Greve de servidores pode ser novo capítulo no drama da saúde pública de Alenquer
Por Diene Moura
Mais um capítulo no drama da saúde pública do município de Alenquer foi ao “ar” na manhã da quarta-feira (9/2). Após mais de 15 dias em estado de greve, os profissionais da saúde decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Com faixas, cartazes, caixa de som e um microfone em punho, os servidores se concentraram no SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde no Estado do Pará) e depois se encaminharam para a frente da Secretária de Saúde, situada na rua José Leite de Melo, bairro Planalto, para reivindicar o pagamento a ser efetivado no 5° útil, melhorias nas condições de trabalho e o cumprimento do PCCR (Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações).
Segundo o Agente Comunitário de Saúde e Diretor de Comunicação e Trabalho do SindSaúde Subseção Alenquer, Vando Ribeiro, o PCRR deveria ser cumprido a partir de janeiro deste ano e até o momento a gestão atual não dá nenhum parecer a respeito. “O cumprimento do PCCR que foi aprovado em 2020 era pra ser efetivado a partir de 2022. As gestões anteriores alegaram que não poderiam aprovar durante aquele período para poder ser efetivado a partir do próximo ano. Porque naquela época era ano eleitoral. Então nós tivemos que acatar, e agora estamos aguardando, na expectativa para que a gente não perca tempo, pois o PCCR estabelece o pagamento no 5° útil”, disse.
Acrescentou ainda que o pagamento não vem acontecendo corretamente “há vários meses, há vários anos. Os dois últimos meses nós recebemos em dezembro, o mês de novembro recebemos no dia 19, e janeiro recebemos o salário de dezembro no dia 21. No mês de fevereiro, o 5 dia útil foi na última segunda-feira, dia 7, nós ainda não recebemos, esta tá aí mais uma comprovação e vale repetir que a lei estabelece que nosso pagamento seja efetivado no 5° dia útil de cada mês, conforme o Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações. Por incrível que pareça todas as outras secretarias já receberam, e nós da secretaria de saúde, que estamos atuando durando todo esse período, da pandemia ainda não recebemos”, lamentou.
A demanda e a precariedade na saúde também são pautas de reivindicações. De acordo com os profissionais falta material para executar os serviços e a estrutura nos setores deixam um cenário de abandono. “Falta material para os profissionais de saúde trabalharem, faltam Epis (Equipamento de Proteção Individual), é bastante complicado. Apesar dos pesares, o que a gente alega são as condições, a grande prova é que agora nos três últimos dias vários profissionais positivaram para Covid-19, dos cerca de 200 servidores, 30 a 40 estão acometidos pela doença. Além do que, tem setor que tem apenas uma pessoa trabalhando porque os outros servidores estão positivados. Como é que o profissional vai cuidar, vai tratar do cidadão, da cidadã, das pessoas que nesse período necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto o próprio profissional está doente. Nós da área da saúde também somos pais, somos mães, nós temos famílias, nós temos nossos compromissos pra honrar, temos nossas dúvidas no comércio, na farmácia, dividas no açougue, escolas, então essas são nossas reivindicações”, finalizou Vando Ribeiro.
A Enfermeira Bárbara Arrais, concursada do município, informou à nossa reportagem que além do pagamento atrasado do salário que ocorre geralmente no dia 20 do mês, falta o “básico do básico” para atender os pacientes, e há ainda a indisponibilidade de insumos e de materiais de proteção, bem como máscaras cirúrgicas que os profissionais precisam tirar do próprio bolso para comprar. “Você chega na unidade não tem a máscara apropriada, a cirúrgica, porque é a ideal. Fora material de higiene, de limpeza, álcool líquido, álcool em gel. Tem dias que nas unidades de saúde não tem água sanitária. Já tivemos que fazer coleta pra comprar e poder limpar a unidade de saúde porque não tinha, e é justamente no local onde todo dia se atende paciente com Covid. Outra coisa é a farmácia básica que não tem medicamento pra entregar para os pacientes, remédios para diabéticos ou hipertensos, não tem! Hoje tem um paciente com COVID que vai lá faz o teste, não passa nem pelo médico e não recebe medicamento, enfim é uma precariedade que é muito triste”, afirmou a Enfermeira.
Os profissionais de saúde estão em “estado de greve” desde o dia 18 de janeiro, a qual foi anunciada nas principais plataformas online. Até a presente data não houve nenhum convite da gestão para entrar em acordo, ouvir planejamentos ou discutir propostas para atender as reivindicações. Os servidores destacam que a gestão continua inerte perante as cobranças e alega apenas que a greve é ilegal. O movimento de greve continua nas ruas e nos principais pontos da cidade até que o Secretário de Saúde, Antônio Fernando ou o Prefeito, Tom Farias, se manifestem. Os profissionais já entraram com uma ação no Ministério Público do Estado para que o órgão interceda um diálogo.
RG 15 / O Impacto