Aluna de 68 anos recebe título de pedagoga no Campus Óbidos da Ufopa
“Para realizar sonhos, não tem idade”. Maria Selma de Siqueira Correia acaba de receber o grau de pedagoga e é uma das mais recentes profissionais formadas pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em seu Campus Óbidos. Ela recebeu o seu primeiro diploma universitário, no dia 13 de março, aos 68 anos.
“A primeira sensação que tive foi a de dever cumprido, pois eu me cobrava muito para ter um curso superior”, afirma. Ela diz que também se emocionou com as palavras que ouviu ao receber o diploma na secretaria da Ufopa. “Tanto da diretora do campus quanto do secretário, que disseram que eu ainda tenho muito o que contribuir com a Universidade, devido à minha experiência de vida, essa minha perseverança, e provar para as pessoas que a idade não atrapalha a realizar sonhos”, concluiu.
A atual diretora do Campus Óbidos, Profa. Dra. Marilene Barros, disse que ficou emocionada ao “vivenciar a outorga de grau da querida Selma”. “Ela é uma pessoa que sempre emana pensamentos positivos e coloca em prática as ações planejadas. Não se entrega às intempéries, e isso a leva a colher frutos com sabor da vitória”, afirmou.
“Dona Selma representa um perfil de alunas que por diversas razões não puderam concluir a graduação antes. Aquele momento, iniciado em 2017, representava o trabalho coletivo (acadêmico, administrativo) de docentes e técnicos, proporcionando educação superior pública e de qualidade”, afirmou Rômulo Viana, técnico em assuntos educacionais da Coordenação Acadêmica do Campus Óbidos.
Dona Selma ingressou na Ufopa em 2017, por meio da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), depois de ficar quase 30 anos fora da escola. Antes, havia tentado outro curso superior, mas não se adaptou com o formato à distância. “Eu gosto do debate, de tirar dúvidas, de estar junto”.
Ela recebeu o título após defender o TCC intitulado “15 anos de Casa Familiar Rural no município de Óbidos: do entusiasmo à inoperância”, foi aprovada com conceito excelente e recebeu muitos elogios da banca avaliadora.
Faz questão de ressaltar o apoio que recebeu da família, das duas filhas que já concluíram o mestrado e, principalmente, do marido. “Meu esposo deixou de fazer as atividades dele para não me deixar desistir da universidade. Ele foi muito importante para mim durante esse período todo. Mesmo sendo uma pessoa com pouca escolaridade, ele valorizou muito esse momento de estudos para que eu pudesse concluir”.
Alunos com 40 anos ou mais na Ufopa
Desde que foi instalada na cidade de Santarém, em novembro de 2009, a Ufopa realiza anualmente processos seletivos. Segundo dados da Diretoria de Registro Acadêmico (DRA), atualmente são 8.288 alunos regularmente matriculados no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA). Desses, 761 tem acima de 40 anos, sendo 400 mulheres e 361 homens. “São 9,18% de discentes com idade acima de 40 anos”, informou o técnico em assuntos educacionais da DRA, Flávio Nicaretta. Ele informou também que, durante esses 13 anos de criação da universidade, já foram diplomados 1.803 alunos com idade superior a 40 anos.
Etarismo, o que é isso?
A palavra vem sendo utilizada com frequência para definir um tipo de preconceito, aquele que se refere à idade. Ganhou repercussão nacional recentemente quando jovens de uma faculdade da cidade de Bauru (SP) debocharam de uma colega de turma por ela ter mais de 40 anos. Selma, 68 anos, diz que não enfrentou esse problema enquanto estudava na Ufopa. Ela era a única da turma na faixa etária de mais de 60 anos. Muito pelo contrário: disse que se sentiu acolhida pelos colegas. “Os jovens me abraçaram afirmando que estavam orgulhosos de estar junto comigo na turma e isso me motivou a não desistir. Eu me apaixonei pela minha turma”.
O Impacto com informações da Ufopa