“Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, ganha nova edição
A obra máxima de Graciliano Ramos, Vidas Secas, ganha nova edição pela Editoria Todavia. O relançamento faz parte de uma iniciativa que reedita a obra do autor após sua entrada no domínio público.
Escrito em 1938, Vidas Secas, um dos maiores expoentes da segunda fase modernista, o regionalismo, com uma estética fragmentada que se permite ler cada um dos seus treze capítulos de forma independente, retrata a vida de uma família de retirantes no sertão nordestino e as adversidades que enfrentam como a seca e a exploração, expondo as desigualdades sociais presentes na região.
A nova edição é supervisionada pelo pesquisador Thiago Mio Salla, doutor em Letras e Ciências da Comunicação, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e estudante sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos há mais 15 anos. Íntimo da obra do autor e conhecedor dos arquivos e documento do “velho Graça” na Biblioteca Brasiliana. A reedição trará em si uma edição crítica, com escritos de Antônio Cândido, um dos mais importantes nomes da crítica literária brasileira.
Para Thiago, as notas de Antônio Cândido foram escolhas óbvias “porque é o grande crítico literário do nosso país e aquele também que definiu as balizas de compreensão do próprio Graciliano”, justifica. “Existe um Graciliano antes e um depois de Antonio Candido. Nada mais conveniente que trazer o Candido a essa versão”.
Além do posfácio por Antônio Cândido, a edição traz notas sobre o processo de escrita e criação do romance, desde seus primeiros manuscritos até sua versão final, datada de 1952, o que permite aos leitores uma compreensão das ideias e mudanças do autor.
A entrada em domínio público da obra de Graciliano gerou reações diversas. Para Thiago, essa quebra de monopólio significa um maior acesso e ampliação do alcance da obra e do autor.
“Isso, obviamente, pode resultar em edições que não são tão bem cuidadas. Mas tem o outro lado, que você abre a possibilidade de novas boas edições também entrarem em circulação, e para que o nome do autor continue vivo e presente na vida de todos nós”.
Outra que compartilha da opinião de Thiago Mio Salla é Stéphanie Roque, da Companhia das Letras. Para ela, as oportunidades abertas pelo domínio público tornam a obra do alagoano mais democrática e acessível, algo que agradaria ao próprio autor.
“Graciliano era um revisor muito rígido da língua, e tinha o mesmo rigor ético com suas personagens tão marcantes socialmente, de fora do eixo sudestino. São livros que vão reviver com novas leituras neste nosso contexto de pensar identidades”, finaliza.
Por Rodrigo Neves
Imagem: Reprodução/Editora Todavia
O Impacto