Hospital Regional do Baixo Amazonas realiza primeiro transplante renal preemptivo do Pará
O procedimento é realizado com doador vivo e antes do paciente renal crônico precisar ir para máquina de hemodiálise – tratamento para filtragem do sangue -, realizado em média três vezes por semana, durante quatro horas.
No último dia 14 de junho, Gledsan Maria Caldeira da Trindade, de 42 anos, recebeu o rim do irmão Aglenilson Caldeira da Trindade, 36 anos, após exames que constataram a compatibilidade entre eles. Ela já realizava acompanhamento nefrológico na unidade desde 2016.
O médico nefrologista Henrique Moreira Rebello, que integra a equipe de transplante renal do HRBA, explica que o acompanhamento prévio ambulatorial, durante seis anos de tratamento, foi essencial para a efetivação do transplante preemptivo na paciente.
“É uma paciente que tinha uma doença renal progressiva e deu tempo de realizarmos todos os exames com antecedência para o transplante ser feito antes mesmo da hemodiálise”, destaca o nefrologista.
Trajetória
Gledsan descobriu a doença renal crônica em 2016, aos 37 anos, após complicações durante uma gestação, que resultou em um aborto espontâneo. Na época, apresentou pressão alta e creatinina alterada, sinais que apontaram a doença.
Ela passou por procedimento cirúrgico e ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em virtude de uma grave eclâmpsia – doença causada pela liberação de proteínas, por parte do feto, na circulação materna, agredindo as paredes dos vasos sanguíneos.
Nos últimos anos, os sintomas renais se agravaram e o médico alertou para a necessidade de iniciar tratamento, cujas alternativas eram: diálise peritoneal, a hemodiálise e o transplante.
De acordo com especialistas, o transplante preemptivo é uma modalidade diferente, já que é realizado antes do paciente ter contato com os outros dois tratamentos. No entanto, necessita da disponibilidade de um doador vivo compatível, que, geralmente é encontrado com mais facilidade entre membros da família, sem interferência na fila nacional de transplantes.
Quando saiu o resultado da compatibilidade entre ela e o irmão, Gledsan não escondeu a felicidade. “Nós somos quatro irmãos em casa, somente eu de mulher e três homens. Fizemos os exames, e ele (Aglenilson) deu compatível”.
A paciente desabafa sobre as dificuldades vividas por pacientes renais crônicos, especialmente os que dependem da máquina de diálise para sobreviver. “Conversamos com muita gente que faz hemodiálise e sei que esse procedimento debilita muito as pessoas. Eu não queria fazer, pedi muito pra Deus e ele realizou”, afirma a paciente.
O irmão conta que concordou em ser o doador com intuito de possibilitar à irmã uma nova vida. “O sofrimento familiar é muito grande, a gente sofre com ela. Esse transplante está sendo um divisor de águas”, comenta Aglenilson Caldeira.
Procedimento inédito
Localizado em Santarém (PA), o Hospital Regional do Baixo Amazonas, gerenciado por uma das maiores entidades filantrópicas do Brasil, a Pró-Saúde, desempenha um importante papel, atuando como referência para atendimentos de alta complexidade na região amazônica do país.
“É um tipo de transplante que pode durar por muito mais tempo e isso é um ponto positivo. Mas para ser concretizado, é fundamental um acompanhamento ambulatorial prévio, antes da necessidade de realizar hemodiálise”, recomenda o médico nefrologista.
O transplante preemptivo foi considerado um sucesso pela equipe multiprofissional, conduzida pelo cirurgião geral e urologista, Alberto Tolentino. “A experiência de ter operado uma paciente com problema renal, já com os rins não funcionantes e sem ser submetida à hemodiálise, mostra que a resposta é muito boa”, afirma o cirurgião.
O diretor hospitalar do HRBA, Hebert Moreschi, ressalta que o sucesso do procedimento foi possível graças a uma equipe altamente capacitada, que faz com que a unidade esteja sempre à frente quando se fala em tecnologia e tratamentos.
“Seguindo a estratégia de interiorização dos atendimentos em alta complexidade do Governo do Estado do Pará e da Pró-Saúde, conseguimos levar à população paraense a melhor técnica, o melhor procedimento e uma assistência com qualidade e segurança na Amazônia brasileira”, enfatiza Hebert.
Ambos os pacientes já receberam alta hospitalar após a cirurgia e apresentam uma evolução positiva do quadro clínico. Gledsan seguirá sendo acompanhada pela equipe de nefrologia do hospital, via atendimento ambulatorial.
Desde 2012, o Regional do Baixo Amazonas trabalha na captação múltipla de órgãos. Em 2016 a unidade foi habilitada para realizar o serviço de transplantes renais na região, onde já foram feitos mais de 70 procedimentos.
Avanço
O secretário de Estado de Saúde Pública, Rômulo Rodovalho, parabenizou a equipe do HRBA e disse que a doação e o transplante de órgãos são uma prioridade desta gestão. “Inauguramos, na última segunda-feira, a nova sede da Central de Transplantes dentro da Fundação Santa Casa, para assegurar melhor estrutura de trabalho para as equipes e poder avançar cada vez nessa política de saúde no estado do Pará. Não basta só sensibilizar as famílias para a doação de órgãos, é fundamental que haja profissionais capacitados e estrutura para que os transplantes aconteçam”, enfatizou.
De acordo com a Central Estadual de Transplantes (CET), em 2021, foram realizados 07 transplantes renais intervivos e 24 de doadores falecidos. Até o momento, em 2022, já foram realizados 04 transplantes renais intervivos e 10 de doadores falecidos.
Referência para 1,4 milhão de pessoas residentes em 30 municípios da região Oeste do Pará, Xingu e Baixo Amazonas, o hospital paraense é reconhecido como um dos dez melhores hospitais públicos do País, e faz parte de um seleto grupo no Brasil que possui o certificado ONA 3 – Acreditado com Excelência, selo de qualidade que, há sete anos, tem sido concedido ao hospital pela Organização Nacional de Acreditação.
O Impacto com Agência Pará