Segundo estudo, peixes consumidos pela população em 6 estados da Amazônia têm contaminação por mercúrio
Um estudo inédito identificou que peixes consumidos pela população em seis estados da Amazônia brasileira têm contaminação por mercúrio em 21,3% acima do permitido. Os piores índices estão em Roraima: 40% dos peixes analisados possuem índices do metal pesado altamente tóxico superior ao limite recomendado por regras sanitárias e de saúde. A dado foi divulgado nessa terça-feira (30).
Ao todo, foi identificado que peixes vendidos a consumidores que vivem no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima chegam às mesas das famílias com altos níveis de mercúrio – para os pesquisadores, essa alta tem relação com o avanço de garimpos de ouro. Foram coletadas amostras de 80 espécies de peixes em todas as capitais destes estados e de outros 11 municípios do interior.
A Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/WHO) e a Agência de Vigilância Sanitária brasileira estabelecem teor de 0,5 micrograma por grama. Essa foi a base de cálculo usada no estudo para chegar ao nível de contaminação. Roraima ultrapassou de 5,9 a 27,2 microgramas esse potencial ingestão de mercúrio pela população por meio de peixes.
No estado, a pesquisa se concentrou em peixes que seriam vendidos para a população na capital Boa Vista. Pesquisadores coletaram 75 peixes de 27 espécies direto de pescadores em quatro rios: Uraricoera, Mucajaí, Branco e Baixo Rio Branco. Entre as espécies analisadas com maior contaminação estão o coroataí, barba chata, piracatinga, filhote e peixe cachorro.
O estudo denominado “Análise regional dos níveis de mercúrio em peixes consumidos pela população da Amazônia Brasileira” foi desenvolvido de março de 2021 a setembro de 2022, com amostras de 1.010 peixes coletados nos 17 municípios, incluindo as capitais. O trabalho reuniu pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Greenpeace, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil.
Para identificar o nível de contaminação dos peixes, os pesquisadores fizeram as coletas dos animais em mercados públicos, feiras-livres ou direto com pescadores – como foi o caso de Roraima. Depois, analisaram o impacto dessa contaminação na saúde humana, usando como parâmetro o consumo de peixe entre quatro grupos: homens adultos, mulheres em idade fértil, crianças de 2 a 4 anos, e de 5 a 12 anos.
“Fizemos o cálculo médio do peso corporal de cada um desses grupos, avaliamos o consumo estimado padrão em grama por dia de pescado. Baseado nos níveis de mercúrio detectados, chegamos ao número que é uma estimativa da ingestão média diária de mercúrio. Com base nessa ingestão, comparamos esse número calculado com uma outra referência de ingestão”, explica o pesquisador da Fiocruz, Paulo Basta.
Riscos à saúde
Altamente tóxico, o mercúrio é usado por garimpeiros que atuam ilegalmente na Amazônia durante a exploração de ouro, principalmente em territórios indígenas, como a Terra Yanomami. O metal é utilizado para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo “limpo”.
Depois desse processo, o mercúrio é despejado no ambiente e, sem qualquer cuidado, e se acumula nos rios e entra na cadeia alimentar por meio da ingestão de água e peixes.
Como consequência, o mercúrio no organismo pode causar graves problemas de saúde que afetam o sistema nervoso (potencial neurotóxico), fica retido no organismo devido à capacidade de bioacumulação, além disso, a concentração aumenta em cada nível da cadeia alimentar.
Os pesquisadores afirmam que é necessário que o governo brasileiro desenvolva políticas públicas e programas que visem a garantia da segurança alimentar das populações mais afetadas, respeitando a soberania alimentar e o modo de vida de casa região.
Fonte: G1