Entrevista – Peninha fala de legado, analisa desafios e as perspectivas para futuro da política em Itaituba
No último dia do ano de 2024, a reportagem de O Impacto entrevistou o polêmico e corajoso vereador Peninha, que soma 9 mandatos como vereador em Itaituba. Duas vezes presidente da Câmara e o grande mentor da divisão territorial de Itaituba, criando os municípios de Jacareacanga, Novo Progresso e Trairão. Acompanhe:
O Impacto: Vereador Peninha, como o senhor analisa as eleições municipais de Itaituba 2024?
Peninha: Foi uma eleição muito disputada, onde na minha análise o grupo comandado pelo prefeito, mesmo elegendo o seu sucessor, não pode contar com mais de 40% dos votos, pois se formos ver, o candidato do prefeito Nicodemos Aguiar obteve pouco mais de 39 mil votos e os outros candidatos juntos somaram mais de 50% dos votos. Por exemplo, o Wescley Tomas obteve mais de 25 mil votos. O Ivan D’Almeida obteve mais de 4.500 votos. Juntos, só estes dois candidatos somam mais de 50% e ainda temos a abstenção de mais de 30 mil votos. Na eleição do Valmir, ele obteve mais de 42 mil votos.
O Impacto: O que faltou para o seu candidato Wescley Tomas ganhar as eleições em Itaituba?
Peninha: Veja bem. O Wescley estava bem na campanha, tanto que as pesquisas mostravam a vantagem dele sobre o candidato do prefeito. Ocorre que nos 30 dias finais da campanha, a máquina pública entrou em funcionamento. Ameaça a funcionários, asfalto e obras para todo lado. Governador vindo aqui prometer várias obras. Ministro veio aqui prometer o residencial do programa Minha Casa Minha Vida e isto fez com que o candidato do governo crescesse. Somado a tudo isto, temos que levar em consideração que a carência da nossa população facilita a troca do voto. Isto aconteceu muito nesta última eleição em Itaituba.
O Impacto: Em decorrência do uso da máquina pública, como o senhor falou, existe alguma ação na justiça eleitoral?
Peninha: Sim. O Ministério Público Eleitoral entrou com uma ação contra o prefeito Valmir Climaco de Aguiar e a chapa formada por Nicodemos Aguiar, candidato a prefeito e Dirceu Biolchi, candidato a vice. A ação é porque o município, editou, no dia 3 de setembro, praticamente 33 dias antes das eleições, um decreto prorrogando o contrato dos servidores temporários do município. Isto é vedado pela legislação eleitoral. E foi editado pelo prefeito, exatamente para angariar votos junto aos mais de 1.800 servidores temporários e seus familiares. Inclusive é bom ressaltar que já existem condenações de candidatos por este abuso político e administrativo. Além deste, existem muitas provas da ameaça contra servidores municipais, principalmente temporários. No Ministério Público do Trabalho já tramita uma ação contra o prefeito por ter, em uma reunião, praticado assédio eleitoral contra servidores.
O Impacto: O que o senhor e os demais membros da sua coligação esperam desta ação?
Peninha: Veja bem, nossa justiça, não de Itaituba, mas do Brasil, infelizmente é muito lenta. Os processos demoram, mas acreditamos que em breve serão julgados todos os processos que tramitam na justiça eleitoral da 34ª zona eleitoral de Itaituba. Diga-se de passagem, o juiz eleitoral é muito correto em suas decisões, tanto é, que presidiu as eleições com muita imparcialidade. Tem dado decisões em cima da legislação eleitoral, por isso, esperamos que julgue estes processos, punindo os responsáveis pela prática de crimes eleitorais em Itaituba.
O Impacto: Sua eleição, o que houve para não alcançar o 10º mandato?
Peninha: Uma boa pergunta, que talvez muita gente queira saber. Veja amigo, eu até alguns meses, estava filiado no MDB. Mas não estava sendo prestigiado, valorizado. Para ter uma ideia, durante este mandato do prefeito Valmir Climaco de Aguiar, não consegui indicar um emprego na prefeitura. Nem de vigia, nem de servente. Ninguém acredita né? Mas é a pura verdade. Sempre que falava com ele sobre o nome que indicava, a resposta era que não tinha emprego na prefeitura. Isto desgasta qualquer político, porque todo mundo sabe que os vereadores mais chegados do prefeito indicaram muita gente, que prefiro não citar por ética e respeito, mas é a realidade. Os secretários municipais não nos atendiam. Como exemplo posso citar as comunidades de São Luiz do Tapajós, KM 22, Pedra Branca, onde tinha (tenho) amigos. Entretanto, os outros vereadores conseguiram emplacar professores, serventes, vigias e etc. Além do emprego, que muito ajudou e ajuda os candidatos, a máquina pública municipal abriu as portas para os candidatos a vereadores mais ligados ao prefeito. Veja, na saúde. Usando a máquina da saúde, se elegeram 5 vereadores. Eu, para encaminhar alguém para qualquer procedimento na saúde, não tinha espaço. As pessoas com isso passam a desacreditar no político, por isso os candidatos preferidos do prefeito se elegeram usando a máquina da saúde, educação, infraestrutura, social e etc. Outro fato que pesou muito na minha candidatura foi que muita gente que me apoiava saiu candidato, tanto aqui em Itaituba como para outros municípios. Também a minha saída do MDB pesou um pouco, porque tinha muitos eleitores que fazem parte do governo (tem cargo), não me apoiaram nestas eleições.
O Impacto: E o que o senhor acha da nova câmara de vereadores de Itaituba?
Peninha: Espero que os eleitos e reeleitos façam mais do que os que já passaram pelo poder legislativo municipal. Veja bem, cada mandato, se renova a esperança de mudança para melhor, não é isto? Pois bem, só haverá mudança se todos juntos trabalharem por esta mudança. O senhor acredita que isto ocorrerá? Na campanha os candidatos prometem tanta coisa, sem noção do que compete ao vereador. A começar por emprego. Grande parte das pessoas que apoiam os candidatos a vereador querem emprego, caso seu candidato seja eleito, e isto dificilmente vai ocorrer. Aí começa o descontentamento do eleitor com o candidato a vereador que o elegeu. Outra questão são os pedidos de obras. O vereador mais próximo do prefeito consegue algumas obras nas suas comunidades, todavia nem todos conseguem obras e isto revolta o vereador. O que temos que ficar atentos é ver se algum vereador terá coragem de denunciar, criticar a administração municipal. Porque no caso de irregularidades, se os vereadores ficarem calados, pagam caro esta omissão. Isto ocorre com a gente. Ser vereador, meu caro repórter, não é fácil. Tem que viver o mandato para saber.
O Impacto: E a campanha para governador, o que o senhor está pensando?
Peninha: Olha, tenho uma amizade muito grande com o deputado Wescley Tomas, meu candidato a prefeito, e devo apoiá-lo para deputado estadual. Inclusive, vamos fazer agora em 2025 um grande trabalho em Itaituba e na região. Com relação a governador, temos que esperar para ver os candidatos. Estes dias recebi uma ligação de Belém de um grande amigo meu pedindo meu apoio para o Jatene, fiquei até surpreso porque pensava que o ex-governador não ia mais se meter em política. Mas é um bom nome. Tem história no Pará e em Itaituba. Foi quem construiu o Hospital Regional em Itaituba. Tem o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel, que também está se lançando candidato. Estou conversando com o pessoal do Daniel. Tudo é possível. É muito cedo para dizer que vou apoiar A ou B.
O Impacto: E agora, qual o futuro do Peninha?
Peninha: Pois é, muita gente, principalmente o pessoal ligado ao prefeito está enganado com o Peninha. Minha história é longa e de muita luta. Para conseguir 9 mandatos não foi fácil. Atravessar muitos abismos, que hoje poucos que moram aqui sabem. Coragem, determinação, são marcas do Peninha. Mesmo sem mandato, vou continuar como cidadão e fiscalizando a coisa pública, que, aliás sabia que quando a gente está do lado de fora do poder, enxerga mais, e isto vou fazer. Uma coisa que é um orgulho pra mim e minha família é que não respondo nenhum processo judicial ou civil, e olha que durante minha vida política, 36 (trinta e seis) anos, tive oportunidade de como vereador, ser presidente da câmara de vereadores por duas vezes, secretário municipal, superintendente do DETRAN e graças a Deus tenho uma carreira exemplar. Onde passei, deixei minha marca. Agora estou só vendo e ouvindo. O futuro a Deus pertence.
O Impacto
Fico pasmo de lê de um político que uma das razões pra não se reeleger é que não conseguiu emprego pra ninguém, na prefeitura. É muita falta de vergonha. Então, nesses 9 mandatos ele fez da Prefeitura de Itaituba um verdadeiro balcão de emprego pra supostos eleitores, é isso?
Que nunca mais seja eleito e procure trabalhar na iniciativa privada. Foram 9 mandatos às custas do dinheiro público. Bolsonaro fez escola.