Santarém – Mãe denuncia que filha teria sido assassinada e não cometido suicídio

“Em entrevista exclusiva à TV Impacto, Maria Cleide revelou indícios do possível crime”

Por Diene Moura*

O que parecia ser mais uma estatística nos dados de suicídios entre jovens, tomou um rumo diferente após indícios de um possível crime de feminicídio denunciado pela família da santarena Bianca Cristina Ferreira dos Santos, de 22 anos.

A morte de Bianca ocorreu no dia 24 de março de 2022. A versão inicial é que ela foi encontrada sem sinais vitais e com uma corda pendurada no pescoço, dentro do próprio quarto, na residência situada na rua Cumaru, bairro Vitória Régia, em Santarém.

Na época, as circunstâncias da morte apontavam para um suicídio, conforme declaração de óbito, que segundo a família de Bianca, teve influência no resultado por parte de parentes do companheiro da jovem, identificado como Douglas Sousa Nunes.

A mãe, Maria Cleide Ferreira, alega que sua filha foi assassinada e não teria motivos para cometer o suicídio, já que não apresentava sintomas de depressão e muito menos iria tirar a própria vida em virtude de um empréstimo de R$ 3 mil.

O argumento do empréstimo depositado errado para um desconhecido, foi mencionado por Douglas Sousa Nunes aos familiares. Isto seria uma das justificativas para o suicídio, mas a família rebate e afirma que antes da morte, o casal havia tido uma discussão proveniente deste prejuízo financeiro e ainda, o companheiro teria agredido Bianca cerca de duas semanas antes.

A genitora acredita que o caso se trata de feminicídio e por isso pede Justiça.  Em entrevista exclusiva à TV Impacto, Maria Cleide, deu detalhes do ocorrido para a repórter Lorenna Morena. Segundo ela, os familiares do companheiro da filha, interferiram na cena do suposto crime, retirando o corpo da jovem e colocando para o lado externo da casa.

“No dia que ela morreu, o irmão dele tirou com eles lá. Por que eles tiraram antes da polícia chegar?  Antes do perito chegar? Porque não podiam mexer! Se ela tava enforcada, era para deixar no mesmo lugar, onde tava. É isso que a gente tem como revolta e suspeita. Chamaram a polícia, mas já tava jogada no chão, a própria família do Douglas retirou e jogou ela na área que nem um bicho! Ela não era animal e não colocaram pano, nada! Deixaram para todo mundo ver! Todo mundo tirava foto, filmava, todo mundo falava, todo mundo passava por cima dela, não estavam nem aí, parece um animal”, afirmou a mãe aos prantos.

Suicídio ou Feminicídio?

A dinâmica do ocorrido foi detalhado por Maria Cleide Ferreira, de acordo com seu relato, naquele dia, a filha estava na casa dos sogros, a qual morava juntamente com o então companheiro. Mas antes de ser deslocar para onde residia, teria ido até a casa da sua mãe e se oferecido para sair com ela para a colônia, no entanto, acabou não indo por falta de dinheiro.

“Ela queria ir comigo. Ela chegou aqui era 10h da manhã. Eu perguntei, Bianca, você vai sair para onde minha filha? Mãe, eu não vou sair. Ela perguntou por quê? Eu disse, não, é porque queria ir na colônia com tua tia, a gente vai lá pegar pupunha. Ela disse: Eu queria ir com a senhora mãe. Aí eu olhei pra ela e disse: minha filha,  eu não tenho dinheiro. Tu tem dinheiro? E ela disse que não tinha. Pois, também não tenho, se tivesse eu te levava. Mas tu vai ficar aqui em casa minha filha, faz o almoço pro teu pai que ele ta trabalhando bem perto que ele vem almoçar em casa. Aí ela disse: Tá bom então mãe e ficou fazendo o almoço”, disse Maria Cleide.

Ao se questionada sobre como tudo teria acontecido, os familiares de Douglas alegaram a ela, que Bianca se trancou no quarto. “Jogou a chave pra ele. Isso que eles que contaram, os outros, não ele. Ele não falou nada, até hoje ele nunca me disse nada, e nem ajudou no velório, nem ajudou em nada, até hoje não ajudou em nada. Isso acende uma suspeita porque ela não tinha marca de enforcamento, o rosto tava perfeito. E ela tava com a costa roxa, com vários hematomas pelo corpo e com a cabeça machucada”, ressaltou.

Ao retornar da colônia e chegar próximo da casa da filha, pois moravam no mesmo perímetro, viu uma grande movimentação da população e da polícia na rua. Ao avistar um senhor em uma bicicleta perguntou o que havia acontecido, foi quando recebeu a triste notícia. “Na hora não aguentei, eu desabei. Tinha um senhor lá que até mencionou para tirar o saco de pupunha da minha cabeça, pra não cair. Me socorreram e colocaram pra dentro, quando entrei e vi minha filha jogada”, lamentou.

Ao perguntar aos parentes de Douglas, falaram que a jovem teria utilizado a corda da rede da própria filha bebê, para se matar. Mas a mãe é relutante quanto a esta afirmação, por conta que a corda era muito pequena para dá no pescoço dela.

Relacionamento abusivo e ameaças

Conforme informado por Maria Cleide, o relacionamento de Bianca com Douglas já tinha 2 anos e após um mês grávida da filha do casal, passou a morar com ele.

Embora, nunca tenha ouvido da boca da própria filha, outras pessoas falavam que o companheiro de Bianca era violento e a agredia com frequência.  Na primeira briga do casal em que a própria família da jovem foi ajudá-la para retirar seus pertences da casa dos sogros, a irmã ouviu o então cunhado ameaçando que iria caçar Bianca e tirar sua vida.

“Nunca vi, ela nunca me contou. Já tinha registrado boletim de ocorrência, só que ela retirou a queixa, porque a mãe dele tava morrendo né, desesperada! Pediu pra ela que ela retirasse a queixa, que ele ia mudar com ela. Aí ela retirou. No dia que a gente tava retirando as coisas dela lá, na primeira vez que brigaram. Essa minha filha, que tem 20 anos, que não mora aqui, mora no Mato Grosso, quando tava carregando as coisas, ele (Douglas) chamou ela e sentou na ponta da cama e disse: ‘ela pode ir em qualquer canto que ela for, mas eu vou matar ela. Um dia eu mato ela”, revelou a mãe.

Procedimentos investigativos

A família foi até a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. As informações que obtiveram inicialmente é que o caso estava sendo investigado e até chegou a prestar depoimento após 8 dias da sua morte. Na delegacia, também afirmaram que iriam apreender o celular da jovem que foi levado por Douglas de dentro da casa de Maria Cleide, logo depois que Bianca morreu.

“Contei a história pra eles, disseram que iriam investigar, iam chamar eles. Iam pegar o aparelho celular que ele levou no dia que ela morreu. Ele levou o celular que tava no meu quarto carregando. Foi na hora que ele avisou meu irmão que ela tava morta. Ele não tinha, mas, isso de pegar o celular que tava no meu quarto, ele pegou, levou e disse pro meu irmão, que ele é deficiente: ‘vai lá ver tua sobrinha que tá morta lá em casa’. Foi só o que  ele falou e saiu correndo, levando o celular que era dela, não era dele. Ela comprou com o próprio dinheiro dela”, destacou.

Em um vídeo mostrado à nossa equipe de reportagem, as imagens mostram Bianca no chão e do lado uma corda realmente pequena. Considerando os indícios, o relacionamento e a relação de Bianca com os filhos, a mãe fala com veemência que ela não teria coragem de tirar a própria vida e descarta a hipótese do suicídio.

“Com dois ou três dias mandaram esse vídeo. Ela não tinha essa coragem, porque que ela gostava muito das filhas dela, muito, muito. Eu quero que haja Justiça, morreu foi uma pessoa, não foi um cachorro. Eu tenho certeza que foi ele”, lamenta a mãe chorando muito.

Por fim, Maria Cleide revelou que o companheiro de Bianca desde então desapareceu. A família dele foi apenas uma vez levar uma quantia de R$ 100, depois de 9 meses, para a filha. Contou também que com relação ao valor de 3 mil reais, a vítima iria emprestar o valor para dá a Douglas, e que a própria patroa iria repassar o valor se ela quisesse, mas houve apenas a entrega de R$ 400.

“Um dia antes ela tinha mandado 400 reais pra ela. Ela até disse: porque ela não pediu mais dinheiro, não falou que ela queria, que eu tinha mandado pra ela. Não chegou nem a pedi. E por isso, eu sei que não foi por isso. Peço Justiça porque não pode ficar assim. Minha filha tinha apenas 22 anos e tinha 2 filhos pra criar”, finalizou.

Passagens pela polícia

Nossa equipe de reportagem apurou que existem dois procedimentos na Justiça em desfavor de Douglas Sousa Nunes. Um por roubo, a qual foi preso em flagrante em 2019 e o outro por violência doméstica em 2020.

O roubo

Por volta de 10h30 da manhã do dia  3 de dezembro de 2019, Douglas Nunes, na época com 19 anos, utilizando de violência e grave ameaça em posse de arma branca (faca), subtraiu o aparelho celular da vítima Amanda Oliveira Passos Sousa, de 20 anos.

Em depoimento à polícia, a vítima relatou que caminhava em via pública (Alameda 13), no bairro Santíssimo, quando foi surpreendida pelo suspeito que a pegou violentamente pelo braço, a jogou no chão e mediante agressões puxou o celular de sua mão.

Douglas Nunes confessou ter assaltado a vítima e que foi perseguido por populares, que logo em seguida foi alcançado e o prenderam em flagrante. A denúncia foi enviada ao Ministério Público e ainda tramita no Poder Judiciário.

Violência doméstica

Nossa reportagem apurou também que em 2019, Douglas Sousa Nunes, agrediu com uma barra de ferro o próprio irmão de 16 anos, na residência da família. O motivo das agressões seria porque ele teria pedido ao irmão menor para retirar as roupas do varal e guardar em outro local. “Tira essa roupa daí se não vai sumir”, dizia.

O menor disse que não ia retirar e ao se deslocar para o banheiro foi abordado pelo irmão. “Tu sabe o que ta passando pela minha cabeça agora?”, e em seguida agrediu o adolescente com uma barra de ferro de aproximadamente 20 cm.

À polícia, o menino contou que não era a primeira vez que tinha sido agredido. Em outras ocasiões, Douglas já lhe jogou uma faca, bem como tentou agredi-lo  com uma pedra.

Na época a mãe, Sandra Sousa Nunes, corroborou com os fatos narrados e afirmou que a filha testemunhou as agressões e ainda teria ouvido Douglas falando que iria dá uma facada na boca do irmão enquanto tivesse dormindo e iria pegar o adolescente na porrada, caso saísse para rua.

Ao ser interrogado pela Justiça, o denunciado negou as acusações de lesão corporal no ambiente doméstico que lhe foram atribuídas, mas o laudo da perícia  constatou uma ferida contusa de aproximadamente 2 cm na região temporal a esquerda, com coágulo recente.

Mais sobre o caso

Iremos entrar em contato com a autoridade policial responsável pelo boletim de ocorrência na época registrado na Unidade Integrada de Polícia (UIP) do bairro Nova  República e também com a mãe e pai de Douglas Nunes que pediram espaço para se manifestar a respeito.

Mais informações sobre o caso em breve por meio do nosso canal oficial na TV Impacto ou no nosso site www.oimpacto.com.br.

O Impacto – colaborou Lorenna Morena e Baía

Foto: TV Impacto

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