Homem é preso após matar ex-mulher a golpes de faca
“Cena de filme de terror”, assim moradores do bairro do Santarezinho declararam sobre o crime bárbaro praticado por Joel da Conceição Cavalcante, 40 anos, conhecido pelo apelido “Pote”.
O feminicídio o qual foi vítima Renata Shirley Coelho da Silva, 28 anos, foi o desfecho trágico de uma relação com histórico de violência doméstica.
A cobradora de ônibus, que também realizava serviços como segurança de eventos, foi brutalmente assassinada a golpes de faca, na manhã de terça-feira (08/08), enquanto caminhava pela Rua São Lucas, bairro Santarenzinho, em Santarém.
O assassino, seu ex-companheiro, a atacou desferindo ao menos 3 golpes de faca, quando ela voltava para casa após realizar compras em um supermercado.
O Samu 192 chegou a ser acionado, contudo, no local, os profissionais de saúde, diante dos graves ferimentos, nada puderam fazer. Após o crime, Joel empreendeu fuga, mas foi preso pela Polícia Militar por volta de 10h30.
Renata deixa uma filha de 4 anos, fruto do relacionamento com o homem que tirou sua vida.
Imagens de videomonitoramento do supermercado mostram que Joel estava local, no momento em que a vítima fazia compras, o que pode determinar a perseguição que fazia, pois não aceitava o fim do relacionamento.
O caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Joel está preso na Central de Triagem Masculina (CTM) do Complexo Penitenciário de Cucurunã.
Histórico de agressões e violência
Diversas ocorrências de violência antecederam a trágica morte de Renata. Uma delas aconteceu na noite do dia 22 de maio de 2020, uma sexta-feira. Joel foi preso por ter agredido fisicamente Renata.
A Polícia Militar realizou a prisão após ser acionada por volta de 23h30, sobre uma ocorrência de violência doméstica na Avenida Olavo Bilac, entre a Avenida Tomé de Souza e Rua Angelim, no bairro Santarenzinho.
Segundo a comunicação aos militares, tratava-se da agressão física com socos e tapas efetuados por um homem em sua companheira, e que ele estaria embriagado.
Rapidamente a guarnição diligenciou ao local indicado, e lá chegando confirmou a denúncia e conversou com a vítima, Renata Shirley Coelho da Silva, a qual relatou que acabara de ser agredida fisicamente pelo seu convivente, pois ele estava embriagado e por não deixá-la entrar para casa, visto que ele estava bebendo em uma casa ao lado, passou a agredi-la com socos e tapas, causando lesão corporal na boca.
Ainda conforme a polícia, o suspeito do crime estava no local e foi preso, sendo posteriormente conduzido para a 16ª Seccional de Polícia Civil, juntamente com a vítima, onde foi apresentado ao delegado plantonista para as providências.
Os militares disseram ainda que o suspeito aparentava estar embriagado, mas não resistiu à prisão.
O relato de Renata
Na época, Renata disse à polícia que, no início da noite, Joel passou a ingerir bebida alcoólica na casa vizinha. Quando por volta de 23h30, ele, já alcoolizado, iniciou uma discussão porque ela disse que iria para sua casa.
Ele não queria que ela fosse, e diante da insistência da vítima começaram as ameaças de que iria agredi-la caso tentasse ir. Momento em que Renata começou a andar em direção a sua residência, ele lhe agarrou pelos cabelos e passou a lhe agredir fisicamente com socos, provocando lesões na face e boca, chegando a quebrar um dente.
Diante das cenas, um vizinho ligou para a polícia e denunciou o fato. Na delegacia, ela teria solicitado medidas protetivas de urgência para o afastamento do suspeito do lar.
Ainda conforme o relato de Renata à autoridade policial, aquela não teria sido a primeira vez que o suspeito lhe agrediu fisicamente. Lavrado o auto de prisão em flagrante, Joel foi colocado em liberdade após pagar fiança.
Repercussão
Em entrevista à imprensa, a coordenadora do Programa Pará Paz em Santarém, Diane Castro, falou sobre o feminicídio de Renata Shirley.
“É com muita tristeza que a Fundação Pará Paz recebe essa triste notícia, logo pela manhã, a gente ficou sabendo que é um ex-companheiro dela, que não aceitava o fim desse relacionamento e que ceifou a vida dessa mulher, tirou a vida dessa mulher porque não aceitava, porque ela não queria mais ficar com ele. A gente fica triste porque esses homens maltratam tanto as mulheres. Eles batem, xingam, estupram e querem obrigar as mulheres aceitarem isso e ficar com eles”, disse Diane, que acrescentou:
“Eu sempre falo, que a mulher, pode até demorar a tomar alguma decisão, mas quando a gente dá um basta, a gente não vai mais querer. Não vai mais aceitar ser humilhada, agredida, espancada e levando facada. A mulher cansa, mas ele se acha, que a mulher aceitou a primeira vez o tapa, tem que ficar aguentando as porradas, porque ela tem que fazer o que ele quer, tem que ser do jeito dele, e ainda, acha que a mulher é um objeto e propriedade dele, como foi esse caso”.
Para Diane, isso ficou muito demonstrado neste caso, onde o assassino não se importou em praticar o crime à luz do dia, em plena via pública.
Órfãos do feminicídio
A coordenadora do Pará Paz chamou a atenção para outras situações geradas pela violência doméstica e pelos crimes de feminicídio, que são os filhos do casal que ficam sem mãe, e longe do pai, que vai preso.
“São os órfãos do feminicídio. Como a gente fala. Imagina o psicológico dessa criança e da família. Porque a violência doméstica não atinge só aquela mulher, ela envolve toda a família. Mexe com todo sofrimento de uma família. Então, fico pensando na dor que a mãe dessa moça deve estar sentindo, que os irmãos, que a família dela deve estar sentindo nesse momento, pois era uma pessoa jovem, com toda uma vida pela frente, que teve a vida tirada assim de uma forma tão cruel”, expôs Diane.
A importância de ficar atenta e denunciar
A investigação avança e a polícia apura o fato de Joel ter sido visto dentro do supermercado onde a vítima fazia compras, minutos antes de ser morta.
Castro alertou sobre os traços e características da violência contra mulher, que devem ser observados com atenção.
“Por que eles ficam perseguindo, insistindo que volte, insistindo que queira e mulher não quer, entendeu, eles não aceitam, muitos param até mesmo de trabalhar, não vão trabalhar para ficar perseguindo essa mulher. Fico pensando no desespero dela, sabe, na dor que ela passou, na agonia que passou naquele momento, é muito triste”.
“Se continuar perseguindo, se continua indo atrás. Pede ajuda. Vem aqui no Pará Paz, e pede medida protetiva, pois quando há quebra da medida, descumprimento por parte do agressor, ele vai direto para o presídio. Então a gente tem que estar se fortalecendo, porque a gente acredita que ele não vai fazer nada, mas a gente não conhece o coração do outro, a gente não sabe o que o outro está pensando. Temos que ter cuidado e procurar a delegacia, procurar a polícia”, finalizou Diane Castro.
Por Baía
O Impacto