Audiolivros ganham impulso e podem virar prioridade nas editoras em 2024

Viola Davis levou um prêmio Grammy em 2023 na categoria melhor audiobook, ao narrar sua biografia “Em busca de mim”. Meryl Streep já emprestou a voz para os livros “Tom Lake”, de Ann Patchet, e “Amor é fogo”, de Nora Ephron.

Essas são iniciativas nos Estados Unidos, onde o mercado de audiolivros é consolidado, mas servem de exemplo para o Brasil, onde a onda deve crescer em 2024.

Segundo Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro, dos 13 mil títulos digitais lançados em 2022, 12% eram audiolivros. A parcela, apesar de pequena, é celebrada.

“Com esse aumento de oferta, nós conseguimos despertar o interesse para novos formatos. O livro físico sempre vai existir, mas você tem a opção do formato de e-book e de audiobook.”

A voz dos famosos

Os livros narrados por nomes famosos não chegam a ser novidade. Muita gente pode lembrar do Cid Moreira lendo trechos da Bíblia ou Ana Maria Braga narrando “O Segredo”. Para quem não tem ideia do que se trata, é simples: vozes conhecidas (ou não) gravam a narração de livros que se tornam CDs, fitas cassetes e, agora, áudios de streaming.

Agora, com plataformas de streaming, eles estão nos celulares e as pessoas já se habituaram a ouvir conteúdos narrativos – como podcasts – enquanto fazem outras atividades.

A partir de 2018, ferramentas mais elaboradas focadas nos audiolivros e formaram uma primeira onda mais consistente para o desenvolvimento do mercado por aqui. São aplicativos como Ubook, Storytel, Skeelo e Tocalivros que oferecem títulos em áudio.

Outro impulso veio com a chegada da Audible, da Amazon, no Brasil, em outubro de 2023. A plataforma disponibiliza mais de 100 mil audiolivros, sendo 4 mil deles em português, dentro da assinatura (R$ 19,90). Outros 500 mil títulos podem ser comprados de forma avulsa.

Dos 13 mil títulos digitais de 2022, 12% eram de audiolivros. “Com esse aumento de oferta, nós conseguimos despertar o interesse dos leitores para novos formatos. O livro físico sempre vai existir, mas hoje você tem a opção do formato e-book e audiobook”, diz Sevani, da Câmara Brasileira de Livros.

“O audiobook é uma ferramenta acessível às pessoas com alguma deficiência visual. Você aumenta o acervo para esse leitor e mais pessoas que tem interesse em consumir mais literatura.”

Sevani diz ainda que a instituição, que organiza o Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura nacional, acompanha o crescimento deste mercado de perto. Ele não descarta a inclusão de uma categoria voltada para audiolivros.

Como formar ouvintes?

O momento ainda é para formar leitores-ouvintes e a qualidade do produto pode ajudar nisso. “Se você nunca ouviu um audiolivro, escuta e é ruim, você nunca mais vai voltar”, diz Marina Pastore, da Companhia das letras. “Não deixa de ser uma forma de marketing: se o ouvinte gostar, ele pode se interessar em comprar o livro.”

Marina ainda lembra que para manter a qualidade é preciso mais investimento: produzir hoje um audiolivro sai caro. Além disso, não há dados suficientes para entender quais os gêneros que mais agrada o público.

“A primeira seleção de títulos [na editora] foi bem difícil, porque a gente não tinha nenhum parâmetro sobre o que o brasileiro queria ouvir”, diz Marina. O jeito foi se basear na lista de e-books mais vendidos. Segundo ela, o catálogo é diverso e “para testar”.

Com os custos mais altos do que a produção de um e-book, o movimento é encarado como um investimento a médio e longo prazo.

Para os audiolivros, a conversão é mais complicada e vai além de escolher uma voz para fazer a leitura. Envolve pesquisa de pronúncias, sotaques e entonações. Às vezes, é preciso mais de uma voz para a narração, horas e horas dentro de um estúdio, correções, masterização… e tempo.

“Se surge qualquer dúvida durante a gravação precisa pesquisar: vamos atrás do autor, se for o caso, quando é um escritor de língua estrangeira, vamos atrás de alguém falante”, diz Marina. “Estava preparando ‘Judas’, do Amos Oz, que tem infinitos termos em hebraico e não tem como escalar ou acelerar a produção, tem que pesquisar termo por termo, e isso pode levar semanas.”

Os catálogos vão ficar maiores?

A Companhia das Letras, segundo Marina, mantém uma equipe para tomar conta dessa produção. Eles trabalham com estúdios parceiros e acompanham desde a escolha do narrador até a masterização. “A gente tem mais ou menos como regra que cada sessão de gravação de três horas, conseguimos fazer trinta páginas de um livro médio.”

A empreitada na editora começou em 2018, com trinta títulos. Hoje, eles já estão com 210 audiolivros. “Comparado com o nosso catálogo de 6 mil livros, ainda é pouco, mas estamos trabalhando na produção.” Entre os projetos estão “Sapiens”, de Yuval Harari, narrado por Antônio Fagundes, e “Minha história”, de Michelle Obama, com Maju Coutinho. “É um baita investimento de marketing em cima disso para as pessoas saberem que existe.”

Outro desafio é saber em qual gênero de livro investir. Por enquanto, as editoras vão tateando com dados próprios. Na Record, já são 300 livros produzidos, sendo que mais de 100 foram feitos em 2023. Para 2024, a expectativa é aumentar para 150. A editora investiu em um estúdio próprio para esta produção.

“Virou uma etapa do trabalho de nós, editores de livros, acompanhar casting de voz. Além de escolher os textos, pensar na capa, precisa pensar nisso também”, diz Cassiano. “A gente ainda não sabe, mas é possível que o audiobook acabe funcionado como uma ferramenta de marketing.”

Fonte: G1

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