Pistoleiros invadem comunidade indígena e liderança sofre tentativa de homicídio, no nordeste do Pará
Uma comunidade indígena foi alvo de invasão, ameaça e tiros na madrugada da última sexta-feira (30), por volta das 2 da manhã, em Tomé-Açú, região nordeste do Pará. Um grupo de três indígenas seriam os responsáveis pelo atentado, no local estavam crianças e mulheres, mas ninguém ficou ferido.
Segundo a Cacica Miriam Tembé, liderança da região e uma das vítimas da tentativa de homicídio, o crime foi motivado por outro grupo indígena que deseja tomar a força as terras para o cultivo e venda clandestina de frutos de dendê.
O crime ocorreu na comunidade I’ixingem, localizada no KM 1 do Ramal Vila Socorro. No local, estariam dormindo crianças e mulheres que correram para a mata quando o trio de indígenas chegou e começou a disparar balas de fogo em direção ao barraco central da aldeia. Ninguém ficou ferido.
A cacica revelou que só conseguiu se livrar do tiroteio, pois 15 minutos antes do atentado havia saído do local, mas que a comunidade corre perigo e os próprios familiares seguem sendo ameaçados de morte.
“Por 15 minutos após a minha vida não foi ceifada, eles querem a qualquer custo me matar”, declarou Miriam Tembé em vídeo divulgado nas redes sociais.
Após o ataque, a comunidade identificou que uma das balas atingiu o banco do passageiro do veículo do irmão da cacica, espaço onde ela sempre costuma andar quando se desloca para o centro da cidade.
Em relato a polícia, Miriam destacou que essa não foi a primeira vez que foi atacada, no dia 14 de dezembro, outro atentado também teria sido orquestrado pelo mesmo trio de indígenas, e que na ocasião, o próprio carro da cacica teria sido depredado, por isso estaria utilizando o veículo do irmão.
Segundo Miriam, o grupo de invasores faz uso de forte armamento, incluindo armas com laser e tem um quantitativo de aproximadamente 100 pessoas, entre indígenas da comunidade Tembé, aliados a pistoleiros, atravessadores e compradores do fruto de dendê, além de outras pessoas não indígenas.
Nas redes sociais, a Cacica divulgou um vídeo em frente a divisão de homicídios em Belém, depois de realizar o boletim de ocorrência. Ela detalha que já oficializou as denuncias a todos os órgãos competentes e que em nenhum momento houve medidas de proteção a comunidade afetada.
“Se eu tiver a minha vida ceifada, o meu sangue estará nas mãos de todos os que eu denunciei e em nenhum momento tomaram providências. A vida do meu povo, da minha aldeia corre sério risco!”, afirmou Miriam Tembé.
No dia do atentado a polícia militar, força nacional e polícia federal teriam ido até o local para saber detalhes do que estava ocorrendo, porém segundo a vítima nada fizeram.
Desde outubro de 2023 a Força Nacional vem atuando na região para contenção de conflitos por terras. O prazo de permanência vence nesta quarta-feira (3), mas segundo o Ministério Público Federal, a tensão ainda é muito alta na região.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informou que atua, dentro das suas atribuições, na região e que após o registro do caso, tendo em vista tratar-se de conflito entre dois grupos indígenas e no interior de seus territórios, foi comunicado ao MPF e PF.
A Secretaria de Estado dos Povos Indígenas – SEPI, também informou que acompanha a situação e trabalha na mediação, em conjunto com órgãos estaduais e federais. O órgão destaca que busca uma nova reunião com as lideranças envolvidas para auxiliar na resolução da situação.
A Polícia Federal, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) também foi procurada, mas não havia dado retorno até a publicação da reportagem.
Fonte: G1 Pará