Segundo médica, estado de saúde de Zé Celso é grave, mas estável

A médica Luciana Domschke afirmou que o estado de saúde do dramaturgo Zé Celso, de 86 anos, é grave, mas estável. Segundo vídeo publicado no perfil do Teatro Oficina, Luciana disse que conversou com os médicos que cuidam do artista, e que ele está com 53% do corpo queimado.

Ainda segundo o comunicado, ele está sedado e intubado na UTI do Hospital das Clínicas, em São Paulo, mas “continua lutando”, com suporte e utilizando medicamentos para deixar os “dados vitais dentro da normalidade”.

Por fim, Luciana pediu para que os fãs e amigos acreditem na recuperação de Zé Celso: “Ele tem força e vontade de viver suficiente para sair dessa”.

O apartamento onde o ator e diretor mora, no bairro do Paraíso, em São Paulo, pegou fogo nesta terça-feira (4). Além dele, outras três pessoas tiveram de ser encaminhadas a unidades de saúde, incluindo o marido de Zé Celso, Marcelo Drummond.

Drummond, Victor Rosa e Ricardo Bittencourt estão estáveis e continuam em observação, devido à inalação de fumaça, segundo Luciana.

O Corpo de Bombeiros informou anteriormente que a ocorrência foi registrada às 08h04, e as chamas controladas por volta das 09h.

Zé Celso e o Teatro Oficina

A companhia teatral liderada por Zé Celso é uma das principais e mais longevas da história do país. A sede homônima é tombada como patrimônio histórico nas esferas municipal, estadual e federal.

O Teatro Oficina foi formado em 1958 por um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da USP, do Largo São Francisco. Entre eles, além de Zé Celso, Amir Haddad, Renato Borghi, Fauzi Arap, Ítala Nandy, Etty Fraser e outros.

Em 1961, a companhia se estabeleceu na tradicional sede, até então do Teatro Novos Comediantes, na rua Jaceguai, na região do Bixiga, em São Paulo.

Como relembra o portal “Memórias da Ditadura” (projeto realizado pelo Instituto Vladimir Herzog), na primeira fase da ditadura, o Oficina “fez montagens políticas, procurando tirar o público de sua posição de conforto. Os espetáculos cobravam uma participação ativa da plateia, chegando a provocar incômodos”.

O teatro fechou temporariamente, em 1966, após ser completamente destruído internamente por um incêndio. Zé Celso e o teatro sempre denunciaram a autoria do episódio a grupos paramilitares, que ameaçavam o setor cultural da época.

Retrato do ator e diretor José Celso Martinez Corrêa (c), mais conhecido como Zé Celso, durante peça teatral, em fevereiro de 1983.
O incêndio foi a ignição que impulsionou a reabertura do Oficina, reconstruído, em 1967, com a montagem da peça “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que virou marco transgressor da época e lançou a companhia ao tropicalismo.

No ano seguinte, uma das principais montagens da história do Oficina é feita: a primeira obra para teatro de Chico Buarque, “Roda Viva”.

“O grupo traz [em “Roda Viva”] uma encenação carregada de crítica social e possibilidades de subverter as práticas do palco e enfrentar as instituições políticas repressivas da época”, pontua a enciclopédia do Itaú Cultural.

Zé Celso foi detido em 1974 e se exilou em Portugal, retornando ao Brasil em 1979. Nesse período, o grupo ficou inativo.

Ao longo da década de 1980, nos últimos anos do regime militar, o Oficina focou na realização de oficinas, leituras e eventos de pequeno porte e pesquisas para novos rumos do grupo, se afastando das grandes montagens anteriores ao exílio de Zé.

Também nessa época, a sede e companhia passa a se chamar Teatro Oficina Uzyna Uzona e é iniciado o projeto de reforma arquitetônica pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito, que se mantém até os dias de hoje.

O projeto de Bo Bardi e Elito foi considerado por críticos de arquitetura do jornal The Guardian, em 2015, o melhor teatro do mundo: “Um espaço longo e estreito, semelhante a uma rua, na carcaça queimada de um antigo teatro, vigiado por uma parede de galerias construídas com andaimes.”

A partir de então, o grupo se dedicou muito à adaptação de textos originais adaptados à realidade política e social de momento do país, “em benefício da incorporação de material autobiográfico, dos integrantes ou do próprio Oficina” – um movimento de “antropofagia orgiástica” ou “tragicomédiaorgya”, como define Zé Celso.

Em 2017, o grupo remontou “O Rei da Vela”, trazendo o fundador do Oficina Renato Borghi de volta ao papel do protagonista Aberlado I. Em 2019, Roda Viva também foi remontada em uma temporada de ingressos esgotados.

Fonte: CNN
Imagem: Divulgação

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