV as imagens podiam ser mandadas para os lares em tempo real. Então, olhamos para cima e nos sentimos ao mesmo tempo grandes e pequenos quando o primeiro homem saiu da órbita da terra e outro pisou na superfície da lua.
Porém, a chegada do século XXI nos revelou ainda mais surpresas. Aparatos que antes faziam parte somente dos sonhos mais loucos dos filmes futuristas de ficção agora estão dentro dos nossos bolsos, e vivemos com eles uma relação praticamente de simbiose. Feitos com o intuito de melhorar as nossas vidas, os avanços tecnológicos podem ser vistos em todas as áreas como indústria, lazer, educação, trabalho, saúde, ciência, construção e muitos outros, mas principalmente no que tange a comunicação. De fácil acesso, a tecnologia está presente em quase todas as camadas da sociedade, encurtou distâncias e colocou todo que qualquer tipo de conhecimento ao alcance de um clique.
São inegáveis os benefícios causados por toda essa revolução tecnológica, pois ela derrubou inúmeras fronteiras que antes pareciam intransponíveis. Neste exato momento milhões de pessoas estão trabalhando através de computadores e os celulares, que antes serviam apenas para fazermos ligações, agora são utilizados como ferramenta em transações bancárias, para mandar e-mails, tirar fotos e muitas outras coisas. Nessa era moderna, passamos a maior parte do dia de frente para uma tela, pois quase nada mais é resolvido sem o auxílio de máquinas ou da internet. De acordo com a 32ª edição do Estudo Anual do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, em números o Brasil tem cerca de 2 dispositivos digitais para cada habitante. Isso significa que há mais aparelhos do pessoas no país.
VÍCIO MODERNO
No entanto, há aqueles que não conseguem mais viver sem estarem conectados, mesmo quando não há a necessidade do trabalho ou estudo. Jogos online, sistemas automatizados, mensagens instantâneas e principalmente as redes sociais têm se tornado, por vezes, o único meio de comunicação entre algumas pessoas, sendo a situação ainda mais latente agora que a pandemia, ocasionada pelo novo coronavírus, exige que passemos mais tempo em casa por causa do distanciamento social. Porém, quando usada de modo desenfreado a tecnologia pode acabar ocasionando um vício no qual as pessoas podem até mesmo se sentirem doentes caso estejam longe de seus computadores, tablets e smartphones. É um desejo incontrolável de se manter sempre online e conectado, seja comentando posts, jogando, postando fotos ou acompanhando o dia a dia de celebridades. Mas apesar de parecer uma grande rede “social” tamanha interação entre as pessoas ocorre de forma remota e mascara tudo o aquilo o que ninguém quer realmente mostrar. É um mundo de faz de conta no qual todos são bonitos, felizes e bem sucedidos.
Esse comportamento é mais comum entre os adolescentes, que quando se veem diante de qualquer problema optam por se afastar de qualquer interação “presencial” e mergulham em uma realidade em que não precisam se preocupar em manter contato social. Porém engana-se quem pensa que os adultos não são também acometidos por esse vício moderno que os faz querer acompanhar e fazer parte de tudo o que está acontecendo ao seu redor.
QUAIS OS PERIGOS DESSA GRANDE DEPENDÊNCIA EM TECNOLOGIA?
A ciberdependência ocorre quando há o uso compulsivo da internet e dos dispositivos que a ela podem nos conectar, gerando um vício no qual o usuário chega até a negligenciar seus cuidados e atividades diárias. A pessoa então passa a maior parte do seu tempo postando fotos, comentários, respondendo mensagens, jogando, etc., vindo, portanto, a se tornar um hábito nocivo.
Embora pareça natural estar sempre conectado, quando há abuso, ou seja, quando essa conexão deixa de ser vista como trabalho ou lazer e passa a ser uma necessidade vital, isso pode ocasionar riscos para a saúde, tanto física como mental. Tal vício vai crescendo aos poucos e sem que as pessoas percebam: as checagens no celular vão ficando cada vez mais frequentes, o acompanhamento das redes sociais é diário, o acesso aos “feeds” e “stories” das redes sociais é constante e o indivíduo não consegue mais fazer nada ou realizar qualquer tarefa sem fotografar e postar para que os outros possam ver. Utilizada para fugir dos problemas da vida real e do estresse, quando a pessoa, por algum motivo, não consegue se conectar e fazer o uso das tecnologias, acaba ficando ansiosa, olhando repetidas vezes para as telas enquanto conta os minutos para voltar a acessar seus conteúdos favoritos.
Usar demais as redes sociais ou as vidas artificiais criadas através de jogos online pode ser um grande golpe para a autoestima, gerando até mesmo depressão, pois no mundo virtual a aparência de tudo, dos corpos, das roupas, da comida e até do trabalho deve ser “perfeita”. É uma disputa na qual um sempre quer mostrar ser mais bonito, feliz e bem sucedido do que o outro. Pessoas que não conseguem se encaixar nesse perfil então acabam se isolando e se sentindo infelizes por não terem a vida ideal, mesmo que essa imagem criada através da internet seja algo distorcido e fora da realidade.
O que as pessoas precisam entender é que geralmente as fotos são retocadas antes de serem postadas e, somente a parte boa e os momentos bons, mesmo que breves, são colocados a mostra. Isso significa que não devemos acreditar nessas vidas “perfeitas”, comparando-as com as nossas, pois todos passamos por altos e baixos. O que acontece é que, infelizmente, por pior que estejamos acabamos querendo manter as aparências através dos conteúdos digitais, sentindo cada vez mais prazer e sensação de euforia quando recebemos curtidas em nossos conteúdos.
CRIANÇAS
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, de 2017, oito em cada dez crianças e adolescentes brasileiros entre os 09 e 17 anos utilizam a internet, sendo que a grande maioria deles realiza os acessos através de dispositivos móveis, ou seja, podem acessar de qualquer lugar e muitas vezes sem supervisão. E se para os adultos é difícil fugir das armadilhas da internet para as crianças essa é uma tarefa ainda mais difícil. A maioria dos pequenos aprende a manusear um celular ou tablet até mesmo antes de aprendem a falar, desse modo vivem em um universo no qual jamais souberam o que é viver sem tecnologia. Por isso os pais e responsáveis devem tomar bastante cuidado em relação ao que os seus filhos estão acessando além da quantidade de tempo que passam no virtual.
O uso excessivo de aparelhos eletrônicos pelas crianças também é perigoso, não só para a saúde como para o bem estar delas. Crianças que só sabem viver no mundo virtual podem se tornar dependentes e acabarem se isolando das pessoas e das brincadeiras reais. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz então algumas recomendações, como: “o tempo de uso diário ou a duração total/dia do uso de tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes; deve ser desencorajada a exposição massiva às telas digitais, à exposição de conteúdos inapropriados; limitar o tempo de exposição às mídias ao máximo de 1 hora por dia, não devem fazer o uso em isolamento, nos quartos, e devem ser também protegidas da violência virtual ou conteúdos inapropriados”.
É PRECISO SAIR DESSA!
Caso alguém perceba que já não consegue se desligar e ficar longe da tecnologia a melhor coisa a fazer é um esforço para deixá-la de lado e tentar aproveitar as coisas reais que estão ao alcance das mãos. Usar a internet de forma consciente para não gerar vício ou inseguranças é o primeiro passo, desse modo tente não comparar a sua vida com as das pessoas que você acompanha, pois em muitos casos nada daquilo corresponde a realidade. Não “siga” pessoas que não lhe agreguem coisas boas e, quando houver distância, use a internet então para interagir com seus familiares a amigos reais.
Tente também na olhar as redes sociais, fazer pesquisas, ver séries ou jogar em momentos em que estiver acompanhado. Deixe as notificações de lado e aproveite o momento. Não perca a paisagem, o passeio e a companhia apenas tirando fotos para postar depois e, se possível, desative a internet ou mesmo deixe o celular em casa.
RG 15 / O Impacto