Estiagem ameaça paralisar transporte de grãos no rio Tapajós
A forte estiagem que afeta o rio Tapajós já reduziu em 50% a capacidade de transporte de grãos, e há risco de paralisação total das operações já na próxima semana, segundo Flavio Acatauassú, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport). Ao Grupo Liberal, Acatauassú afirmou que há uma “grande probabilidade” de paralisação das operações “já no início da próxima semana”.
Ele informou que o nível das águas do Tapajós recuou 39 cm na última semana e, caso continue a diminuir, a navegabilidade será inviável. “Os comboios necessitam de 2,20 m de lâmina d’água nos pontos mais rasos do rio para permanecer navegando”, explicou Acatauassú. A estiagem já interrompeu, desde a semana passada, o transporte de graneis sólidos e líquidos no rio Madeira.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação de escassez hídrica na Bacia do Tapajós (PA) na última segunda-feira (23). Desde então, o nível das águas vem caindo rapidamente. O boletim de sexta-feira (27), aponta que o nível do rio em Santarém passou de 112 cm de segunda para 55 cm para esta sexta. Em Itaituba, a redução foi de 26 cm no mesmo período, caindo de 115 cm para 89 cm.
Estiagem impacta logística pelo Arco Norte
O rio Tapajós liga Itaituba, no sudeste do Pará, aos portos do corredor do Amazonas, como Santarém e Barcarena, escoando a produção do Mato Grosso. O rio Madeira, por sua vez, transporta produtos do oeste do Mato Grosso e Rondônia até terminais no Amazonas, como Itacoatiara. Ambos integram o Arco Norte, um importante corredor logístico que desafoga os portos do Sul e Sudeste.
Em 2023, os portos do Arco Norte, como Barcarena e Santarém, responderam por 33,8% das exportações de soja do Brasil em 2023 e por 42,5% dos embarques totais de milho brasileiro no ano passado, segundo dados do Anuário Agrologístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A paralisação pode não afetar tanto as exportações brasileiras, já que os produtores locais já embarcaram a maior parte dos grãos esperados para 2024.
Em 2023, prejuízo da seca foi de R$ 375 milhões
Acatauassú afirmou que o prejuízo financeiro da seca em 2023 foi de R$ 375 milhões, considerando a carga não transportada e os prejuízos para as cadeias correlatas, como a não geração de empregos e impostos. Com a paralisação iminente do Tapajós e o Madeira já fora de rota, os custos devem aumentar, em decorrência do desvio das cargas para corredores do Sul e Sudeste
À Reuters, um “lobby local de comerciantes de grãos”, atribuído à Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), confirmou que a redução na capacidade de transporte de grãos pelos portos do Norte elevou os custos para os exportadores. Apesar disso, eles apontaram que as empresas já haviam se preparado para enfrentar o cenário adverso, segundo a entidade.
Fonte: O Liberal
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